Crônicas,  Vida e Carreira

Por que ainda jogamos lixo no chão?

 

Eu fiquei paralisada ao ver as imagens da Orla do Guaíba, em Porto Alegre, na manhã seguinte à festa de fim de ano. Vocês também viram? O que era aquilo? E o tanto de garrafas quebradas e cacos de vidro espalhados? Adeus canga-sobre-gramado para contemplar o pôr do sol.

Como aqui no blog eu vou além da decoração e escrevo, também, sobre o morar, eu me senti na obrigação de abordar isso – e na vontade de desabafar. Porque ver pessoas jogando lixo no chão está no topo da lista das situações revoltantes.

Olha, vou dizer pra vocês, eu nunca joguei lixo no chão. E dar cabo do lixo que eu gero não é nenhum fim de mundo pra mim. Se eu abro uma bala, coloco o papel na minha bolsa, ou no bolso da calça. Quando chego em casa, coloco no lixo. É simples e é automático. Não é um sofrimento ficar com a embalagem. E isso é educação. Se você joga lixo no chão, sinto muito, mas, você não tem educação. Se o seu filho joga lixo no chão, você não o educou. Não há como colocar a culpa em mais ninguém.

Ah, a questão é o lixo de volume maior e não um simples papel de bala? Então aqui vai mais um pouco de educação: eu cresci vendo a minha família levar sacolas plásticas para a praia para que a gente pudesse colocar as embalagens e os palitos de picolé, as garrafas, os copos plásticos, as latinhas, as espigas de milho, todo o resíduo gerado a partir do que viéssemos a consumir. Então, ser responsável pelo lixo que produzi nunca foi uma situação sem saída pra mim a ponto de ter que jogar o lixo no chão. É uma situação de educação, pois cresci vendo exemplos, e, também, de responsabilidade. Você é responsável pelo lixo que você resolveu, por algum motivo, gerar.

Sem contar o fato de que eu não quero ver um espaço sujo e feio. Vou apelar para as tão multiplicadas fotos nas redes sociais. Você já se deparou numa situação em que estava viajando e quis fotografar um lugar lindo e tudo o que você acabou vendo na foto era lixo espalhado pelo espaço? Nunca tirou uma foto na beira da praia que você acreditou ter ficado perfeita e, quando foi ver, tinha uma garrafa pet sobre a areia que acabou deixando a sua foto um lixo?

Eu já senti muita vergonha de receber pessoas na minha casa, pois ia buscá-las na calçada e via muito lixo pela rua. Eu já senti vergonha caminhando no centro da minha cidade e pensando, meu deus do céu, o que as pessoas de fora daqui vão pensar?

É um sentimento que me ocorre. Eu fico verdadeiramente triste vendo o lixo no chão, principalmente porque é um assunto já esgotado, batido. Não há nada para se descobrir sobre ele. Nenhum cientista, um dia, vai comprovar que colocar lixo no chão aumenta em quinze por cento a nossa expectativa de vida. Nenhum ambientalista, um dia, ganhará um prêmio por ter descoberto que uma certa camada de lixo nas ruas evita o vandalismo. Lixo é lixo desde sempre e continuará sendo. Lixo no chão é abominável e assim será para todo o sempre.

O ser humano é um ser pensante, se distingue dos demais animais por causa disso e embalagens voando através de janelas de carro classificam os ocupantes do veículo em uma espécie de vida abaixo dos porcos, porque estes nem sabem o que é lixo, eles não produzem. Aliás, são animais que vivem perfeitamente em ambientes limpos. O ser humano é que insiste em criá-los em espaços deploráveis.

 

Duas toneladas de lixo foram deixadas na Orla do Guaíba, em Porto Alegre, pelas pessoas presentes na festa de final de ano. Foto: Reprodução de Ronaldo Bernardi / Agência RBS

 

A gente precisa encerrar as discussões sobre jogar lixo no chão. Como? Parando de jogar lixo no chão. A gente não deveria estar tratando disso em 2019.

Acho que temos que começar a atacar o bolso dos sem educação. Com a multa, talvez, eles não poluam mais os espaços públicos. Porque se formos esperar pela educação e consciência, que ainda falta em plenos anos dois mil, nunca sairemos da Idade das Trevas.

 

Foto e texto: Juciéli Botton para Casa Baunilha

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