Enquanto ainda processo a informação de que talvez a imunização global contra o Coronavírus ocorra apenas em 2022, continuo a questionar: por que Fleabag não tem trinta e nove temporadas?
Não que o prazo me assuste. É que em se tratando de pandemia, números são superáveis – e superados.
Sabe, depois que declarei independência dos livros de completar tentei dar uma última chance a eles. Mas as perguntas que seguiram eram de quem você tem ciúme? e o que vem a sua cabeça quando pensa em medo? Não admito que um livro de completar eleve meu cortisol. Chega dessa coisa. Vou queimá-lo.
Será que pega mal continuar usando a máscara quando não precisarmos mais? Já pensou: estou dando meu sorriso falso? Estou rindo da piada sem graça? A dúvida ficará no ar.
Uma vez que a ciência comprova que as gotículas da saliva dos outros podem parar na nossa úvula, máscara vira melhor amiga pra sempre.
Mas nunca espero pela ciência. Sempre desviei do espirro das pessoas na calçada. E sei que não sou a única. Há muitos anos, um colega de uma agência, enquanto voltávamos de um almoço, correu pela esquerda enquanto eu fugia pela direita após uma senhora espirrar a poucos metros de nós.
Por que o novo hobby das mulheres é endemoniar a pílula anticoncepcional? Eu costuro almofadas. Relaxa bastante.
Cliquei no vídeo porque era de uma instrutora de exercícios que acompanho no Youtube. Só que ela convidou sua amiga-médica para tocar fogo no parquinho das invenções louváveis que libertaram as mulheres. A tal médica, que não era nem gineco nem endócrino, chegou a afirmar que quem toma a pílula por anos demora para recuperar a fertilidade caso resolva engravidar.
Gente amiga, da mesma forma que Danoninho não vale por um bifinho, vídeos que rolam pela internet não valem por uma consulta no médico. Olha, cês não me devem explicações, mas prometam que falarão com uma gineco antes de qualquer decisão. Se parar de tomar a pílula hoje, cê PODE engravidar logo ali, minha filha. Cada corpo é um corpo – não é isso que tanto dizem por aí? Vá a uma ginecologista e conta a tua história, pergunta tudo e tome decisões junto com ela – ai, como eu tô conselheira.
Fiquei imaginando elas terminando de gravar o vídeo e indo ao salão retocar o cabelo com formol ou injetar toxinas em alguma parte do corpo.
Lembrei dos almoços na agência. Uma colega dizia: tu vai comer frango, esse bicho cheio de hormônio? Ao que cabia a mim a correção: alto lá, não tem bicho com mais hormônio aqui do que eu.
Saudade de responder a frases das pessoas que acham que vão te derrubar com as informações “super privilegiadas” que elas têm.
Minha nossa… consigo visualizar os perdigotos da colega que falou do meu frango grudados na minha úvula. Além de ter falado do meu frango, cuspiu na minha anatomia. Máscara para sempre, está decidido.
Na verdade, a melhor coisa é responder com silêncio, mesmo, porque gente assim tem dificuldade de identificar sarcasmo, ironia e não mede esforços para te explicar tudo sobre o reino animal, drogas sintéticas e doenças associadas. Isso pode durar horas e qualquer minuto vago do teu horário de almoço é melhor gasto em se atualizar com os memes do dia do que ouvindo a teoria de alguém sobre uma das decisões mais importantes que você (já) tomou para a própria vida. Memes ajudam na digestão. O Drauzio disse, meu Uber.
A gente oferece a oportunidade de ouro para a pessoa sacar que determinado assunto não deve ser levado adiante, porque o fazemos com humor, e ela ainda consegue sentar na graxa depois disso.
Falando em sentar na graxa, tenho de ir à cozinha. Derrubei uma garrafa de suco de uva integral. Preciso remover manchas de lugares improváveis e cacos de vidro cravados na minha Havaiana. Só a descoberta da possibilidade de vida em Vênus me alegra apesar do pé cortado.
Até a próxima.
Foto: Reprodução de um frame da série Fleabag | Texto de minha autoria, Juciéli Botton, para a Casa Baunilha.
