A casa alugada

Alugamos uma casa: a saga e as dificuldades para encontrar uma casa nos dias de hoje

Há 6 anos, começamos a busca por uma casa. Uma casa dessas com pátio e tudo mais. Esclareço este ponto porque chamamos nosso apartamento de casa, no sentido de lar.

Eu precisava de um espaço para fazer cerâmica e o Bruno queria cuidar de uma horta, entre outros sonhos da época que não conseguíamos realizar em nosso apartamento e em uma capital como Porto Alegre, como fazer caminhadas pelas ruas à tardinha.

Escolhemos uma região de centros urbanos tranquilos no Rio Grande do Sul. A estratégia inicial era alugar para morar em caráter experimental. Caso não nos adaptássemos à região ou à própria casa, seria mais fácil seguir em frente.

Logo percebemos que os imóveis para aluguel eram escassos em comparação aos disponíveis para venda.  E os preços, fora da realidade.

Mudamos a estratégia para imóveis à venda. Procuramos por uma casa usada para sair mais em conta e, com o tempo, daríamos o nosso toque reformando o necessário. Prefiro comprar uma casa antiga – algumas já possuem materiais de qualidade como piso em madeira e ladrilhos hidráulicos –, e reformar do meu jeito do que adquirir uma nova, com acabamentos muito personalizados, onde não tenho coragem de iniciar um quebra-quebra porque tudo é muito novo. É o mesmo que fazer um novo corte sobre uma ferida.

Só que os preços das casas à venda também estavam fora da realidade. O plano, na época, era investir até R$ 350 mil. Para você ter uma ideia, casas deterioradas e afastadas dos centros urbanos custavam a partir de quase R$ 600 mil.

Mudamos a estratégia, de novo, agora em busca de terrenos. O plano era economizar ao máximo na construção da casa. Estratégia nova mas, também, sem sucesso. Os terrenos de valores compatíveis com o orçamento ficavam em áreas distantes e pouco povoadas.

A pandemia se estabeleceu e piorou a situação imobiliária. A nova ordem era trabalhar de forma remota e encontrar o seu espaço no mundo dos quintais. Casas novas, casas antigas, terrenos para construir: tudo se tornou escasso e o que sobrou teve o preço reajustado para “impraticável”.

Em um belo dia, em meio à frustração, fomos passear na região de sítios e chácaras em que meu sogro tem um terreno, onde estive há anos atrás quando era apenas um matagal. Lembro que não conseguíamos dar um passo sequer por lá.

Dessa vez, vimos que a área tinha sido roçada e então pudemos visualizar as espécies da fauna e da flora e entender o potencial da área. Meu sogro disse que podíamos administrar da forma que quiséssemos e enxergamos ali algumas oportunidades.

Em um primeiro momento, teríamos o sítio como nossa válvula de escape. Não precisávamos mais de uma casa, uma vez que o sítio nos preenchia. Na verdade ele nos transbordava. Com o tempo, na medida em que fomos decifrando o espaço e o propósito, entendemos que era necessário ter uma base na área urbana próxima, cidade onde crescemos e onde nossas famílias ainda moram.

A chegada do sítio nessa história nos deu um norte sobre qual região deveríamos nos estabelecer, além de nos colocar, de novo, na busca por uma casa para chamar de nossa.

Por conta das dificuldades da busca anterior, desta vez, desde o início estivemos abertos ao que surgisse: terreno para construir, casa nova em folha, casa antiga. Só que da mesma forma que nas outras regiões, não foi fácil.

Tivemos interesse em terrenos de tamanho razoável, só que ao conversar com os donos descobrimos que, na verdade, eram dois. Ou seja, o que parecia reduzido ficava ainda menor. Isso aconteceu com pelo menos 3 terrenos.

E tinha outra questão: se comprássemos um deles, ficaríamos à mercê do que iriam construir no terreno vazio ao lado. Poderia ser um sobrado enorme sombreando nossa área, com janelas voltadas para a nossa intimidade. Não, obrigada, vivemos isso no nosso apartamento atual. Ou poderia ser construído um bar com música e pneus cantando madrugada adentro. Não, obrigada, já morei ao lado de um posto de combustíveis super badalado.

Estávamos em busca do que ainda não tínhamos experimentado. Estávamos em busca de uma nova vida. Na verdade, de um lugar para viver a nossa vida que já tinha se transformado.

Não somos gente rica e, justamente porque temos que trabalhar muito e economizar cada centavo do nosso dinheiro para conseguir as coisas de forma digna e lícita, não queremos fazer escolhas ruins. Precisamos eliminar algumas incertezas quando se trata de aplicar o suor do nosso trabalho em algo grande, como a compra ou a construção de uma casa.

Veja que usei a expressão “eliminar algumas incertezas” em vez de “ter certeza”, porque não temos certeza de muita coisa na vida, não controlamos tudo. Na verdade, não controlamos nada. Por isso, o que eu puder queimar de massa cinzenta para solucionar a questão da minha morada, o que estiver ao meu alcance no sentido dos esforços, eu farei. De resto, entrego ao universo.

Passando dos terrenos para as casas à venda, eram onerosas e precisavam de muita reforma, ou seja, mesma situação imobiliária das outras regiões em que procuramos. Algumas com porcelanato assentado em todo o pátio, enquanto queríamos algo permeável, cheio de verde.

Ou casas cujo terreno fazia divisa com área de mata que, conhecendo a cidade como só a gente conhece, sabemos que poderia levar nossa vida inteira para ser urbanizada e, enquanto isso, as cobras seriam uma constante em casa. E mesmo que logo fosse urbanizada, mais uma vez, o que construiriam no nosso entorno poderia nos entristecer depois de investirmos tanto.

Quando a área externa não era o problema, era a interna, mega customizada. Teríamos que rever quase toda a construção para que atendesse nossas demandas. Ou estava caindo aos pedaços de um jeito que nem mesmo eu, que adoro uma reforma, me animei a fazer.

Voltando aos preços absurdos, chegaram a anunciar uma casa por R$ 750 mil, cuja caixa d’água não estava nem escondida, muito pelo contrário, ficava bem à vista, na fachada. Olhando para esse imóvel, R$ 750 mil pareciam mais perto de R$ 1 milhão do que se custasse R$ 999 mil.

No interior, as pessoas se apegam ao número de salas: sala de jantar, sala da TV, sala das visitas e acham que isso é passe livre para precificar conforme dá na telha, enquanto a realidade nos mostra que as famílias estão diminuindo e as pessoas querem casas práticas, com ambientes integrados e fáceis de manter.

Sem contar tudo que há para ser reformado e as casas vizinhas coladas e as pessoas escutando o que você fala. Uma casa de quase R$ 800 mil precisa, no mínimo, nos manter a uma distância confortável dos outros no entorno.

Não podemos esquecer do momento financeiro desafiador que a sociedade enfrenta. Ninguém tem esse dinheiro. Se eu tivesse R$ 800 mil para investir em um imóvel, compraria um apartamento antigo de frente para o Guaíba em Porto Alegre, ou uma deteriorada quitinete a algumas quadras da Paulista em São Paulo, e não uma casa grudada nos vizinhos, com pátio pequeno, caixa d’água aparente e uma mega reforma pela frente.

Chegamos a entrar em negociação para a compra de um terreno. Propostas indo e vindo até que, de repente, o corretor some. Algum tempo depois, ainda sem entender, passamos em frente ao terreno e vimos uma casa começando a ser erguida. Me senti mais esquecida que o Kevin no clássico filme natalino da Sessão da Tarde.

Teve a casa de madeira pela qual me apaixonei. Construída nos anos 1980 por uma empresa referência na época, terreno de metragem módica, área de alvenaria nos fundos com churrasqueira, algumas frutíferas e em rua tranquila. Começamos a negociação para a compra mas o dono estava irredutível e não conseguimos fechar negócio.

Também enfrentamos a situação em que um de nós gosta de uma casa e o outro não. Um acha determinado terreno adequado e o outro não. Como diz o ditado, o que um não quer, dois não fazem.

Em meio a tudo isso, avaliávamos a possibilidade de construir no terreno que ficaria de herança para o Bruno. O terreno tem alguns problemas além de questões que não se encaixam no nosso formato de vida, mas é uma saída. Havia dias em que acordávamos querendo construir ali e outros que não.

O tempo passava, as oportunidades eram sempre as mesmas, pois casas à venda em uma pequena cidade do interior surgem como cometas que passam pela Terra a cada 50 anos. Levando em conta que estávamos nessa jornada há 6, demos um passo e alugamos uma casa na cidade para nos auxiliar neste período.

Enquanto estivermos no processo de comprar ou construir a casa, teremos uma área ampla para fazer nossas atividades, um gramado para o Rogerinho correr, tranquilidade durante nossas caminhadas ao final do dia, entre outros benefícios que hoje não encontramos morando em nosso apê em Porto Alegre.

Contarei mais sobre a casa alugada e os próximos passos em novas postagens, porque esta ficou extensa. Embora eu goste de escrever e, você, de ler, então estamos em casa. Na Casa Baunilha : D

Talvez você tenha passado ou esteja passando por situação semelhante, então não esqueça de compartilhar nos comentários a tua história na busca pela casa. Foi tranquilo ou foi uma saga? Comenta aqui.

Até a próxima publicação ; )

Foto e texto de minha autoria, Juciéli Botton, para a Casa Baunilha.

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