Foi mais difícil do que pensei. Achei que cobrir um dos cinzas mais claros da face da terra das tintas seria moleza. Cinco demãos. Cin-co demãos.
Minha sala estava com a cor de tinta Tubarão Branco, um cinza suave. Claro que a intensidade da cor depende de quantas demãos se dá e da concentração, mas o cinza em si não era escuro.
Trouxe para casa uma lata de tinta branca para cobrir as paredes e tive de voltar à loja para comprar mais uma. E serei sincera: se não estivéssemos tão cansados, pois meu marido assumiu o rolo maior enquanto cuidei das bordas com o pincel, teríamos pintado mais uma demão. Acho que começaria a ficar satisfeita a partir de 6 demãos.
É complicada a questão da aplicação de cores em um ambiente e, no processo de transição de uma cor escura para uma clara, a sensação é de que não importa quantas demãos você dá, o espírito da cor anterior estará sempre assombrando.
Lembro de esfregarmos os olhos, como nos filmes, tentando ver se já estava branco o suficiente, mas parecia sempre cinza, embora no encontro com o teto a pintura parecia equalizada. E no encontro com as demais paredes, da cozinha e do corredor, também parecia ter equilibrado.
Mas não adianta, sem as luzes acesas, na penumbra natural da sala que não é muito iluminada, o cinza parecia eterno.
Isso me fez pensar muito sobre a questão da pintura de paredes. Adoro ambientes dramáticos, com paredes escuras e itens de lojas de usados e antiquários compondo junto. Só que é muito mais fácil escurecer uma parede clara do que o contrário.
E com os galões de tinta atingindo preços inacreditáveis – e estou falando de branco, não de uma cor especial – é necessário pensar muito bem a respeito das decisões a serem tomadas quando formos pintar um cômodo.
E detalhe: digo tudo isso mesmo sendo proprietária do apartamento. Se eu tivesse de entregá-lo em função de aluguel, choraria no cantinho por ter gasto o que gastei para deixar a sala impecável para depois não morar nela.
E não é somente a questão do custo que pesa. Como o apartamento é pequeno e moramos nele, todos os móveis e objetos da sala estavam nos outros cômodos, isto é, atravancando os outros cômodos. Todos os quadros e objetos que ficavam pendurados estavam por todo o resto da casa, e não eram poucos. E estava quente. E estávamos cansados. E não queríamos prolongar o período de demãos, prolongando a exposição ao cheiro – as tintas classificadas como “sem cheiro” têm um cheiro, que fique claro.
Ainda bem que acordamos cedo e começamos a pintar em seguida. Preparamos a sala um dia antes. Assim, é possível dar todas as demãos o mais rápido possível, respeitando o intervalo entre elas, claro, recomendado pelo fabricante da tinta.
Por esse dispêndio de energia e saúde (mental e física) vale a pena pintar as paredes de branco, para que quando quisermos apenas renovar a cor, sejam dadas menos demãos, talvez apenas duas. E menos incômodo para quem mora na casa que está sendo pintada.
Antes e depois. Fiz o contorno dos itens da parede (suporte da TV e tomadas) e do rodapé antes (primeira foto).
5 motivos que me levaram a repintar:
- Com o tempo, comecei a perceber que o cinza tinha um quê de azul. E eu tinha pavor disso.
- Havia manchas de respingos próximo à mesa que não conseguimos remover.
- Havia uma mancha de gordura na parede em uma das laterais do sofá. Na lateral em que meu marido adorava se escorar. Por isso a mancha – tome cuidado com sofás sem braço em pequenos espaços, a parede vira o encosto.
- A sala é muito escura. No inverno temos o auge da escuridão. Queria muito clareá-la.
- As últimas férias foram um período significativo. Voltamos transformados em algumas questões e queria que nossa sala refletisse a experiência e as mudanças. E o branco foi a cor escolhida para transmitir e apoiar essas sensações.
Apenas uma demão e apenas o começo de um dia cheinho delas.
5 conclusões que tirei depois de repintar minha sala:
- Branco é uma cor amiga porque depois de um tempo, para apenas renovar a pintura, duas demãos poderão ser suficientes.
- O branco aceita pequenos reparos, caso precise pegar um pouco de tinta e cobrir alguma mancha com um pequeno pincel.
- Antes de pintar, pesquisei sobre COVs e parece que quanto mais clara a tinta, menos COVs ela libera. Dá um Google para ver sobre.
- Clarear paredes escuras será sempre mais trabalhoso, caro e cansativo.
- Aplicar cores escuras apenas se o imóvel é meu, se tenho planos de morar nele por muito tempo e se o ambiente não precisar de constantes manutenções, como na parede próxima à mesa de jantar e próxima ao sofá.
O item 5 gera controvérsias. Não é porque você mora de aluguel que não poderá decorar teu canto do jeito que quiser. A pintura das paredes ainda é o jeito mais fácil de redecorar um ambiente sem quebradeiras e grandes obras, processos difíceis de se realizar em um imóvel que não é nosso. Só que o que apresento aqui é a minha experiência.
Se eu morasse em uma casa gigante, bem arejada e que não precisasse agregar muitas funções em uma mesma área, talvez não visse problema em manter uma manutenção em cores mais escuras. Mas não é o caso.
E mesmo o apartamento sendo meu, mesmo que eu vá continuar morando nele, usufruindo do investimento nas tintas e no trabalho, eu não gostei de ter que cobrir as paredes com tanta tinta para equilibrar os brancos. Vi que mantê-las brancas é um negócio mais proveitoso para apartamentos pequenos. E porque eu gosto do branco. Como cor, mesmo. Para muitas pessoas é ausência de cor mas, para mim, é uma grande cor.
Aliás, estou preparando uma publicação para acabar com essas ideias populares sobre as cores, como a de que paredes brancas não possuem cor. Em breve estará por aqui.
Mas apesar dos pesares, é sempre bom poder renovar o nosso lar doce lar. Fico grata em ter essa possibilidade. Ainda mais em tempos pandêmicos, em que precisamos ficar mais reclusos. Nossa casa, mais do que nunca, é nosso refúgio, nossa toca, nosso escudo.
E se tu também estás pintando teu canto, não deixe de conferir as dicas para uma boa pintura nesta publicação aqui.
Fotos e texto de minha autoria, Juciéli Botton, para a Casa Baunilha.
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