Hoje fui almoçar em casa. Sempre que isso acontece, o que é raro, eu tenho a mesma sensação. Minha casa parece outra. Estar ali em um horário que normalmente não estou me faz perceber uma casa diferente. Quase todo santo dia eu chego à noite, e depois só tenho ela aos fins de semana. Mas sábado e domingo não contam pois têm outra aura, diferente da aura dos dias de semana, dos horários comerciais.
Aproveitei e fiz uma máquina de roupa. Parecia que até a máquina de lavar estava estranhando. Programei para a lavagem de 20 minutos mas pareceu 1 hora. Acho que ela não estava acostumada mesmo. As roupas ficaram felizes que iam secar ao sol do meio dia. Escancarei as janelas. O barulho delas abrindo parecia o de crianças no parquinho. Daí vem aquela sensação de que a sua casa está sempre te esperando para, enfim, ser feliz. Ela fica sempre de prontidão. E isso me deu um conforto. Seja lá a que horas do dia eu resolva aparecer, seja pro bem ou pro mal, ela vai estar sempre lá. Pode se mostrar com uma luz diferente, um brilho incomum, uma corrente de ar que não costuma passar à noite. Mas ela fica lá, sempre à espera, do jeitinho que você deixou. O sofá me acolheu tão bem que aquele soninho pós almoço quis chegar, e eu fui brincando de comer bis, e quando vi, tinha comido a caixa todinha. A casa também é cúmplice dessas cenas, mas ela nunca te julga e sempre perdoa.
Peguei minha bolsa. Enquanto fechava a porta, quase ouvi um “vê se aparece!”. Sim, porque à noite, quando eu chegar, a casa da hora do almoço não vai estar mais lá.
Acho que vou aparecer mais vezes, sim.
Fotos e texto: Juciéli Botton para Casa Baunilha
4 Comentários
Sophia Catalogne
Que lindo texto! <3
Juciéli
Obrigada, So! <3
Patrícia Sala
Fantástico este texto! Dá pra imaginar a sensação de um recíproco encantamento cuidadoso, ou um estranhamento feliz! Já senti isso.
Juciéli
Obrigada! 😉