Consegui realizar dois desejos: o de cultivar no jardim essa planta emblemática do conhecimento antigo, transmitido pela cultura oral através dos tempos, a Aloe vera, e o de efetivamente utilizá-la, quebrar o gelo do processo que precisa ser feito para aproveitar as propriedades medicinais da planta.
Antes de adquirir a muda, foi preciso saber identificar a Aloe vera dentre as várias plantas da família das babosas. É uma saga separar o joio do trigo no conteúdo sobre a planta na internet. E o pessoal da floricultura tentou vender a que não é medicinal como se fosse.
O que me salvou foi uma matéria a que assisti sobre a produção de Aloe vera em Aruba, na região caribenha. Vou deixar o link dela ao final da postagem. A seguir, algumas características da espécie medicial:
1) Uma Aloe vera na grande plantação em Aruba e 3) a que tenho no meu jardim. No estágio adulto, possui coloração uniforme, verde-clara, sem manchas e desenhos. A minha está mais bronzeada devido ao acúmulo de horas de sol pleno. As folhas novas crescem pra cima, as mais velhas abrem. Cresce rente ao chão, sem formar arbusto alto. O serrilhado na borda da folha é curtinho, enquanto em outras espécies é bem protuberante. 2) As pequenas mudas possuem manchas. 4) A flor é amarela. Enquanto o pendão é novo, as florzinhas ficam eretas. Depois, viram para baixo. Imagens: a foto 1 é de aruba.com. As demais fotografias são de minha autoria, da Aloe vera que tenho em casa.
Em Aruba, onde a economia gira em torno do turismo e dos produtos derivados da Aloe vera, as babosas crescem sob o sol pleno, desfrutando do clima árido. Mas muitos conteúdos na internet falam que é mito ela ter que crescer sob o sol pleno. Isso deixa qualquer um aflito na hora de escolher o lugar ideal para plantar.
O conhecimento que adquiri sobre agricultura e a investigação empírica que podemos praticar no nosso próprio jardim dizem que toda planta é resultado de um ambiente. Elas são do jeito que são por causa do lugar de onde são nativas. Mas existe uma coisa na natureza chamada resiliência. As plantas fazem de tudo para sobreviver, apesar das condições adversas. Antes de plantá-la no solo, a minha Aloe vera ficou sob o sol pleno, obtendo uma coloração alaranjada. Mas no lugar para onde foi transplantada vou acomodar outras folhagens que fornecem sombra, para preservar o verde característico e evitar que resseque nas pontas.
A minha Aloe vera ficou no vaso tempo suficiente para emitir o pendão de flor, secar as pontas das folhas e gerar mudas. A planta faz esses processos ainda no vaso porque percebe que não tem mais “pra onde ir”. Não tem espaço pra se desenvolver, os nutrientes acabaram, então entende que é o fim e que precisa se desenvolver de uma vez. Planta nenhuma gosta de estar em vaso. Como falamos, elas apenas sobrevivem. Nunca adquira muda em vaso que já tenha flores e frutos, de qualquer espécie. A planta provavelmente está com as raízes enoveladas, dando voltas, e decidiu encerrar seu ciclo de vida fazendo todos os processos rapidamente.
Assim como os demais seres vivos, as plantas têm o tempo certo de cada processo, de cada fase da vida. Para dar frutos, primeiro precisa crescer, ficar com cara de adulta, desenvolver a sua arquitetura completa. Desconfie daquele limão que cresce numa mudinha minúscula na loja.
Primeiro, cortei o pendão próximo da base. Assim ela para de gastar energia com o florescimento e foca no crescimento das raízes e das folhas. Depois rasguei o vaso, retirei a planta com o torrão, separei as mudas e arranquei as raízes enoveladas para não continuar enovelando, perdendo tempo e energia. Retirei as folhas mais de fora, as mais velhas e ressecadas. Depois do plantio, retirei as folhas para a obtenção do gel.
Plantei as mudinhas também.
Aproveitando o novo espaço. Esse transplante eu fiz em “dia de folha”, de acordo com o calendário biodinâmico.
Agora vamos ao gel de Aloe vera e ao processo de regeneração da minha pele. Antes de mais nada, não deixe de consultar seu médico sobre o problema que você esteja enfrentando e comente sobre a intenção de utilizar a Aloe vera, se for o caso. As informações sobre o processo que vou apresentar decorrem da minha experiência prática e do vídeo que consultei e que você pode conferir clicando aqui.
Eu tinha esse problema na pele da mão direita. Coçava muito. Nas fotos acima, o estado da pele antes de aplicar a Aloe vera, durante o processo (depois de um dia e uma noite de aplicação) e depois, quando melhorou totalmente. As aplicações ocorreram durante um dia e três noites.
O passo a passo:
Extrair a folha
Tem gente que corta a folha da babosa deixando um tanto ainda na planta. Eu não gosto de expor partes do interior dela. Retiro as folhas com a bainha de encaixe, a parte mais branquinha. É só dar um pique com a faca ou a tesoura na ponta lateral e puxar com cuidado para sair inteira. Duas folhas foram suficientes para preencher um vidro de 100 ml.
Eliminar a aloína
Nessa parte do demolho para eliminar o líquido amarelo da casca, que contém a tóxica aloína, tem gente que passa a faca na parte lateral para retirar os espinhos e fatia a folha em vários pedaços pequenos, para facilitar a saída da aloína. Eu já não gosto de ter que manipular tantos pedacinhos de algo escorregadio. Prefiro a firmeza da folha quase inteira para manipular. Vai da preferência e da necessidade de retirar a aloína ao máximo, caso apresente alguma reação na pele.
Então, depois de retirar a folha da planta, lavei e sequei com papel toalha. Cortei ao meio e mergulhei num copo com água mineral (pode ser filtrada, quanto menos cloro, melhor). Deixei na geladeira por 24 horas, mas pode ser mais. Enquanto preparava essa parte, passei um pouco da baba transparente no antebraço para ver se dava alergia. Para quem apresenta intolerância à aloína é bom considerar não usar.
As duas folhas cortadas ao meio e de molho na água, que foram descansar na geladeira por 24 horas.
Retirar o gel
1) Passadas as horas de descanso na geladeira, no vídeo de referência a água fica rosada/avermelhada. A minha não coloriu tanto e desconfio que seja porque as folhas não eram tão novas. Lavei e sequei. 2) Passei a faca nas laterais para retirar os espinhos e fiz um corte longitudinal pelo centro da folha. 3) Com uma colher, retirei a parte transparente. Dica preciosa: em vez de passar a colher profundamente e retirar o “filé” inteiro para depois ter que sujar liquidificador, processador, mixer para transformar em gel, raspei a colher como se fosse raspar a polpa de uma fruta para fazer uma papinha. Vai formando aquela baba. É só colocar no vidro e pronto. 4) Também tirei alguns pedaços inteiriços, que são úteis dependendo da necessidade da aplicação.
Tem gente que tira a casca bem rente à parte transparente para conseguir extrair o filé e lavar mais ainda para retirar qualquer resquício da aloína, e só depois bater no mixer. Como o meu teste no antebraço não indicou alergia (antes mesmo de fazer o demolho), apenas raspei a baba e guardei direto no vidro, pura, sem água. Essas escolhas vão muito do uso que faremos da planta. O meu objetivo é aplicar sobre machucados, picadas de insetos que fazem estrago na minha pele, dermatites de contato, esse tipo de situação.
Conservar o produto
Guardei em um vidro de 100 ml. 5) Escolhi um vidro âmbar que protege contra a luz. 6) Adesivei com o nome Aloe vera para melhor identificar. Também colei no verso a data da criação. Dura 30 dias na geladeira. Como o vidro tem boca larga, o produto oxida mais rápido. Também, por isso, a importância de renovar o estoque.
Aplicar sobre a pele
Na primeira aplicação, durante o dia, utilizei a baba e cobri com gaze para conseguir fazer as atividades:
Para a aplicação à noite, utilizei tanto a baba quanto um pedaço inteiriço e enfaixei para garantir que tudo ficasse no lugar:
Posicionei as gazes primeiro e depois passei a faixa. 99% da Aloe vera é água, então ela vai desidratando com o tempo. Por isso, um pedaço é interessante para a aplicação à noite, durando algumas horas sem reposição.
Fontes das informações:
Assista ao vídeo da Kayoko Takeda sobre o processo de extração do gel da Aloe vera.
Confira a matéria sobre a produção de Aloe vera em Aruba, na região caribenha.
Não esqueça de consultar o seu médico ; )
Fotos e texto de minha autoria, Juciéli Botton, para a Casa Baunilha.