Florianópolis,  Por aí,  Santa Catarina

Palácio Cruz e Souza em Floripa

Uma das coisas mais lindas que você pode ver na Ilha da Magia não requer banho de protetor solar e nem vai te encher de areia. O Palácio Cruz e Souza é uma das belezas arquitetônicas, decorativas e históricas da ilha, de uma riqueza de detalhes e materiais inacreditável, que conta a trajetória da ocupação de Florianópolis. É aquela espécie de lugar que quem gosta de antiguidade fica de boca aberta do instante que entra até a saída.

 

 

Eu já fiquei boquiaberta com a obrigatoriedade do uso destas pantufas para não estragarmos o piso. Lamentei não ter isso em outros tantos lugares que já visitei.

 

O piso em madeira, com quase duzentos anos de vida, foi criado com a técnica da marchetaria que consiste em formar, por meio de materiais de colorações diferentes, desenhos belíssimos como estes.

 

O poeta catarinense João da Cruz e Sousa foi o principal nome do Simbolismo brasileiro e seus restos mortais estão guardados no palácio que leva seu nome. Só que antes de homenagear o poeta o local era chamado de Palácio Rosado, sede do governo do estado do período colonial até 1984. Hoje abriga o Museu Histórico de Santa Catarina.

O visual faz dele um exemplar do estilo eclético do final do século XIX, já que mistura os estilos barroco e neoclássico. Uma grande reforma nos primeiros anos de república adicionou os últimos traços ao palácio. Todos os detalhes de decoração e arquitetura como materiais em pedra, madeira, metal, vitrais, assim como os móveis da época, estão preservados e expostos. Mas o museu não está só se importando com o passado. Uma área dedicada a exposições de arte contemporâneas além da aula de pilates gratuita são apenas algumas das atividades com o pé no presente.

 

Quando chegamos, somos recebidos assim, com escadarias, tapete vermelho, muito mármore de Carrara e esculturas.

 

Ao olhar pra cima enquanto subimos as escadas, percebemos o que nos aguarda.

 

A riqueza de detalhes impressiona. Destaque para as meias esferas no alto, pintadas de azul. Cada uma traz o nome de um município de Santa Catarina.

 

O vitral sensacional do Salão Vermelho, a sala de jantar, é de influência art nouveau.

 

A mesa estava posta para o jantar com louça ilustrada e tudo.

 

 

Da sala de jantar, temos esta vista.

 

Mais um desenho incrível no piso de marchetaria.

 

Já a parte do piso de madeira que fica próxima da área da sacada faz fronteira com o piso de mármore.

 

 

O cartão em primeiro plano dizia que esta foi a primeira lâmpada residencial acesa em Florianópolis. Isso aconteceu na casa do governador Gustavo Richard no dia 01 de outubro de 1910.

 

Esta é a sala de visitas onde a primeira dama recebia e também realizava os saraus. O piso é uma loucura, com as linhas irradiadas a partir do desenho central.

 

No detalhe da próxima foto, o teto com o lustre foi decorado com motivos musicais. É só reparar que cada anjo toca um instrumento.

 

 

O piano é de origem francesa. Há também um violoncelo alemão e uma caixa de música alemã, em estilo art nouveau, do século XIX. A mobília é de origem austríaca, também do século XIX.

 

Esta outra sala tinha um teto inacreditável, totalmente coberto por ornamentos feitos em estuque. A águia carrega uma faixa escrita “Estado de Santa Catarina”, cujo laço suspende o lustre. Os dois anjos seguram um objeto, uma chave e uma âncora. Ao redor do núcleo, uma espécie de estrela de oito pontas se replica por toda a extensão. Desenho que se repete na marchetaria do piso – eu nem acreditei.

 

Detalhe da arte do teto mais de perto – não foi fácil conseguir a foto, o flash é proibido, embora eu não goste de usar mesmo, e a luz do ambiente é escassa.

 

Foi apenas nos anos 70 que descobriram esta parte do palácio. Ela ficava escondida com aberturas bem camufladas e até hoje não sabem pra que servia esta passagem. Pra mim é um daqueles corredores secretos que, em caso de invasão, perseguição ou guerra, o ocupante do palácio consegue se esconder ou iniciar uma fuga sem que seja visto. Sei lá, achei mais interessante do que ser um lugar para estocar carne. No destaque da foto de cima, uma parede foi preservada exatamente do jeito que foi encontrada, juntamente com o piso, em pedra.

 

Ainda na “passagem secreta”, vigas enormes e teto em madeira.

 

Estes azulejos são originais e estão preservados exatamente no local em que foram encontrados. Ainda na foto de cima (esquerda), podemos ver as peças na parede da esquerda do corredor. Achei sensacional a cena de pescaria retratada.

 

Esta é a área dedicada a exposições artísticas. Chão, teto, portas e rodapé em madeira, e que madeira! Adoro o contraponto dela com as paredes brancas e o colorido das obras. As colunas que lembram uma estação ferroviária também são demais.

 

Adorei os traços da obra Três Mulheres, de Hassis, de 1965. Ao lado, a porta do banheiro, gigantesca e em madeira original. No entorno, mármore.

 

O artista italiano Gabriel Silva esculpiu 10 estátuas para ornamentar as platibandas do topo da fachada. A padroeira do estado Santa Catarina, a ninfa dos mares Anfitrite e o deus mitológico Mercúrio são algumas das figuras. No jardim do Palácio há fragmentos de peças cerâmicas expostos que foram encontrados em escavações no local. Uma placa explicativa conta que a maioria das peças coletadas eram de faiança fina inglesa, o que indica a existência de relações comerciais com a Inglaterra no século XIX. Já os fragmentos encontrados de louça de barro cozido e torneado, produzida em olarias da região, e também algumas não torneadas e decoradas com padrões africanos, são um indicativo da existência de grupos de pessoas mais humildes no dia a dia do Palácio.

 

 

Adorei as luminárias da parte mais baixa do prédio com várias cúpulas redondas de vidro. As menores, do andar de cima, acompanham o design mas com apenas uma.

 

Detalhe do alto da fachada, com as inscrições: Estados Unidos do Brasil e 15 de novembro de 1889. Um pouco mais abaixo do brasão estrelado, o prédio é datado em números romanos.

 

Ângulos para fotografarmos a fachada não faltam. Neste, o Palácio fica emoldurado pelo verde da Praça XV de Novembro.

 

Não é difícil de se chegar ao museu. Ele fica bem localizado no Centro Histórico, em frente à Praça XV de Novembro, onde mora a figueira centenária e também a Catedral Metropolitana. Ou seja, não há como não se achar. O ingresso fica em torno de 5 reais. A guia que nos atendeu é de uma simpatia tremenda e ainda sabia tudo da história e da construção.

 

Adorei o passeio e recomendo muito a quem for a Florianópolis.

 

Encontrei um vídeo sobre o Palácio que você pode assistir clicando aqui. E se quiser saber mais informações sobre o funcionamento do museu, é só clicar aqui.

 

Fotos e texto: Juciéli Botton para Casa Baunilha

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