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A natureza nos diz o que fazer

A criação da horta no sítio andava em ritmo acelerado até que uma infestação de taturanas tomou conta da Corticeira do Banhado, a árvore sob a qual vamos posicionar parte da horta.

Em todos esses anos, nunca presenciamos o fenômeno no sítio e nem nas casas que frequentamos na cidade, onde também pudemos observar os insetos. E caso entre em contato com a pele, dependendo da espécie, se não tivermos atendimento médico de imediato a gravidade da situação aumenta.

Comprei óleo de neem para aplicar mas o produto demorou a chegar. Também tinha a possibilidade de borrifar o suco feito com as próprias lagartas. Mesmo assim tenho receio em borrifar qualquer coisa porque a árvore é muito grande e os galhos mais baixos estão muito acima das nossas cabeças. Seria pulverizar ao léu, cairia mais produto fora da árvore do que nela, uma nuvem química seria criada e cairia sobre nós e inalaríamos isso sabe-se lá por quanto tempo.

Mesmo que optasse pela pulverização, vieram dias chuvosos e depois a Serena precisou se operar – e está muito bem.

Quando retomamos as idas ao sítio, percebi que a população das lagartas havia reduzido bastante. Quem encontrasse uma folha sequer que não estivesse comida vencia o jogo. A corticeira estava depenada. Incapaz de nos prover sombra.

Aproveitamos o período de parada para refletir sobre a horta e os outros projetos para o sítio. Fizemos piquenique, contemplamos a paisagem, o lago, os pássaros. Percorremos as pequenas trilhas para verificar como andam as coisas. Roçamos alguns caminhos tomados de mato. Colhemos flores silvestres para os arranjos de casa.

Essa foi uma lição que aprendi ao longo da vida: enxergar determinados contratempos como oportunidades.

Meu trabalho toma muito tempo dos dias de semana. O fim de semana sempre foi o momento de colocar a lista das tarefas dos projetos em dia, além dos afazeres infindáveis que uma casa demanda. Então, quando fazia um calor de 40 graus ou chovia torrencialmente ou, ainda, acontecia outro fato que impedisse que eu continuasse com a lista, o sentimento de frustração se instaurava. A sensação de estar “perdendo tempo” era inevitável.

Hoje fico agradecida. Sei que a natureza está nos redirecionando, atualizando o caminho, nos alinhando com nossos próprios objetivos e muitas vezes nem percebemos. É o universo apenas sendo.

Lembro do dia em que tive essa iluminação. O Sol estava de rachar, um dia daqueles em que temos que usar óculos escuros na varanda sul da casa de tanta luz refletida e mormaço. Não havia como ir para o sítio antes das cinco horas da tarde. Pois me resignei. Peguei um livro que há muito protelava o término da leitura, deitei na rede, os cães se aproximaram e derreteram-se sobre o piso frio e ali concluí a leitura. O interessante é que não sentia mais a frustração de não conseguir fazer o que tinha planejado e sim o sentimento de gratidão pelo que consegui fazer no momento. Foi ótimo.

Uma chuvarada é a oportunidade de deixar a lista de lado e tocar a leitura do livro em frente. Um Sol escaldante é um sinal para parar, deitar na rede e refletir um pouco melhor sobre aquela decisão importante.

A natureza está se comunicando conosco, dizendo para reduzirmos o ritmo. É hora de cuidar de si, ou mesmo de ficarmos sós, com nossos pensamentos. É tão maravilhoso aceitar o que vem e usar da melhor forma. Receber de coração o presente que nos está sendo dado.

Quando iniciei a escrita desse texto, o título era algo como “A natureza nos parou”, fazendo menção à taturana. Mas depois entendi que a natureza não nos para. Pelo contrário, ela nos fornece as condições para continuarmos e darmos atenção ao que importa no momento. Descansados, mais fortes e com as ferramentas certas, que adquirimos durante o ajuste da rota, seguimos caminho. Mais tranquilos e seguros de que vai dar tudo certo.

A natureza está toda concatenada. Suas conexões são bem explícitas, na verdade. Basta voltarmos a ser observadores. Porque observar é sobreviver. Superviver, eu digo.

Uma parada durante a “parada” para o café da tarde.

Observar os cães explorarem o ambiente. Rogerinho adora.

Encontrar desenhos e contornos.

Descobrir que Formigópolis fica localizada bem no teu espaço, com dezenas de entradas e saídas, vias de acesso estrategicamente posicionadas, e um tráfego de desbancar as maiores capitais do país.

A moça ainda fez graça para sair na foto, de cabeça pra baixo. Alguns galhos sem folhas e as poucas que restaram, aos pedaços.

Serena. Os olhos de mel e os tufos mais lindos que não arredam o pé de perto da gente.

Agora quero saber: consegue perceber a natureza falando com você? O que faz você pisar no freio?

Acompanhe no canal da Casa Baunilha o processo de criação da horta no sítio.

Fotos e texto de minha autoria, Juciéli Botton, para a Casa Baunilha.

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