Mulheres que inspiram,  Vida e Carreira

Mulheres que inspiram: Betty Davis

O Google insiste que eu fale sobre a Bette Davis atriz branca dos anos 40. Mesmo quando eu procuro por Betty (com Y) Davis singing ele mostra a Bette atriz cantando. Chega a ser irritante. E só reforça a dificuldade que Betty Davis, cantora negra e primeira nasty gal que este mundo viu, enfrentou na sua época e que certamente, do jeito que a coisa anda hoje, continuaria a penar para ser quem ela é: ousada, inovadora no seu funk-rock, sem medo de expor sua sexualidade e de dizer o que pensa e o que quer. Como ela mesma disse um dia, “Sou muito agressiva no palco e os homens não gostam de mulheres agressivas. Eles gostam das submissas ou das que fingem ser submissas”. Que vontade de abraçar ela hoje e dizer “Betty, você não estava sendo agressiva, você estava sendo você, você estava sendo mulher, você estava sendo um ser humano”.

Hoje, dia 26 de julho, a rainha do funk, essa mulher que quase não se explica, completa 72 anos e entra para a lista de Mulheres que Inspiram do blog.

 

 

Ela era modelo e DJ muito antes de assinar com uma gravadora, mas sempre escreveu e gravou suas próprias músicas. Ela era realmente à frente do tempo. Uma personalidade hardcore pra época. Sua voz é tão poderosa que, segundo críticos, faz Janis Joplin parecer cantora de coral natalino. Ela definitivamente transformou o panorama da música para muitas mulheres, só que muito tempo depois. Enquanto escrevia e gravava e produzia seus álbuns, no final dos anos 60 e início dos 70, ela não era tida como uma boa vendedora de discos. Agora é que sua relevância está sendo reconhecida pelas novas gerações que buscam referências e modelos de empoderamento – ainda bem.

Mas sua influência é percebida não somente nas gerações posteriores de mulheres cantoras – como Erykah Badu e Missy Elliot. Ela também influenciou profundamente o som do marido Miles Davis – daí o sobrenome dela. E isso está comprovado e sacramentado no álbum dos álbuns de jazz Bitches Brew dele, de 1970. Ela também encorajava ele a fazer parceria com Jimi Hendrix, com quem ela tinha uma forte amizade, mesmo o Miles desconfiando que os dois pudessem ser amantes.

“Eu queria que minha música fosse levada a sério”, dizia ela quando questionada sobre atuar na sombra do marido. “Eu não iria me transformar em Yoko Ono ou Linda McCartney”.

Mas Betty nunca ficou à sombra do marido que, aliás, sempre a incentivou. Betty simplesmente estava na época errada. As próprias rádios que incentivavam talentos negros faziam boicotes à sua música, e sua própria gravadora se recusou a lançar seu quarto disco. “Eu sou de cor e eles estão impedindo meu avanço!”. Betty não era pra qualquer um. Ou melhor, Betty não era pra um qualquer. Então, cansada, desiludida, sentindo que estava dando mais do que recebendo, ela se tocou para Pitsburgo, na Pensilvânia, pra viver uma vida discreta, criando uma aura de mistério chamada “o que aconteceu com a rainha do funk?”.

Pra mim, seus álbuns continuam emocionantes e energizantes e, sua figura, inspiradora. Não somente porque ela era tudo isso naquela época, mas porque ela ainda é nos dias do mundo de hoje. E pesquisando sobre sua vida, quando me deparei com uma artista que simplesmente disse “cansei”, primeiro pensei: poxa, onde estava toda aquela chama, aquele poder, aquele espírito inovador? Desistir assim? E por fim entendi que ela só estava continuando a ser o que era, a mesma Betty, a que enche o saco mesmo, que assim como não tinha amarras para dizer em suas letras o que gostava de fazer entre quatro paredes, também não teria para assumir qualquer mudança na carreira e na vida. Ela simplesmente continuou fazendo as coisas do seu jeito.

Por tudo isso, pela personalidade, pela obra, pela luta, pela trajetória e pelo estilo, ela é uma mulher que inspira.

 

As icônicas botas metalizadas até o joelho. Adoro essa foto. Adoro essa postura dela, essa pose. É contra tudo o que a gente sempre ouviu na vida que não se podia fazer. Parabéns, Betty!

 

Aqui, listo os 3 álbuns dela pra vocês pesquisarem e curtirem muito. Aliás, adoro os nomes deles. De cara (ou de capa) dizem muito sobre ela:

1973 – Betty Davis

1974 – They Say I’m Different

1975 – Nasty Gal

 

Fotos: Reprodução | Texto: Juciéli Botton para Casa Baunilha

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