A CASA

Um ciclo que se fecha: encontramos nosso espaço

É difícil escrever sobre uma jornada que começou há uns 8 anos (talvez mais, talvez menos), cujo fechamento de ciclo me deixa extremamente feliz mas, se pegar a pontinha dessa felicidade toda e puxar pra cima, percebe-se por debaixo uma pessoa exaurida. Eu poderia ter obtido duas graduações nesse tempo. Mas, enfim, encontramos nosso canto no mundo. Compramos um terreno.

Também não é fácil admitir que estou saturada de pensar e falar sobre casa, razão de ser desse blog até hoje, que compartilha ideias sobre o habitar. Eu sonhei com a minha casa desde guriazinha. O sonho começou a se concretizar quando conquistamos o apartamento, que já adorávamos desde quando éramos inquilinos, alugando. Mas a casinha, com o Sol entrando, o quintal, a horta, as frutíferas, o jardim e os cachorrinhos correndo continuava povoando os sonhos.

A cada terreno que surgia à venda eu saía desenhando opções de planta baixa da casa para visualizar as possibilidades. A cada casa já construída que surgia para venda eu bolava um plano estratégico de reforma e modificações para o espaço atender as nossas necessidades.

Eu juro pra vocês que devo ter feito mais de 100 desenhos de casas. E a minha cabeça, sempre à frente dos acontecimentos, visualizava a gente morando naquele ambiente, imaginava onde ficaria cada coisa e como seria a rotina. Tudo isso sem saber se daria negócio mas ainda bastante confiante. A cidade, sendo pequena, me enganou e se mostrou muito difícil de fazer acontecer.

A oferta é pouca. Ou os imóveis estão caindo aos pedaços mas os donos querem fortunas ou os terrenos não possuem boa situação solar. Muitas vezes fomos ignorados, tanto por corretores quanto por proprietários. Vimos pessoas passarem na nossa frente e fazerem ofertas por imóveis que queríamos muito, sem ter recebido um aviso sequer para tentar cobrir a proposta. Noites mal dormidas.

Mas essa foi apenas a parte final dessa história que começou conosco procurando um lugar para chamar de lar em outras cidades.

Não somos negociadores natos nem temos anos e anos de experiência nisso. E o processo se torna extremamente desgastante quando somados o cansaço e a falta de prática.

Além de lidarmos com as negociações envolvendo vendedores, proprietários e compradores concorrentes, tínhamos que lidar com as nossas próprias negociações. Foram muitas as discussões, acordos, opiniões contrárias, desentendimentos, arrependimentos pelas palavras ditas nos momentos de exaustão, desgastes. Uma prova de fogo para um casal procurar uma casa por anos a fio.

Só que o que não é para ser nosso não será, não importa o quão arduamente a gente insista e se indigne por não conseguir.

O terreno onde estávamos prestes a construir a casa (cujo desenho já estava pronto) ter ficado debaixo d’água, para não dizer esgoto, na grande enchente de Maio no Rio Grande do Sul, foi um sinal que percebemos e aceitamos como um presente.

E assim seguimos na jornada da busca pelo nosso canto por mais esses últimos 8 meses.

Casa, casa, casa. O pensamento circular é extremamente tóxico. Não dá espaço para outros temas que precisam da nossa atenção e dedicação, viram obsessão, cansam física, psicológica e emocionalmente. E mais: pode nos fazer tomar decisões impulsivas diante da saturação.

Quando beirávamos o desespero eu dizia para o Bruno: “Estamos apenas cansados. Precisamos descansar, não desistir”. E o sítio teve papel fundamental nesse processo de mudança de foco por alguns momentos.

Todos os acontecimentos, agradáveis e desagradáveis, foram conduzindo a gente pelo caminho que nos levou ao lugar mais adequado para nós. O espaço sempre esteve lá, só precisamos percorrer a trilha certa para então alcançar a linha de chegada. Que agora se torna o ponto de partida para a continuação da nossa história.

No post anterior falei sobre a natureza nos conduzir e neste texto que você lê agora é sobre isso ainda. A natureza (que muitos gostam de se referir a ela como universo, que funciona na base de leis, que popularmente são chamadas de destino) está sempre atuando. E quando aprendemos a interpretar a comunicação que ela faz conosco e aproveitar como oportunidade as situações que surgem, quando tratamos o que chega até nós como um presente, tudo se encaixa, tudo vai para o seu devido lugar. Como diria Platão, cada coisa em seu lugar e não teremos problemas.

Mas então quer dizer que antes eu estava no lugar errado? Não, eu estava no lugar certo também. A jornada da busca pela casa eu aprendi que foi o meu deserto, lugar onde, na história bíblica, o povo de Israel precisou ficar antes de chegar à terra prometida. Mas isso é assunto para um próximo post.

Agora preciso reprogramar o meu sistema para um sentimento fresco de quem recém começou a pensar na casa. Não ter pressa, avaliar as possibilidades e curtir essa parte que é tão gostosa. Segundo a Sonia Hirsch no livro Deixa Sair, o hipotálamo é um órgão que não sabe distinguir o que é real do que é coisa da nossa cabeça. Então vou sugerir a ele, repetindo como um mantra, que estou recém começando a pensar no assunto. Afinal, o universo é mental (O Caibalion).

Uma coisa é fato: eu sinto, com meu corpo e minha mente, que foi tirado um peso de mim. O Bruno também tem o mesmo sentimento e alívio. Voltamos a dormir.

A Chuva de Ouro, orquídea de cuja presença ilustre eu queria muito poder usufruir no meu quintal, estava lá na laranjeira do novo espaço, me esperando. Colocamos nossas intenções (e esforços) para o universo e o que procuramos vem até nós.

E agora, você poderia compartilhar aqui nos comentários: Já descansou antes de desistir? Já percebeu a natureza falando com você? Já sentiu que estava no bom caminho depois de ouvir o que ela tinha para dizer?

Foto e texto de minha autoria, Juciéli Botton, para a Casa Baunilha.

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