Crônicas,  Vida e Carreira

O princípio do vazio

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Na última crônica, aquela sobre o nirvana do guarda-roupa, eu comentei sobre a importância do período de fim de ano pra mim já que me inspira a rever muita coisa na vida e, claro, em casa, como arrumação, descarte e desapego – acho que com quase todo mundo é assim, não é mesmo?

Pois muito bem. Certa vez, minha tia querida, Denise, mostrou um texto que me trouxe uma reflexão profunda. Talvez porque mexa um pouco com ego, orgulho, esses cretinos osso duro de roer que não aceitam muito bem uma revolução. O texto não é novo, é do Joseph Newton, já rodou os quatro cantos da internet, mas considero importante ele marcar presença neste momento e integrar o combo especial de zé fini de ano.

Então, sem mais delongas, ei-lo:

O Princípio do Vazio

Você tem o hábito de juntar objetos inúteis, acreditando que um dia (não sabe quando) vai necessitar deles? Tem o hábito de juntar dinheiro sem gastá-lo, pois imagina que ele poderá faltar no futuro? Tem o hábito de guardar roupas, sapatos, móveis, utensílios domésticos e outras coisas que já não usa há muito tempo? E dentro de você? Tem o hábito de guardar raivas, ressentimentos, tristezas, medos e outros sentimentos negativos? Não faça isso! Vai contra a tua prosperidade! É preciso deixar um espaço, um vazio para que novas coisas cheguem à tua vida. É preciso se desfazer do inútil que há em você e em sua vida para que a prosperidade possa acontecer. A força deste vazio é que atrairá e absorverá tudo o que deseja. Se acumular objetos e sentimentos velhos e inúteis não terá espaço para novas oportunidades. Os bens necessitam circular. Limpe as gavetas, os armários, o depósito, a garagem. A mente. Doe tudo aquilo que já não usa. A atitude de guardar um monte de coisas inúteis só acorrenta a tua vida. Não são só os objetos guardados que paralisam a tua vida. Este é o significado da atitude de guardar: quando se guarda se considera a possibilidade de falta, de carência. Acredita-se que amanhã poderá faltar e que não haverá maneira de suprir as necessidades. Com esse pensamento você envia duas mensagens ao seu cérebro e à sua vida: a de que não confia no amanhã; e que o novo e o melhor NÃO são para ti. Por isso você se alegra guardando coisas velhas e inúteis! Até o que já perdeu a cor e o brilho… Deixa entrar o novo em tua casa e dentro de você!

Não sei vocês, mas eu balanço a cabeça dizendo sim, com barulhinho de sininho, a cada pergunta que ele faz. Mas a parte que mais me choca – não como um ovo – é que não confio no amanhã e acho que não mereço o melhor e o novo.

Whaaaat?

De novo: Eu não confio no amanhã. Eu acho que não mereço o melhor e o novo.

Isso é forte. Isso é uma coisa que ninguém quer admitir. Como assim, eu não mereço o melhor?

Mas se eu parar tudo, ficar em paz, refletindo sobre e olhando ao redor pras coisas que ainda mantenho comigo, parece que é isso mesmo que está por trás do excesso.

Mas afinal, o que nos faz ter coisas? O que nos faz adquirir coisas parecidas? Até onde vai a linha que divide o precisar de uma escova de dentes, para manter o emprego que nos traz comida e saúde, e o desejar mais uma peça de roupa que parece uma versão melhorada da que já temos?

Qual é o mal de desejar? O desejo levou o homem adiante na história. Desejou conforto ao caminhar e então desenvolveu proteção aos pés. Pendurava a cabeça das presas que capturava para expor e sentir estima por si mesmo, alimentando positivamente seu moral.

Os objetos, as coisas, são pequenas conquistas. Nos ajudam a reforçar, pra nós mesmos, quem somos e onde chegamos. Não é fácil ser quem somos. A todo momento nos convidam para ser um outro. Nossas conquistas ajudam a nos mantermos no nosso próprio caminho.

 

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Eu penso numa rosa. É das coisas mais lindas que se tem notícia aqui na Terra. Tem beleza que consiste da união de perfume, cor, textura e desenho agradáveis. Some a isso o fato de ela ser… um ser. Tem vida. Que é curta. Mesmo em terra. Então, se a vida não poupa a rosa, porque havemos de poupar os objetos? Por que consumimos tanto? Por que produzimos cada vez mais? Por que tanto lixo?

Eu avisei que a reflexão era profunda.

E sobre a força que o vazio tem? Uau. Sempre acreditei na necessidade de colocar a energia pra circular. Energia estagnada não me deixa nem dormir à noite! O Luis Fernando Verissimo disse algo assim uma vez, que as vírgulas num texto são como os espaços vazios arquitetados em uma casa. São fundamentais para o respiro.

Acho que nem vou adentrar na questão dos sentimentos inúteis, aqueles velhos, os que fazem a gente viver no passado, senão vamos até o ano que vem com isso!

Acho que tentar ser um ser humano melhor passa por questões como essas. Não consumir como um louco e não carregar consigo o inútil, seja sentimentos, seja lá o que for.

E eu mereço sim o novo e o melhor. Todos nós. Confesso que preciso confiar mais no amanhã. Exercício diário esse.

Vou seguir refletindo sobre isso. E que os espaços vazios que eu conseguir criar daqui pra frente sigam atraindo coisas novas e melhores.

 

Fotos e texto: Juciéli Botton para Casa Baunilha – Ilustração de guarda-roupa fotografada do Manual de Estilo da Esquire.

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