Sempre me senti meio deprê enquanto se aproximava a data do meu aniversário. Período que chamei de TPA, Tensão Pré-Aniversário, e que acontece desde que me foi dada a consciência. Mesmo assim, nunca deixei de celebrar, fosse com um almoço com a família, fosse um jantar com meu marido – em algum lugar improvável da serra gaúcha ou no nosso estimado apê, coisas que o inverno do Sul nos faz fazer.
As pessoas que não sentem e não entendem isso acham que a TPA tem a ver com a aversão a “ficar velho”, o que não se sustenta numa criança que fica contemplativa nas prévias da data do seu nascimento – data de nascimento em parte, porque o ano nunca se repetirá.
Na medida em que passava pelas introspecções dos aniversários e conversava com as pessoas sobre o assunto, vi que a TPA é mais comum do que pote de sorvete guardando feijão.
Também compreendi que a TPA é uma forma de honrar a data e de atravessá-la usufruindo da melhor forma o feito de mais um ano de vida. De que adianta avançar no currículo da existência sem nos questionarmos? “No fim, é sempre bom desconfiar da gente mesmo”, diz a frase cujo autor não me recordo.
Em algum momento disso tudo, precisamos parar e nos perguntar: É isso que eu quero? É isso que eu sou? É o bastante? Estou fazendo o suficiente? Até onde posso ir? Quais são as prioridades? Para o que preciso aprender a dizer não de uma vez por todas? Que situações fazem eu me distanciar de mim mesma?
O bom e velho “fechado para balanço”. O balanço precisa ser feito e se não fosse a data do aniversário lembrar disso, seria devorada pelo dia a dia automático e não evoluiria da forma que é esperada, pela vida, pelo mundo, pelas pessoas ao meu entorno e mesmo pelas que nem sabem que existo.
E por mim, que necessito disso. Porque o mundo reage a nós. E queremos que ele reaja com respostas positivas e proveitosas.
É incrível perceber a diferença das conclusões de um ano para o outro. O balanço que fiz em julho de 2019 sofre alterações consideráveis em julho de 2020.
Sou muito grata às TPAs. E mais ainda por entendê-las como parte do processo e como minhas amigas. É só mais um dos tantos mecanismos que nosso corpo e mente dispõem para nos salvar e nos tornar fortes para enfrentar o mundo lá fora.
Feliz TPA!
Foto e texto de minha autoria, Juciéli Botton, para a Casa Baunilha.