SÍTIO

Nasce uma bergamoteira selvagem no sítio

Quando voltava da busca por água, minha perna foi cravada por um galho de ponta afiada. Sabe aqueles filmes tipo o Coração Valente, em que uma das armadilhas contra o inimigo é posicionar uma porção de troncos com a ponta cortada como lança, para as pessoas se espetarem? Aconteceu igualzinho só que feito pela natureza, que queria me dar um aviso – meio doído mas ok.

Ao parar para me jogar no chão e uivar de dor, mentira, não me atirei no chão, mas uivei de dor, eu enxerguei uma bergamoteira baby. Enquanto apertava o machucado, a fim de aliviar a dor, eu ia decodificando aquela planta: formato, cor, textura das folhas, altamente armada, com espinhos capazes de ferir gravemente Mel Gibson – quando mocinho nos filmes dos anos 1990, que fique bem claro.

A comoção foi grande: a árvore de uma das nossas frutas preferidas nasceu e estava se desenvolvendo muito bem. E a baby veio no momento certo. Pertinho dela há uma super bergamoteira, talvez sua mãe, que foi empurrada por uma máquina que passou por ali e que a deixou tombada – histórias de tempos remotos, de antigos donos, porque se estou lá isso não acontece. Ela frutificou nesse inverno, que foi quando descobrimos que a árvore tombada era uma fornecedora de bergamotas. Talvez a baby tenha nascido de uma das sementes que deixamos cair por ali, em meio a uma competição com os passarinhos para ver quem comia mais mexericas – para quem não é do Rio Grande do Sul e não sabe do que estou falando.

Não tínhamos os apetrechos necessários então tratamos de, no final de semana seguinte, cercá-la com tela para que os animais, principalmente as vacas, não a destruíssem.

Imagina eu em casa, sete dias de espera, torcendo para que nenhuma vaca comesse, pisoteasse, ou que seus filhotes dessem cabeçadas na bergamoteira – eu já vi eles destruírem uma plantação de bananeiras apenas com cabeçadas.

Na verdade, eu não sei como nós mesmos não pisoteamos a bergamoteira baby quando era apenas uma pequena folha saindo para fora da terra. É aqui que entra a lança da morte na história, para que eu visse e tivesse mais cuidado ao passar por ali.

Depois de se mostrar roxo, verde e amarelo, meu machucado melhorou e a bergamoteira baby continua crescendo, protegida e vigiada.

Tomara que ela se torne uma árvore linda, cheia de vitamina C – e alegria – para dar no inverno.

Um salve para a mãe natureza ; )

Fotos e texto de minha autoria, Juciéli Botton, para a Casa Baunilha.

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