Crônicas,  Vida e Carreira

Como atingir o estado nirvana do guarda-roupa?

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Eu juro pra vocês que fico constantemente tentando me livrar de coisas aqui em casa. Maaaas, quando o fim de ano se aproxima, dá aquela vontade que vem lá do fundo do meu ser de fazer uma revolução, descartar e doar boa parte das coisas que tenho e buscar uma vida que seja possível com menos. Pois agora, o meu foco é o guarda-roupa.

Alguns já sabem, eu moro em um apê pequeno – com menos de 50m², e não 200m² como algumas marcas e empresas de decoração gostam de classificar imóveis pequenos – pois justamente porque junto e coleciono coisas, achei que morando em um espaço contido eu teria que me esforçar pra aprender a viver com menos, e a valorizar qualidade e não quantidade. Então é assim desde que decidimos (meu namorado e eu) morar dessa forma.

Pois bem. Em um apê pequeno, quarto pequeno. Para um quarto pequeno, um guarda-roupa menor ainda. E dentro dele, duas partes, sendo que apenas uma é minha, e é dentro dessa minha que tento fazer mágica pra caber tudo. Meu sonho era abrir o roupeiro e enxergar 1 calça jeans, 2 camisas e 1 vestido. A sensação de limpeza mental que deve dar isso deve ser algo fenomenal. Só que não sei gente, essa coisa de que tem dia que você quer usar uma calça skinny, noutro uma pantalona, noutro um short, noutro uma saia, combinada com t-shirt, mas depois com blusa, e depois com camisa, arruína a vida. E não é só uma questão de querer, mas de se adequar a ambientes, situações e temperaturas.

Daí que eu amo camisa, e amo mais as de fundo branco com listinhas azuis. Daí um dia eu encontro uma só que de tecido molenga, que eu não tinha. Noutro dia dou de cara com uma de manga bufante que eu nem sabia que era possível. E por aí vai. Quando vejo, tem 4 camisas listradas suspensas no armário. Eu sei que pra alguns isso é pouco – e daí cada um com sua possibilidade e consciência -, mas pra mim já é crime, é poluição visual e mental, é mais tempo no tanque – não lavo minhas camisas na máquina, gente, sorry – , mais peças pra passar – lembra, passar roupa? esquenta aquele ferro e desliza no tecido. Enfim, atingir o estado nirvana do roupeiro não é fácil, mas eu quero muito. Não vou descansar enquanto não conseguir.

Faço qualquer negócio – hum… odeio essa frase, nunca é bem assim. Já tô no segundo livro de arrumação da Marie Kondo – lembram que eu falei do primeiro nos posts aqui aqui? Leio blogs, revistas, escuto especialistas. Sempre coloco em prática tudo que aprendo. Elimino toneladas. Só que lá pelas tantas, quando vejo, tem coisa querendo cair da prateleira de novo.

Até que, lendo o blog da Leandra Medine, uma das mulheres que me inspiram por sua irreverência e humor – nesta postagem vocês podem ver no que mais ela me inspira, e não é no consumismo -, me deparei com uma frase que brilhou como uma luz radiante e reluzente e cintilante, branca mesmo, até me cegou. Era algo como:

Atingir o nirvana do guarda-roupa é a habilidade de você colocar uma venda nos olhos e se sentir satisfeito [ e seguro ] com qualquer peça de roupa que pegar dali pra vestir.

Frase pá! Sim? Poxa… soquinho na cara. Adoro uma roupinha de ficar em casa, e daí eu fico como, depois dessa frase? Reparem que eu acrescentei o *seguro* porque né, gente, vendar os olhos e vestir qualquer coisa que tem ali… vou sair pra um compromisso com o moletom dos Backstreet Boys. Brincadeira. Já descartei ele faz tempo. Juro.

 

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Outra coisa bacana que ela disse é que organizar/descartar tem a ver com o quanto você gosta de você, se é que você gosta de você. É uma forma de respeito para com a nossa vida (quando a gente escreve *para com* parece que já vencemos a batalha da argumentação, né?) É pura identidade manter somente as coisas que gostamos, que nos representam, pois é um exercício que pode nos ajudar a descobrir quem somos – não é fácil descobrir quem somos.

E se tem algo que me motiva a fazer a limpa é poder doar. Gente, eu juro que nunca vendi nada das coisas que me livrei. Sempre repasso adiante todas, e para a caridade. De jaqueta de couro a livro. Saber que tem gente que vai poder se beneficiar é maravilhoso. Pra mim, sempre foi muito ruim tentar vender as coisas. Os motivos: 1) porque não vai chegar ao mais necessitado. 2) porque provavelmente a pessoa que comprar também estará atrolhando o próprio guarda-roupa, pois deve estar cheio de coisas também. 3) é difícil quantificar uma peça que já era minha, seja por apego, sentimentos, se não foi usada ainda, se veio de um lugar especial, se foi presente. 4) daí eu finalmente chego num preço e a pessoa me pede desconto, ou seja, posso não receber o valor que queria. 5) a pessoa pede pra pagar depois mas, ao final das contas, ela não me paga ever. 6) mal-estar no relacionamento entre nós. 7) o dinheiro que recebi, provavelmente vou usar pra comprar mais, enquanto que a doação me injetaria o ânimo de descartar cada vez mais, dando aquela sensação de *como é bom ter aquele espaço na casa livre de novo*.

 

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Uma outra alternativa pra quem não quer trocar seis por meia dúzia, ou seja, vender o que tem pra comprar de novo, é o bazar beneficente. Dá pra ajudar quem precisa e também eliminar o excesso de vez.

E na verdade, pensando bem, é isso que eu tenho que avaliar no processo todo de desapego. Estou liberando espaço ou apenas querendo substituir? Essa é a grande questão. Peraí, quero um destaque pra essa frase também:

Estou liberando espaço ou apenas querendo substituir?

Pois substituir parece não resolver a questão. Eu quero muito ter menos coisas, ver os espaços livres e sentir que a energia está fluindo. O guarda-roupa é o espaço que mais reflete esse problema, porque nós todos temos nossas peças preferias e acabamos usando sempre elas. Ou seja, o resto fica estagnado. E substituir um item estagnado por outro que ficará parado não parece a solução – nem mesmo inteligente.

É disso que eu gosto no período de final de ano, o convite implícito pra eu repensar meus hábitos, minha vida, meu jeito de estabelecer as coisas. Eu não me importo de refazer minha opinião sobre as coisas e, fala sério, estamos falando de roupas. Elas não podem ter domínio sobre a gente. De vez em quando a gente tem que mostrar quem é que manda.

Não adianta me olhar com aquele olhar de *você estava me usando num dos momentos de superação da sua vida*, porque se eu decidir que eu mesma vou te superar, você já era, ouviu, boina pro frio? Vai ser feliz em outro lar e esquentar o coco de um alguém que te queira bem.

E vocês? Têm técnicas de descarte e doação pra dividir comigo? Alguém aí mantém uma frequência durante o ano pra fazer a limpa em casa? Alguma dica pra organizar roupeiros? Alguém já atingiu o nirvana no próprio guarda-roupa? Como? Quando? Onde?

 

Foto calçado e blusa: Juciéli Botton para Casa Baunilha | Texto: Juciéli Botton para Casa Baunilha

Foto Leandra Medine: Kevin Trageser para The Business of Blogging

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