Crônicas,  Vida e Carreira

Sobre tortas que desandam e decepções na vida

Terça-feira de Carnaval, fui comer a minha sobremesa preferida no meu café preferido. Não foi bom. A torta de chocolate amargo me traiu. Ela não quis nem saber pra quantas pessoas mais eu falei que ela era a melhor da cidade. Fiquei me sentindo, além de caluniada, meio desamparada. Afinal, eu não tinha mais uma sobremesa preferida. Eu não tinha mais um destino certo nos finais de semana. Meu namorado provou um pedaço e comentou, nossa, tá estranho, não tá mais como era. E eu ainda tentei forçar uma mentira e disse, não, não achei. Achei sim. Não tava bom. A qualidade caiu. Até que lá pelas tantas eu admiti que ele tinha razão. Foi até um alívio poder dividir com alguém minha decepção. Orgulho de lado, aceitei a batalha já perdida.

Essa história da torta é tão ridícula na sua insignificância perto de situações verdadeiramente graves na vida, que ela foi apenas uma faísca pra eu começar a pensar sobre o assunto.

Decepções são uma certeza na vida. Seja lá em que área for. Seremos tirados, da zona de conforto, sempre. O que não é ruim quando se trata de uma decisão nossa. Mas comecei a pensar no campo de possibilidades que se abriu diante de mim a partir da situação. Provavelmente vou peregrinar por outros lugares agora, em busca de uma nova sobremesa. Será uma descoberta em todos os sentidos. Talvez a torta estivesse me mandando um recado, tipo, sai daqui e vai provar coisas novas, mulher!

Talvez todo esse papo romântico seja só pra tentar camuflar o fato de eu estar muito decepcionada por uma sobremesa tão boa ter desandado. Por eu ter feito sua boa fama pra todo mundo, que agora vai ir lá provar e chegar à conclusão de que eu não sabia do que estava falando.

Bom, entre ficar brigando com uma torta e seguir em frente dando o troco nela, eu prefiro, sem dúvida, seguir em frente dando o troco nela.

Mas sou daquelas pessoas que oferece uma nova chance pra coisa provar que realmente errou. Vai que, naquele dia, a confeiteira teve que ficar em casa com uma virose enquanto outra mão se encarregou da torta? Vai que o estrelato dela já esteja escrito nas estrelas e ela vai, sim, voltar a brilhar?

Acho que vou voltar, só pra ter certeza de que está tudo acabado entre nós, mesmo. Pra eu não olhar pra trás e pensar: e se…

Torçam pra que o melhor aconteça. Seja uma reconciliação ou uma vida nova. Pra nós duas.

 

Ilustração e texto: Juciéli Botton para Casa Baunilha

3 Comentários

  • Sophia

    Que texto maravilhoso, Juci! Adorei!
    Eu acho que ela merece uma nova chance sim. Todo mundo tem um dia que não tá 100%, né? Talvez aquele tenha sido o dia dela. Talvez seja um sinal pra ti procurar novos lugares e se apaixonar por outros doces. Talvez seja porque o teu paladar mudou. Talvez seja a nossa expectativa. Não sei… Só sei que, pra mim, a melhor torta é a do dia 27 de julho.

    • Juciéli

      Ai, Sophi, obrigada, fico tão feliz!
      Concordo, todos nós temos aquele dia mais ou menos. Por isso ela realmente merece uma segunda chance 😉
      E tu, tens fatia cativa no bolo do dia 27.
      Beijo.

      • Juciéli

        Ah, e adorei a análise que tu fez de que nós é que podemos ter mudado também. Isso com certeza acontece e reflete na nossa percepção das coisas de sempre. Amei!

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