Por aí,  Rio de Janeiro

Art Nouveau e belas paisagens ou sobre como vivia o povo do Forte de Copacabana

Nunca que eu ia imaginar que conhecer o Forte de Copacabana significaria a retomada dos meus conhecimentos de design em relação a detalhes tão delicados de decoração. E, na verdade, não achei que o conheceria na minha primeira viagem ao Rio pois ele não estava na minha lista. Deixamos o último dia para caminharmos pelas ruas e praias e fazer o que quiséssemos na hora. Era quarta-feira, estava tão tranquilo próximo ao forte que resolvemos conhecer. Adoro esses programas espontâneos que, no final, se mostram um verdadeiro acerto.

 

 

 

Vem comigo nesse passeio cheio de antiguidades, resquícios de movimentos artísticos mundiais e referências de decoração. 

 

 

A sala de curativos e farmácia tem aquele clássico mobiliário de metal. Os armários na parede ao fundo são chamados de farmacinhas, muito queridinhos hoje por quem adora decoração pois servem como belas cristaleiras. Armários assim custam alguns mil reais em lojas de antiquários, inclusive os novos que são feitos para se parecerem com os antigos. As mesinhas de metal também estão em alta, seja para dar suporte na cozinha ou até mesmo no home office. A sala foi desativada em 1930 para servir de depósito. Aqui eram feitos os primeiros socorros, consultas e tratamentos.

 

 

O piso é uma aula de história do design. Ele é formado por ladrilhos octogonais com dois tipos de grafismos, um com uma espécie de flor e o outro somente com uma linha azul nas bordas, intercalados com ladrilhos menorzinhos e quadriláteros. Ou seja, tem muita riqueza aí. Podiam ter colocado um piso qualquer, só que não. Um outro padrão estampa a borda que fica próxima às paredes. Podem reparar que esses desenhos têm formas orgânicas, inspiradas na natureza, com folhas e flores. As curvas são bem acentuadas e, os contornos, pesados. São formas sensuais. Nunca imaginei que usaria a palavra sensual para descrever o detalhe de um forte militar, mas é assim que as características visuais do movimento Art Nouveau são compreendidas. Sobre as tonalidades usadas, podem notar que elas não são saturadas e tendem a ser mais terrosas. Tudo para evitar contrastes chocantes e ficar próximo à natureza.

 

Praças e inferiores não se misturavam no lavatório. Essa espécie de pórtico é daquelas coisas que fazem a gente pensar: como pode essa preocupação com adornos delicados no interior de um forte em que as paredes externas possuem 12 metros de espessura!? Só posso concluir que a estética e a beleza são, em algumas situações, o mesmo que conforto. Elas podem trazer aconchego a um ambiente duro e frio. Reparem na palavra lavatorios. As suas letras acompanham a forma dos arcos. Esse tipo de lettering está também presente na Art Nouveau, embora, já pudesse ser encontrado em anúncios de 1800. Abaixo, detalhes fofos de concha e de flores.

 

 

 

No dormitório, camas de metal e armários em madeira. O padrão do piso é outro mas ainda em estilo Art Nouveau e também combinando ladrilhos com muito e pouco grafismo. Tom de vermelho não saturado e mais terroso. Formas da natureza como flores e folhas. Os três ladrilhos com desenhos geométricos lembram as formas criadas por George Auriol, um desenhista de fontes da belle époque que, além de letras, desenhava também ornamentos para enfeitar uma página impressa.

 

 

Bem à frente, acima da escada, fica o acesso ao canhão principal. Na verdade ele pode ser acessado por todos os lados. Sabe que hoje estão usando muito esse tipo de pintura na decoração das casas? Pra quem mora em ambientes muito amplos, com pé direito alto, que dá aquela sensação de frieza, de tudo estar muito longe, muito separado, uma segunda cor até uma certa altura da parede reduz esse desconforto. Ela dá a sensação de reduzir o espaço em largura e altura, além de trazer aconchego com a cor, sem pesar indo até o teto. É o mesmo princípio de pessoas baixas usarem roupas de peça única, como vestidos e macacões, para não cortar a silhueta ao meio com várias peças. Eita que a gente já chegou na moda com esse papo. Bom, claro que em ambientes como esse do forte, em que havia movimentações de aparatos bélicos, objetos ferrosos, uma pintura assim preserva as paredes brancas pois dá uma disfarçada nas imperfeições que surgem. Fica a dica.

 

Ali na área isolada é o canhão. A parte vermelha gira em torno do próprio eixo, que é o movimento que o canhão faz lá em cima. Quem sou eu pra explicar sobre funcionamento de canhão? Bom, eu só queria explicar a imagem, na verdade 🙂

 

Desenhos técnicos nas paredes explicam – melhor do que eu – as partes e o funcionamento do canhão.

 

 

Este é o acumulador hidráulico, que dispensa qualquer explicação porque todos sabem do que se trata. Brincadeira, gente. Eu queria muito ter sabido mais sobre as coisas, só não havia visita guiada. Mas adorei a engrenagem gigante ligada a esse monte de condutorezinhos. E o piso, claro.

 

Falando em piso, pra visualizar todas as misturas deste vocês vão ter que lidar com meus pés calejadinhos de tanto caminhar pelo Rio (de quatorze a dezoito quilômetros por dia). Mas, vamos ao que interessa. O piso tem vários padrões diferentes, mas todos com a ideia de mosaico, com pequenas peças, até mesmo o de peças prontas que estou pisando. Novamente, ele combina peça octogonal com uma menor, quadrilátera. E reparem que as formas arredondadas não são círculos perfeitos, bolinhas. Elas têm uma forma orgânica. De novo, Art Nouveau. E as flores vermelhas mais ali pra cima? Motivos naturais, característicos do estilo.

 

Construído por volta de 1910, o forte abandona sua função original em 1987, se tornando um guardião da história do exército brasileiro. Além da visita interna nas dependências da fortificação, há também o museu militar com muita história e objetos da época. Há também cafés e suas mesinhas com vista para Copacabana.

 

Adoro essa foto pela composição da proximidade de várias coisas, dos monumentos naturais, alguns de cartão postal como o Pão de Açúcar, do mar, das linhas arredondadas do forte e da construção em pedra pintada, que remete à estética de castelo.

 

Tem beleza por dentro do forte mas, por fora, o Rio de Janeiro continua sendo

 

 

 

À frente, a Pedra do Arpoador e, antes dela, a Praia do Diabo, com águas bem violentas e quase nada de espaço na areia. O nome faz todo sentido.

 

 

Área perfeita pra contemplar a vista para Copacabana.

 

Eu simplesmente não sei o que seria da gente sem as árvores que costeiam os prédios do museu militar. Elas nos presenteiam com uma sombra daquelas. Obrigada, queridas.

 

 

O forte ainda dá uma força para quem quer fazer as belezas naturais do bairro virarem cenário. Ao fundo, a equipe do canal GNT filma um programa.

 

No próximo post sobre o Rio, vou indicar um doce para saborear na unidade da Confeitaria Colombo que tem no Forte, que só de pensar eu sinto a textura dele na minha boca.

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Este é o terceiro post sobre o Rio de Janeiro. Para conferir os outros, é só clicar aqui para dicas de onde comer e aqui para conhecer uma feira de antiguidades sensacional.

 

Fotos e texto: Juciéli Botton para Casa Baunilha

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