
Esta foto eu fiz em um dos momentos de modificação da minha cozinha. Esta estante, que antes era dos livros, se tornou o balcão auxiliar no preparo das refeições. Eu tinha um abacaxi e ele foi a primeira coisa que coloquei em cima. Achei interessante a limpeza visual da composição e resolvi clicar. Daí comecei a pensar que, quando organizamos a nossa casa, realmente precisamos descascar um abacaxi. Precisamos, por exemplo, reconhecer ou, até mais apropriado, dar o braço a torcer que nem tudo que todo mundo tem ou faz é pra gente. Precisamos reconhecer que não vamos nos encaixar direitinho na maneira que nos disseram que é legal de se viver.
A questão toda não é sobre viver com menos. Acho que em termos de organização da casa e, por que não, da vida ou, por que não, ainda, mental, a gente precisa é viver com o que nos serve mesmo.
A geração dos meus pais acho que foi a última que vivenciou a exigência dos casais terem aqueles montes de equipamentos para a cozinha, como batedeira, balança, sopeira, processador (e como eles usavam aquele processador para moer carne!), se bem que hoje temos os juicer, as fritadeiras a ar, os mixer, as panelas e chaleiras elétricas, nossa, até mais traquitanas que antes, mas também temos a consciência de que não precisamos de tudo. E a configuração da casa também sofria com as exigências da sociedade. O imóvel precisava ter uma sala de visitas, que não acomodava a TV, aparelho que ficava numa segunda sala, a de estar, com os brinquedos das crianças, os livros, a bagunça do dia a dia. Comer na cozinha, então, isso não existia. O que existia era a sala de jantar. Nada de comer no meio da baderna resultante do preparo da refeição. Hoje, os imóveis que apresentam essas configurações recebem reformas que exterminam as paredes e integram tudo. Quem cozinha quer ficar junto e, se possível, que as pessoas apreciem o show do chef. Tudo mudou.
Só que a gente sai de algumas ditaduras para entrar em outras. E isso acontece em muitos aspectos da vida (como, por exemplo, a ditadura do cabelo crespo. Quem tem, não pode mais optar por alisar sem ser grosseiramente criticado, mesmo que alisar seja um desejo mega consciente). E no que se refere ao morar, a gente saiu da ditadura da casa comercial de margarina para a casa container, ou o guarda-roupa cápsula, ou as regras para se viver a vida com 33 itens, e por aí vai a condução da vida com quase nada.
Eu mesma já falei algumas vezes aqui no blog sobre o meu desejo e as minhas ações para viver com menos, uma vez que acumulo muita coisa na minha casa. Já acordei para o fato de que