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Mudas: o poderoso elo entre as pessoas

É fascinante o poder que as mudas têm de criar conexões entre pessoas que nunca se viram na vida. Parece que a regra “todo ser humano têm direito à muda” funciona melhor do que as leis constitucionais. E o mais interessante é que ninguém te ensina, não está escrito em lugar nenhum e funciona. Ninguém deixa o colega sem muda. Muito difícil alguém elogiar uma planta ou manifestar desejo em tê-la sem que o outro forneça uma muda.

Teve um dia, durante o período em que o Rogerinho esteve em Porto Alegre, que precisei sair para comprar ração pra ele e vi uma árvore que, na verdade, era um cacto. Um cacto gigante. Sem pensar duas vezes, me aproximei para fotografar e no pátio da casa em frente surge uma mulher. Comentei sobre a beleza daquela escultura natural, contei que era apaixonada por cactos ao que Guiomar, a senhora da casa, responde: quer uma muda?

Contou que ela e a irmã plantaram uma muda ali, na calçada, há uns 16 anos. E virou o que virou, uma árvore. Estava florida, como mostram as fotos. E como se não bastasse, tinha um parreiral de maracujá crescendo por cima dos fios dos postes, na calçada mesmo.

Ela tinha a muda plantada em uma lata e eu reaproveitei uma garrafa pet para manter a planta no meu apartamento, pelo menos até transferir para um vaso definitivo. E essa “nesga” de sol era meu foco durante as manhãs. Eu tinha que vigiar esse raio de luz natural que entrava no meu apê e posicionar o cacto nele. Em tempo: é o tipo de atividade (assim como o pôr do sol) que te permite observar como a Terra gira rápido, porque é só piscar para o cacto já não estar pegando mais sol, e lá ia eu reposicionar ele.

Aqui, o cacto já transferido para um vaso de barro e pegando muito sol na casa dos meus pais. Caso o cacto goste e continue crescendo, meu objetivo é levá-lo para o sítio, ou tirar mudas dele para levar pra lá, mantendo um pouco dele ainda na casa dos meus pais, se eles quiserem. Imagina, você se acostuma com uma planta e, de repente, ela não faz mais parte da paisagem.

Quero muito voltar lá na calçada da Guiomar, levar notícias da muda do cacto e também algumas bergamotas e verduras do sítio, em retribuição. Mesmo que os amigos de muda doem sem esperar nada em troca, a eterna gratidão é o que fica.

Fotos e texto de minha autoria, Juciéli Botton, para a Casa Baunilha.

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