A CASA

Um livro belíssimo para entender a Roda do Ano e os ritmos da natureza

Hoje é dia do equinócio de primavera. Mais um ciclo que se encerra e outro que começa. Por isso, quero compartilhar essa joia impressa, um livro voltado para o público infantojuvenil que explica a Roda do Ano. É de uma beleza única, as ilustrações são estonteantes e o texto é leve e amistoso. Não tinha como não garantir um exemplar.

A oferta de títulos que expliquem de forma aprofundada os ritmos da natureza, fazendo a relação com as culturas antigas, não é vasta. E em se tratando de obras que tragam a importância dessas mudanças na nossa vida com uma linguagem direcionada a crianças e jovens, a oferta é menor ainda.

A importância dos ritmos e ciclos da vida deveria ser ensinada a nós desde cedo, em casa, e reforçada nas escolas. Esses ritmos e ciclos naturais sempre foram familiares aos seres humanos, assim como o ritmo inerente das batidas do coração, da respiração e tantos outros a que estamos acostumados. Só que igual a muitos conhecimentos que já tínhamos, foi sendo deixado de lado, esquecido, estigmatizado, etiquetado como coisa de gente estranha, gente que vive isolada no meio do mato, os chamados bruxos.

Na verdade, a natureza é quem possui esses poderes. E como dizem meus professores de agricultura, não tem truque nem magia, só conhecimento e sabedoria. Nunca é tarde para redescobrirmos que somos, sim, seres naturais, que viemos da natureza – por mais que queiram que a gente acredite no contrário – e que ela é a maior e melhor mentora. Nunca é tarde para retomarmos a posse desse conhecimento, uma roda que já foi inventada e que sempre rodou muito bem, obrigada.

Quando o ser humano cultivava seu alimento, cultivava também a si mesmo. Compreendia de onde vinha, quem era e para onde ia. A vida tinha direção em vez de distração. E imagina se a gente tivesse cultivado amplamente esse conhecimento até os dias de hoje? Teríamos mais autonomia, seríamos mais saudáveis e não teríamos tantos novos problemas.

Fazer nos distanciar da nossa natureza, nos tornar ignorantes sobre os processos e os ciclos naturais, é nos fazer dependentes das “soluções” artificiais, aquilo que conserta os novos problemas. A gente sempre teve a solução pra muitas coisas, como plantar a nossa comida sem precisar envenená-la. Esse jeito de fazer tem milênios. A comida envenenada tem em torno de 60 anos, apenas.

A ideia de nos alimentarmos com veneno só triunfou graças a essa ignorância induzida. Passamos de seres sábios, altamente conectados com as soluções que têm a ver com a nossa constituição natural, para criaturas sem autonomia e dependentes de uma visão de negócio para resolver praticamente todos os nossos problemas, inclusive os pequenos, nos privando de nossa capacidade e poder criativo, imaginativo e realizador.

Por isso, esse livro cumpre um papel importante diante do público que nunca ouviu falar nisso e que inicia seus estudos sobre esse conhecimento. A obra traz o básico para entender que temos uma forte conexão com a natureza e suas mudanças, sejam elas sutis ou bastante perceptíveis.

E conhecer esses ciclos, acompanhar a passagem do tempo atento às constantes mudanças do mundo natural, celebrando as maravilhas que vêm delas e compreendendo a questão da impermanência, é reconhecer a nossa própria natureza cíclica. Muitas vezes estamos passando por períodos específicos, em que nos sentimos de determinada forma e mal sabemos que o que acontece dentro é reflexo do que está acontecendo lá fora.

Não sei se gosto mais das ilustrações ou das tonalidades das cores utilizadas. É tudo lindo nos traços da Jessica Roux.

O livro ainda teve a preocupação de orientar sobre as datas da Roda do Ano no Hemisfério Sul. A orientação solar muda tudo e algumas editoras não levam em conta esse fato na tradução das obras. Cabe a nós termos essa noção e, quando lermos um livro escrito no Hemisfério Norte, fazer a conversão.

Entretanto, em um dado momento é mencionado que depois do equinócio de primavera, no Hemisfério Sul, os dias vão ficando menores quando, na verdade, eles ficam maiores, pois vamos nos encaminhando para o verão. Mas esse fato não tira o mérito do esforço do livro em tornar o assunto das mudanças dos ciclos palatável para as crianças e jovens, atentando, também, para a beleza da natureza, seja na sua esfera física, perceptível, seja na sutil, espiritual, de conexão, de dependência e de gratidão a ela. O que invariavelmente nos leva à questão de cuidar dela da forma como merece.

Um bom equinócio – equilíbrio – para você.

Sobre o título: A Roda do Ano – A Linguagem Secreta da Natureza, de Fiona Cook e Jessica Roux. Com ilustrações de Jessica Roux. Edição de 2025 – a traduzida para o Português. Editora DarkSide.

Fotos e texto de minha autoria, Juciéli Botton, para a Casa Baunilha.

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