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O dia da terraplanagem

Eu não tinha nem roupa. Pra mim, essa função de máquinas, terraplanar, aterrar e afins era coisa de um outro mundo ao qual eu não pertencia. Nunca imaginei que um dia eu construiria algo e ver uma máquina funcionando e modificando um espaço por minha causa é muito estranho, além de perturbador, porque não gosto de interferir em locais naturais assim. Eu ficava de olho em cada planta que a máquina retirava. Inclusive, uma era nada mais, nada menos do que um araçá e corri para pegar de volta e replantar.

Mas esse dia muito aguardado não girou em torno apenas das plantas e do mato no local. Havia um grande volume de entulho gerado pela demolição de uma antiga casa. Pela história que me contaram e pelas contas, quando ela foi demolida eu ainda nem era nascida. Então, ao longo dos anos, o mato cresceu sobre o entulho, além do fato de o terreno ser bastante irregular. A máquina veio para remover os escombros e alinhar um pouco o espaço.

Sou bem resistente a intervir em áreas assim mas conseguimos chegar a um consenso do que era necessário fazer e do que poderíamos manter.

Falando em manter, lutei bravamente por este jardim de bromélias, naturalmente criado, desenhado pela natureza. Desde o ano passado venho dizendo: ninguém mexe nas bromélias. Sempre defendi que a máquina só poderia ir no dia em que eu estivesse lá.

O Luís, especialista em terraplanagem, transitou com a máquina perto delas como um cirurgião. Nem as sêniors, nem as bebês sofreram qualquer dano. O estrago maior foi causado há tempos, quando grandes galhos de árvores próximas caíram sobre elas, ou em função de ventos ou por intervenção no terreno, mesmo. Muitas bromélias foram esmagadas e outras cresceram em torno dos galhos. Então agora eu começo o trabalho de limpeza, de retirada desses galhos e do mato em torno para que as bromélias apareçam e brilhem no jardim do jeito que elas merecem.

Nesta foto, registrei a porção das bromélias que pega sol direto e, por isso, fica amarela. São lindas demais.

Teve alguém, que não vou dizer quem é, que não estava nem aí para o que acontecia lá fora. Só queria saber de garantir seu lugar na volta para casa, para não ser deixado no sítio. Ou era só frio?

A primeira caranguejeira a gente não esquece. Esta aranha me ajudou a perceber que minha visão está muito boa. Eu estava dentro do carro fazendo carinho no Rogerinho, há muitos metros da máquina quando, de repente, ela levantou um grupo de pedras e vi aquele ponto escuro mexendo sobre uma delas. Pensei em como a aranha era grande, mas ainda com certa dúvida se era mesmo uma aranha. Dito e feito: o Luís parou a máquina para nos avisar.

Mais delicada que uma bailarina, ela atravessou toda a área do terreno em que a máquina trabalhava, passou por baixo do carro e seguiu na procura de um novo lar. Perseverante, não se deixou abater pelo maquinário.

Não foi fácil, eu nunca fiquei frente a frente com uma aranha dessas e sou aquele tipo de gente que leva susto com lagartixas, seres que se movem muito rápido e que já caíram sobre a minha cabeça.

Uma das inúmeras motivações para ter abraçado o sítio foi poder trabalhar esses sentimentos todos relacionados a esses animais que a gente cresce aprendendo a não gostar. Eu preciso ter a consciência de que estou num ambiente em que eles moram e precisam sobreviver.

Claro que se uma aranha dessas saltar do armário da cozinha, aí não respondo por mim, hahaha. Mas, brincadeiras à parte, tem bastante espaço no sítio para nós duas vivermos nossas vidas. Ela no canto dela e eu no meu.

Este é o araçá que a máquina acabou arrancando. Ele estava no meio do matagal e não fazíamos ideia que ele estava lá. Corri para pegar achando que era uma goiabeira mas depois meu sogro alertou que, na verdade, se tratava de um araçá. Fiquei muito feliz porque adoro araçá. Embora também adore goiaba.

No dia seguinte, o sol brilhou e corri para ver melhor como tinha ficado o espaço. Eu ainda não acreditava que tínhamos dado esse passo. Enquanto eu me dirigia até o sítio, a sensação era de que eu chegaria lá e estaria tudo crescido de novo, o entulho de volta ao lugar de antes, como se tudo não passasse de um sonho.

Mas era tudo real.

Agora, o próximo passo é continuar pensando numa possível construção e ir limpando o espaço.

E você, já se emocionou com os passos de uma obra ou reforma? Já teve a sensação de que nunca ia acontecer com você? Conta aqui nos comentários que eu quero saber.

Volto a qualquer momento com mais informações.

Fotos e texto de minha autoria, Juciéli Botton, para a Casa Baunilha.

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