Apenas uma planta sobrevive no meu apartamento: a jibóia que a minha avó, Ignez, me deu. Samambaias, begônias, suculentas, antúrios, marantas, avencas, entre tantas outras que tentei manter, não conseguiram sobreviver.
Enquanto não havia um espaço adequado para o desenvolvimento das plantas que encontrava pela vida, eu levava as folhagens para a casa dos meus pais. Um baita espaço, ensolarado, áreas de sombra, meia sombra e todos os outros dez tipos de sombra que as plantas precisam. O pátio deles parecia um jardim botânico de tanto verde. Minha mãe já cultivava vários exemplares e eu ainda chegava com mais a cada dia.
Algumas pessoas me mandam mensagens contando sobre as plantas delas, cujos vasos um dia irão para a casa que ainda não existe. Ou seja, a gente nem tem a moradia mas já tem as plantas. Adoro.
Pois quando finalmente encontramos a casa, já no primeiro dia de aluguel foi como o estouro da boiada para transferir as folhagens.
Minha coleção de cactos foi a primeira a se mudar. Antes mesmo de alugarmos a casa, eu os visualizava na área da frente, verdinhos nos vasos cor de telha, em contraste com as paredes brancas da fachada.
Quero agradecer muito ao Bruno que jamais reclama quando mudamos vasos pesados de lugar. Na verdade, nem precisei pedir. Ele já foi colocando os espinhentos no carro e descarregando na outra casa.
E não basta descarregar no novo lugar. É preciso observar a luminosidade e virar os vasos para os lados corretos, pois as plantas se desenvolveram por mais de um ano em função da orientação solar que havia no pátio dos meus pais. O Bruno ajuda em tudo isso, da parte braçal à poesia do paisagismo. Obrigada, meu amor!
Gente, os cactos viraram a sensação da rua. As pessoas passavam virando o pescoço e perguntavam se tínhamos reformado a fachada. Esse é um dos poderes que as plantas têm: repaginar um espaço sem quebradeira ou sem grandes gastos.
Todos os cactos da minha coleção saíram de graça. Encontrei os pedaços deles caídos na calçada depois da poda no jardim de um prédio em Porto Alegre. Contei essa história aqui no blog. Por isso, se não tiver recursos financeiros para investir no upgrade da sua fachada, invoque o poder das plantas.
Outros passavam na rua e comentavam com a minha mãe, quando ela se encontrava no pátio – meus pais moram em frente – que a casa, há muito sem ninguém ocupar, agora estava bonita. Sem saberem que a minha mãe era a minha mãe : D
Alguns comentavam com ela, também, que as plantas eram exóticas. Acho que as pessoas não identificavam que eram cactos pela distância, pois a casa fica no fundo do terreno.
Com o tempo, começamos a brincar que, de tanto olho sobre os cactos, eles começaram a secar. A questão é que por mais de um ano eles viveram no jardim dos meus pais sob condições específicas e, agora, não conseguiram se adaptar à mudança.
No pátio dos meus pais, pela manhã eles aproveitavam a sombra fresca de uma senhora bananeira e tomavam banho de sol do final da manhã até o fim da tarde. Nunca nos preocupamos em aguá-los pois as chuvas se encarregavam disso. Os vasos, de argila porosa (sem o acabamento vítreo), sugavam qualquer excesso de água, o que é bom, uma vez que os cactos guardam as próprias reservas hídricas.
Eles tinham uma vida de rei e, de repente, os coloquei em uma posição solar totalmente diferente. Ficavam sob a cobertura da área da frente, então a chuva tinha que vencer essa barreira e contar com a ajuda do vento para atingi-los. O sol os alcançava apenas durante o verão.
Mas sabe como é, para fazer a omelete é preciso quebrar os ovos. Tive que levar os cactos para viverem comigo, para embelezarem minha casa, meu dia, minha vida.
Com o tempo, os cactos começaram a ressecar, a murchar, chegando a ficar curvados de tão finos devido à perda de água. Essa mudança foi bem perceptível, além da cor amarelada. Quando chegaram, estavam gordinhos e verdinhos.
Não teve outro jeito, eles voltaram para o pátio dos meus pais, cada um posicionado no mesmo lugar, com as mesmas faces de antes voltadas para o sol. Obrigada, meu amor, pela mudança, mais uma vez.
Os cactos de volta ao jardim.
Com o tempo, eles se recuperaram – olha aí a boa notícia para você que está vendo seu cacto secar. Parece mentira, mas eles se regeneram. Claro que agimos a tempo, então é importante estarmos atentos ao que acontece com as plantas.
Salvaguardadas as devidas proporções da dor da perda, planta consegue dar mais trabalho que cachorro. Eu penso muito mais antes de adotar uma planta do que antes de adotar um cachorro. Levo o Rogerinho nas viagens de carro, mas não consigo levar minhas plantas.
Comida, carinho e vacinas bastam para o Roger. Para as plantas, comida, água, carinho, sombra, meia sombra, luz indireta, luz direta, pouca água, muita água, apenas úmido, meio úmido, bastante úmido, adubos, fertilizantes, janela meio aberta, vento suave, nada de rajadas, água da torneira dormida, água da chuva, banho com paninho, banho com borrifador, banho de mangueira, terra argilosa, terra preta, substrato solto e por aí vai para não ficarmos até amanhã.
Manter plantas é uma responsabilidade e a casa alugada tem nos ajudado nesse aprendizado. A fachada não tem mais o charme das “plantas exóticas”, apenas o da arquitetura antiga. Quem sabe, em breve, a área da frente receba novas moradoras verdes.
E você, muda uma planta de lugar? Conta aqui nos comentários. Vamos falar sobre esses seres verdes complexos.
Até a próxima ; )
Fotos e texto de minha autoria, Juciéli Botton, para a Casa Baunilha.
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