RECEITAS

Carreteiro: a comida de uma panela só, de todos os dias, da vida inteira

Arroz carreteiro, arroz de carreteiro ou, apenas e mais frequente: carreteiro. O prato que mais faço no dia dia pode ser elaborado de tantas formas que, quando me dei conta de que não havia pelo menos uma única receita aqui na Casa Baunilha para homenagear esse prato perfeito, corri para registrar o carreteiro que fiz hoje mesmo no almoço.

Quando o carreteiro entra na nossa vida, não queremos saber de outra receita. É uma comida afetiva, que faz parte da tradição da cultura gaúcha do Rio Grande do sul, mas que pode ser feita em qualquer lugar do mundo, variando os ingredientes a fim de se adaptar a nossa rotina, condições econômicas, paladar e disponibilidade dos alimentos.

O carreteiro, em sua essência, é arroz e carne cozidos juntos ou, historicamente falando, uma carne como o charque e arroz, ambos alimentos que não precisam de refrigeração. Esses ingredientes alimentavam os tropeiros, pessoas que atravessavam o país levando cargas, bem como o charque e o arroz para se alimentarem durante a jornada. Daí o surgimento do carreteiro.

É uma ótima receita para aproveitar as sobras do churrasco ou outra carne que você tenha em casa. E há quem goste de deixar secar a água do cozimento para criar a rapinha do fundo, ou deixar bem molhadão. Meu pai gosta de queimar açúcar antes de pôr a carne e o arroz. Fica de outro mundo. Eu adoro acrescentar legumes como couve-flor, vagem, pimentão, ervilha congelada. Há quem use banha de porco. Alguns gostam de batata palha para acompanhar.

Hoje, a receita teve:

  • carne de porco picada;
  • arroz branco e arroz cateto (também chamado de japonês), juntei os restos que tinha;
  • pimentão vermelho picado;
  • cebola picada;
  • alho inteiro, com casca, apenas amassado;
  • um pouco de extrato de tomate;
  • um pouco de cerveja;
  • lascas de queijo azul de Minas;
  • curry em pó;
  • páprica defumada em pó;
  • manteiga;
  • azeite;
  • azeite de oliva extravirgem
  • manjericão fresco;
  • tomilho fresco;
  • sal a gosto.

Preparo:

  1. Coloque a manteiga e o fio de azeite de oliva na panela.
  2. Doure a carne, mesmo que use as sobras do churrasco, pois libera as gordurinhas endurecidas pela refrigeração e o aroma do churrasco. Primeiro espalhe a carne pelo fundo da panela e deixe dourar sem ficar mexendo. Depois, sim, mexa tudo, espalhe novamente e deixe.
  3. Dourou? Deixe dourar mais. Queremos criar uma crosta no fundo da panela. Enquanto isso, acrescente os temperos em pó: o curry e a páprica defumada. Mexa bem e veja a crosta se formando no fundo da panela.
  4. Acrescente um pouquinho de extrato de tomate e misture bem. Isso criará mais uma camada de sabor à crosta que está se formando.
  5. Coloque a cebola e o alho. Mexa e deixe eles darem uma “suada”.
  6. Cebola transparente, é hora de entrar com o arroz. 1 xícara (de chá) para duas pessoas. Mexa para o arroz gelatinizar com as gorduras e pegar os sabores.
  7. Acrescente um pouquinho de cerveja, bem pouco, para secar e deixar o gostinho.
  8. Agora, sim, coloque a água. O dobro da medida de arroz.
  9. Coloque o sal e mexa bem para limpar a crosta do fundo e misturar todos os sabores.
  10. Cubra a panela com a tampa meio deslocada, para o vapor sair e a água secar – e evitar de borbulhar até em cima e sujar o fogão.
  11. Vá experimentando para ver se está cozido. Se estiver quase, acrescente os temperos frescos, o manjericão e o tomilho.
  12. Depois de servido no prato, coloque lascas do queijo azul de Minas.
  13. Finalize com um fio de azeite de oliva extravirgem e folhas de manjericão fresco.

Nota: Coloque um pouco de água a mais para ficar caldeado, molhadinho. Ou não, se você quiser que o carreteiro seque e crie a rapinha do fundo. Existe carreteiro que agrade a todos, caldeado e com rapa? Sim, ele acontece! Quando vemos que o arroz ainda não cozinhou totalmente mas não há água suficiente na panela para terminar seu cozimento e acrescentamos mais. Antes, prove como está de sal e, se necessário, dissolva sal na água que for acrescentar para corrigir o sal do carreteiro. Mas não mexa, apenas acrescente.

Dicas:

  • Cerveja: volta e meia tenho uma latinha aberta na geladeira que vou usando em várias receitas.
  • Panela: gosto de usar a de ferro pois confere um outro gosto à comida, que tem tudo a ver com a antiguidade e a rusticidade do carreteiro.
  • Salsinha e cebolinha picadas são os temperos frescos mais usados nos carreteiros daqui do Sul.
  • Queijo: usei o que eu tinha, então também pode ser o queijo ralado de saquinho, a muçarela, o que você tiver. Há quem não coloque queijo.Talvez a maioria.
  • Água: pode ser fervente para acelerar o processo de cozimento, pode ser em temperatura ambiente.

Cria o teu carreteiro e vem aqui contar como ficou ; )

Fotos e texto de minha autoria, Juciéli Botton, para a Casa Baunilha.

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