Crônicas,  Vida e Carreira

2 filmes que valem a pena e 1 que não

Este post contém spoiler. Claro. Não há como ser crítico sem revelar alguns pormenores. Assisti a três filmes nos últimos tempos e gostaria de recomendar dois deles. E se me dá alegria sugerir coisas boas, igualmente me alegra alertar sobre as que não valem a pena o investimento. A foto é do filme Dor e Glória.

 

O Mistério de Henri Pick. De Rémi Bezançon. França, 2019. Comédia.

Se o cinema é a arte de contar histórias, que sejam as que a gente ainda não viu. Uma biblioteca de originais de livros rejeitados guardava um verdadeiro best seller, descoberto por uma jovem editora. Só que o crítico de literatura mais popular e influente do momento tem muitas dúvidas sobre quem o escreveu e dedica sua vida a encontrar a verdade. Este longa francês é o filme perfeito para toda a família. É leve sem deixar de ser intrigante. Tem alguns exageros como músicas de suspense que beiram ao terror em cenas nada medrosas. Não gosto nenhum pouco do sotaque francês (quem inventou que é o que as mulheres mais gostam se apresente, por favor), mas os franceses sabem fazer cinema.

 

Dor e Glória. De Pedro Almodóvar. Espanha, 2019. Drama.

Surpreendentemente leve, em se tratando de Almodóvar, e com personagens masculinas bastante marcantes, em se tratando de Almodóvar. Os atores estão sensacionais. Todas as cores do diretor estão lá, colorindo alguns fatos sobre sua vida. Segundo ele mesmo, é sua película mais autobiográfica.

 

O Rei Leão. De Jon Favreau. EUA, 2019. Drama/aventura.

Tinha planos para não ver. O que acontece nos antigos desenhos da Disney fica nos antigos desenhos da Disney. Nunca assisti a remakes dos clássicos. Pra mim, a Alice sempre será aquela menina, então casamento não é uma possibilidade. Talvez por ser publicitária eu esteja vacinada contra esse tipo de produto. E talvez eu perca várias possibilidades de me maravilhar com obras muito bem feitas, sim, tenho essa noção. Mas sou dinda e tem coisas que dindos fazem contra seus princípios para agradar aos afilhados. O filme é bonito. É bem feito do ponto de vista visual. Porém, ele não chega a ser um terço do que é o de 1994 em história e força emocional. O de hoje é um filme sombrio. A impressão que dá é de muita crueldade pois as cenas tristes parecem as mais longas e mais numerosas. Bebês choram na plateia. Pequeninos pedem pra sair. Aliás, sabia que a classificação é de proibido para menores de dez anos? Quem alertou foi minha própria afilhada, com quase onze, que teceu sua crítica ao final do longa dizendo: a gente riu umas duas vezes só. Todos estávamos sedentos pela entrada da dupla dinâmica Timão e Pumba que pouco brilhou. Com desenhos animados, podemos ultrapassar os limites da realidade, o que fica mais complicado quando se trata de animais próximos do real. Porém, se os animais “reais” falam e o leão ainda é orientado a preservar a vida de todos os seres, então talvez fosse possível colocar uma saia no Timão e fazê-lo dançar a hula, ou alguma outra ação mais cômica. Faltaram os planos bem próximos das caras da dupla dramatizando, faltou o Timão fazendo seu solo na música enquanto a bicharada dispara em manada de tão mal cantor. Faltou o alargamento das cenas com eles. E já que foi mencionado bullying, trazendo o roteiro para os dias de hoje, então podiam ter criado cenas adicionais com novas empreitadas da dupla para surpreender a gente, por que não? Faltou também maior presença das respectivas leoas e convidar as vozes originais estelares que ainda estão na ativa para participar – o filme de 1994 reuniu várias das vozes mais icônicas da dublagem brasileira (salve Pedro Lopes e Jorge Ramos). Não é um filme que tenho vontade de assistir novamente. Saio do cinema com a impressão de que um dia uns caras apostaram “quer ver como eu consigo fazer parecer real?”, e dá-lhe investimento de quase 1 bilhão para uma corrida ao próprio ego, sem pensar no emocional, na nossa conexão com os personagens e no algo a mais. Uma pena. Depois dessa, vou ter que assistir ao original de 1994, em cartaz na Cinemateca Paulo Amorim, pra esquecer.

Fotos: Reprodução | Texto: Juciéli Botton para Casa Baunilha

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *