A CASA,  antes e depois

Vida nova para a penteadeira antiga da vó

Minha avó se desfez da penteadeira. E como ela sabia que eu adoraria utilizá-la na minha casa, me presenteou com a peça – obrigada, vó Glaci. O móvel existe desde que me entendo por gente, faz parte de um conjunto com mais dois guarda-roupas, que ela também generosamente me deu.

Sempre fui encantada pela robustez e rusticidade da peça. Um móvel que transmite solidez, que praticamente fala: – Eu estarei aqui até o fim dos tempos. E também tem uma preocupação com os detalhes que conversa com a delicadeza, como os cantos arredondados, ou seja, um móvel que não tem intenção de te ferir, e o entalhe ornamental de ilustrações com inspiração botânica, de folhas e flores.

Embora tenha vários detalhes que poderiam receber uma restauração, de maneira geral a peça estava inteiriça. Os pés ainda são os originais, o espelho ainda permanece conectado à seção de baixo, ambas as partes ligadas por meio de uma fina peça de madeira, detalhe bastante delicado para um móvel de formas rústicas.

Considerando a sua integridade, a grande questão do móvel eram os puxadores. Na verdade, a troca de puxadores é um bom e velho truque para renovar uma peça sem grandes interferências.

No caso da penteadeira, o furo nas gavetas tinha aumentado para um buraco de tamanho considerável. Pesquisei muitos puxadores na internet mas sempre ficava em dúvida se as bases deles cobririam o buraco e também as marcas que os puxadores atuais tinham deixado no acabamento da madeira. Na foto bem da direita, o teste que fiz com uma peça extra, vendida como ‘base para puxador’, na esperança dela tapar os buracos e cobrir as ranhuras na madeira. Mas além de não cobrir os defeitos, ela ainda tirou o brilho do puxador pitanga. Um excesso de detalhes gratuitos – sem contar que a peça veio na cor mais para o grafite, sendo que comprei no bronze antigo para se aproximar do metal do puxador.

O puxador chegou maior do que eu imaginava, cobrindo os buracos satisfatoriamente. Segui apenas com a pitanga e ficou incrível. Visual mais limpo e valorizando a forma do puxador.

Tinha puxadores pitanga de todas as cores, muitas delas em falta enquanto o famoso bege estava disponível, cor que tem tudo a ver com a atmosfera da peça. Porque a questão não era modernizá-la, nem colocar puxadores que pudessem sumir no móvel como alguns metálicos. A ideia era trazer um frescor de vida nova para a penteadeira mas respeitando suas ruguinhas. O brilho molhado da cerâmica e a cor clara cumpriram o objetivo.

O próximo passo será colocar uma chave na fechadura. Embora ela não funcione, a presença do item traz a ideia de funcionalidade e de completude. Mais um detalhe para temperar o visual do móvel.

A presilha do espelho em formato de pata. Não aguento. São esses detalhes que me pegam. Já perdi um bocado de tempo procurando esse tipo para fixar o espelho de corpo inteiro que tinha no apartamento. Trabalho em vão. Os mais fáceis de se encontrar no mercado e que geralmente vem na instalação são aqueles bem volumosos, grosseiros, um pino alto e largo, de brilho ofuscante, talvez coberto por ródio, que nunca fica bom, torto e longe da parede, revelando o furo no reboco, o quadro da dor.

A penteadeira de madeira natural abraça arranjos florais de um jeito formidável. Quando usamos materiais provenientes da natureza não precisamos de muito esforço para que combinem. A palha do chapéu, a porta de madeira, o vidro do espelho e dos objetos sobre a bancada e até a cerâmica do puxador criam essa atmosfera aconchegante sem dar o menor trabalho. É só aparafusar, pendurar, apoiar, aproximar, aguar e pronto.

A penteadeira guarda o estoque de itens de higiene, a farmacinha, as joias e bijus, os itens de armarinho e costura e a necessaire de maquiagem. Uso muito pouca make e em situações específicas. Mesmo assim, separei meu combo de removedores sobre a bandeja de louça de um antigo galheteiro. Óleo de prensagem a frio de gergelim, soro fisiológico e algodão. Retirar a make é mais importante que colocar, por isso eles ficam sempre à mão.

A minha “véia”, Serena, a melhor diretora de arte. Achei que eu era exigente com detalhes mas ela está sempre de olho em tudo, em todas as produções e criações que acontecem em casa, não perde nada.

Fotos e texto de minha autoria, Juciéli Botton, para a Casa Baunilha.

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