A casa alugada

A casa alugada | As vantagens da experiência temporária

Sim, aconteceu e eu mal podia acreditar: uma casa com pátio e tudo mais para nós. Como diz a expressão, eu não tinha nem roupa pra isso. Na publicação anterior, compartilhei as dificuldades de conseguir uma casa nos dias de hoje, com os preços inflacionados depois que a pandemia se instalou, além da própria saga em busca de uma casa para chamar de nossa.

Minha incredulidade vem do fato de sempre ter morado em apartamento. Pois é, sou uma “guria de apartamento”, como dizem. Só que não. Não exatamente.

Quando bebê e ainda muito criança morei em casa, mas não lembro desse período. Ainda em Ijuí, cidade onde nasci, mudamos para um prédio onde teve início a construção das minhas memórias.

Apesar do apartamento, o pano de fundo era essa cidade de terra vermelha do interior, onde vivia nas pracinhas, nos parques, em meio ao verde à beira do rio Ijuí e entrando em contato com o entorno agrícola da região.

Depois nos mudamos para uma cidade próxima a Porto Alegre, onde viria conhecer meu marido. No início, meus pais, minha irmã e eu ficamos em um puxadinho nos fundos da casa dos meus avós, período do qual lembro lascas, para depois irmos morar em… um apartamento.

E volta e meia ia para a roça, de onde veio minha avó materna e para onde íamos visitar minha bisavó e os outros familiares, ver como eles produziam tudo de que precisavam, andar de charrete, embarrar os tênis, sentir o cheiro dos bichos. Era formidável.

E deste apartamento passei para outros tantos na capital, aonde fui fazer a faculdade e trabalhar, como a grande parcela do povo gaúcho.

Fazem poucos anos que meus pais saíram do apartamento onde moramos por séculos, para uma casa, momento divisor de águas na vida de todos da família. A experiência de morar em casa é, lógico, diferente de apartamento e não digo que uma é melhor que a outra pois há aspectos positivos e negativos em ambas.

Fazer essa transição já adulto foi especial porque percebemos as mudanças e valorizamos outros aspectos, analisamos e entendemos as responsabilidades de administrar uma casa.

Com essa mudança, passamos a sair de Porto Alegre com mais frequência para passar os finais de semana na casa dos meus pais. Estar na casa deles era como estar de férias. E quando o sítio entrou na história, batíamos ponto todo final de semana e feriado. E quando pudemos trabalhar de forma remota devido à pandemia, praticamente nos instalamos na casa dos meus pais.

Nossa vida alargou de tal forma que era impossível voltar ao tamanho anterior, o que corroborou com nosso desejo antigo de ter espaço para fazermos nossa bagunça. E na medida em que o tempo passava, aumentava a necessidade de um canto próprio.

Devido à dificuldade de encontrarmos uma casa para chamar de nossa, como compartilhei no post anterior, a solução foi alugar uma das poucas disponíveis, todas muito antigas – o que não é problema pra mim –, com muito para ser reformado – isso, sim, pode ser um problema.

Fazem 6 anos que estamos em busca de mais espaço para fazermos nossas atividades e alugar de forma temporária permite sanar algumas necessidades enquanto a casa dos sonhos não se materializa.

Agora temos espaço para mantermos nossas coisas – enquanto escolhemos de quais nos livrar. Nosso apartamento em Porto Alegre, de apenas 46 metros quadrados, ainda não atingiu o objetivo de arejamento que estabelecemos. Por isso levamos para a casa alugada a maioria das nossas coisas, aliviando o apartamento enquanto organizamos e descartamos os itens. Esse processo servirá como triagem dos objetos e preparação para quando nos instalarmos na casa definitiva.

Desentulhar é preciso, até porque, absorvemos atividades na nossa vida que requerem um grande volume ferramental, como marcenaria, cerâmica, jardinagem etc. Adoro reaproveitar materiais e objetos, então volta e meia preciso de área livre para lixar madeiras, pintar peças metálicas, plantar as infindáveis espécies de folhagens que encontro pelo caminho.

A cerâmica exige espaço para as peças durante a secagem, para as argilas e os acabamentos. Sem mencionar as traquitanas que vamos juntando, como anéis que podem virar carimbos, vagem de sementes, galhos e pedras que imprimem textura etc.

Somente o sítio já exige uma série de ferramentas específicas para a lida, a maioria volumosa e pesada. Portanto, se entra uma enxada tem que sair outra coisa, como se fosse um guarda-roupa. Entrou uma camisa saiu outra.

Também ganhamos espaço para abrigarmos as peças que foram retiradas da antiga casa dos meus sogros após uma reforma. Portas, janelas, grades, pias, móveis, itens que possuem valor afetivo e que podem ser aproveitados na nossa futura casa, seja em uma reforma, no caso de uma casa pronta, ou construção.

A casa alugada também nos isenta de levar o Rogerinho na rua inúmeras vezes durante o dia e à noite. Com um grande gramado ensolarado, ele pode se aliviar à vontade e correr até ficar de língua de fora. Desde que o adotamos ele foi resiliente e se adaptou como um milagre à vida em apartamento. Vindo de uma região de roça, de campos abertos, ficava sossegado deitado na cama até que a gente pudesse levá-lo nas caóticas ruas de Porto Alegre, em perigosos horários, esbarrando em cães brabos.

Sabíamos do potencial do Rogerinho, sempre animado e pronto para a diversão. Um cão com o espírito do Burro do Shrek, como costumo dizer. Era duro saber disso e vê-lo deitado na caminha no apê. Esse baita gramado é um presente mais que merecido para ele. Além de um trabalhão para cortarmos, mas isso é papo para uma outra postagem, porque grama rende assunto.

A casa alugada também permite que tomemos consciência das responsabilidades de gerir uma casa. Há aspectos únicos que um apartamento não demanda. E com um espaço nosso, nos responsabilizamos por completo. É diferente de morar com mais pessoas. Na casa dos meus pais, por exemplo, eles cuidam de tudo. Eu não penso na desobstrução da calha, por exemplo. Não me meto – mais – nas podas das frutíferas. Adoro sair podando enquanto minha mãe é a favor de deixar rolar o crescimento.

Essa nova experiência, junto com o que observamos na casa dos meus pais, também nos faz analisar o que funciona e o que não funciona na arquitetura e estética de uma casa, já pensando sobre o que aplicar ou não na nossa futura casa. De forma empírica, criamos um repertório de possibilidades de desenhos e acabamentos para investirmos com mais segurança no futuro espaço.

Uma curiosidade é que a casa alugada também permite seguirmos com a nossa alimentação já estabelecida. Quando estamos em maior número, é inevitável chamar algum lanche ao final do dia para compartilharmos desse momento de gratificação pelo dia trabalhado. É sabido que a comida é o amálgama da vida afetiva.

O aluguel teve início no período do calorão, o auge da bicharada. Eu estava acostumada no apartamento, onde não havia nada, nem baratas, nem lagartixas, nem moscas ou mosquitos. De vez em quando, em dia de peixe, surgia uma mosca avulsa.

Mas encaramos o processo não somente como a oportunidade de levarmos uma vida de acordo com o que precisamos agora, mas também como um aprendizado, tanto nessa questão de proximidade com a natureza quanto no cuidado com esse peculiar formato de morada que é a casa.

Agora quero saber de ti, você já passou pela transição de apartamento para casa? Conta aqui nos comentários como foi.

E até a próxima postagem ; )

Fotos e texto de minha autoria, Juciéli Botton, para a Casa Baunilha.

2 Comentários

  • Juçára Ehlers

    Realmente, sair de um apartamento para morar numa casa,é um novo mundo que se abre. Muitos afazeres, mas a delícia de ter espaço e de cultivar muuuuuuitas plantas é maravilhoso. Sei o que você está sentindo e vivenciando.
    Desejo que a casa dos sonhos se realize do jeitinho que você quer.
    Amei o teu relato.
    Bjs. Até mais.

    • Juciéli

      Ah, que lindo! Muito obrigada pelo comentário, pelas palavras.

      Realmente, é um mundo que se abre e ter vizinhos especiais torna o processo ainda mais maravilhoso <3
      Obrigada!

      Beijo!

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