Estamos no inverno. O pinheiro me impressionou. Não impressionou só a mim. Estive conversando, nestes dias, com uma pessoa e ela também gosta dos pinheiros, mais do que gosta, admira os pinheiros. Eu também, admiro.
O frio vem, e aí a neve, a geada seca as pastagens, faz as folhas das árvores caírem, tudo parece morrer, e o pinheiro continua verde, continua o mesmo. Passa um inverno, chega outro, e ele continua crescendo.
Já desejei ser um pinheiro. Não uma árvore, mas, uma pessoa semelhante a um pinheiro. Assim como poucas árvores conseguem conservar as folhas com o duro frio do inverno, poucas pessoas conservam o seu otimismo com os momentos frios da vida. E há muitos momentos frios, muitos invernos em nossa vida. Uma crítica é um vento frio que passa por nós. Um desprezo é uma geada que esfria e gela nossa vida. A falta de amor é uma neve que cai mansa gelando o coração. O ódio é um inverno sem fim.
Ser pinheiro na vida é não entregar-se por pouca coisa. É ser capaz de manter o otimismo no fracasso, ser alegre no desprezo, ser autêntico numa crítica, ficar impávido perante o ódio.
Ser pinheiro é continuar de pé, verde, olhando para o céu, crescendo sem desanimar, apesar do inverno. Ser pinheiro é não ficar criança. É crescer, tornar-se adulto. É não contentar-se em ficar do tamanho das outras árvores. É passar por elas e mostrar que acima delas há muito mais espaço para conquistar.
Ser pinheiro é não contentar-se em ser como a maioria das pessoas, que não aspiram grandes coisas, e se contentam com a mediocridade.
A natureza que nos cerca é uma lição para nós. Quem abre os olhos pode descobrir riquezas para sua vida. De tudo podemos receber uma lição. Basta ter humildade.
Foi isso que me ensinou o pinheiro. Ensinou muito mais mas não posso dizer tudo. E recebi esse ensinamento porque um dia parei. Parei o fuca na beira da estrada e fiquei olhando o campo imenso que tinha em minha frente, e acima de tudo, um pinheiro que, ao longe parecia conversar comigo. E eu conversei com ele. Desde aquele momento o pinheiro me cativou e fez parte de minha vida.
O inverno começou. O inverno vai tirar muita beleza. As folhas vão cair. Muito verde vai desaparecer. Não importa. Eu ficarei olhando os pinheiros que me ensinarão superar o inverno da vida, a frieza de muitas pessoas, a maldade do mundo…
(Minha vó querida, Santa Ignez, deixou este texto para mim, datilografado com letra de máquina, a folha já amarelada. Fique em paz, vó. Obrigada por tudo. Te amo).
Fotos de minha autoria, Juciéli Botton, para a Casa Baunilha.