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Nêspera: como eu produzi mudas de uma das minhas frutas preferidas

Durante quase toda a vida chamei de ameixa. Ameixa amarela, às vezes, para diferenciar das roxas, vermelhas. Quando soube que ela atendia, mesmo, pelo estranhíssimo nome de nêspera, me recusei a chamar assim. Hoje é nêspera pra cá, nêspera pra lá. Afinal de contas, ela é tão maravilhosa de gosto, de textura, de suculência, que nem pode ser chamada de ameixa. Uma coisa é uma coisa. Outra coisa é outra coisa.

Algumas publicações atrás, comentei sobre as possibilidades que o sítio nos trouxe. Uma delas é lidar com a terra, com as plantas. Criar mudas de árvores, sobretudo das frutíferas de que gostamos é das atividades mais incríveis que podemos fazer. E como venho falando, as frutíferas não vão matar apenas o nosso desejo de comer as frutas mas, também, a fome dos animais que frequentam o espaço. Quero plantar árvores frutíferas dedicadas a eles e comecei pela nêspera.

O plano era o seguinte: algumas mudas seriam plantadas próximas à casa, para o nosso consumo. Seriam podadas para que ficassem com um tamanho médio, para alcançarmos os frutos. Outras seriam plantadas junto à mata nativa, para os animais, deixando que crescessem livremente, atingindo grande altura para que pássaros, quatis, macacos e outros animais possam subir, tanto para se protegerem quanto para se alimentarem. E quanto maior a árvore, mais frutos.

O processo começou quando peguei algumas nêsperas para comer. A semente solta fácil e deixei secando em um prato. Depois, guardei em um vidro com uma folha de papel toalha para absorver uma possível umidade. Só tem um detalhe: eu esqueci delas e acabaram ficando no vidro por praticamente 01 mês.

Neste detalhe podemos ver que elas chegaram a mofar.

Mesmo assim, plantei as sementes. Usei 2 vasos que eu já tinha, daqueles que vêm com as plantas que compramos na floricultura, e plantei 4 sementes em um e 5 no outro. Pode parecer apertado para a quantidade, e é, mas já planejava transferir as mudas depois que brotassem. O processo foi: uma camada de brita no fundo para ajudar na drenagem, terra preta comprada em agropecuária e apenas afundei as sementes na terra, cobrindo depois mas sem apertar para que os brotos consigam vencer a terra e chegar à superfície.

Após plantar, molhei a terra. A rega funciona assim: com uma das mãos seguro o vaso e, com a outra, abro a torneira do tanque e deixo a água correr pela mão. Então posiciono a mão acima da terra para que o resquício de água caia sobre ela. Foi dessa maneira que reguei as mudas por um longo período. Se colocarmos o jato de água direto ele descobre a semente. Reguei todos os dias, sempre que notava a terra seca e deixei na sombra, em área descoberta. Levava os vasos para um local seguro sempre que estava para chover, a fim de proteger as sementes. É cuidar como se fossem bebês, até porque, são. O plantio aconteceu no dia 26 de setembro.

Dia 23 de outubro, dia em que voltei a ver os vasos  – estavam na casa dos meus pais – e notei que tinha brotado! Isso é emoção pura para mim. Sei que acontece sempre, todos os dias, em todo canto e que para muitas pessoas é lugar comum. Mas eu fico bem emotiva de acompanhar o nascimento de plantas e o seu desenvolver.

Dia 26 de outubro, mais dois brotos surgem. Levei o vaso até uma área ensolarada apenas para fotografar, e no sol fraco, cedo da manhã.

Dia 29 de outubro, apenas 3 dias após a foto anterior e já estavam maiores, com o quarto broto surgindo. Elas continuavam na sombra mas cresceram se inclinando na direção onde batia sol no espaço onde estavam.

Dia 31 de outubro, 5 brotos em um vaso e 4 no outro. Todas as sementes brotaram.

Dia 03 de novembro, dia de transferir as pequenas mudas para vasos maiores ou solitários.

Cacos de tijolo no fundo para drenar bem a água e evitar que as raízes apodreçam.

As raízes branquinhas e a semente que ainda lembra o formato com que saiu da fruta.

Usei uma colher para soltar as mudas. Todo cuidado é pouco quando se trata de mexer com raízes tão delicadas.

Dia 07 de novembro. Neste estágio, comecei a levá-las para tomarem sol. Mas o fraco, da manhã e da tardinha.

Dia 23 de novembro. Maiores assim, já podem tomar sol direto. Mas ainda protejo da chuva e jamais faço a rega durante o sol do meio dia. Sempre molhei cedo da manhã e à tardinha. Neste estágio já podemos fazer uma concha com a mão para captar água e regá-las dessa forma.

Dia 12 de dezembro.

Todo esse processo de produção das mudas, de regar com a água pingando das mãos, de não expô-las ao sol do meio dia, de proteger da chuva, eu fiz de forma intuitiva. Não cheguei a pesquisar sobre isso porque, na verdade, há mil e um tipos de processos quando se trata de plantio. Tem quem misture uma série de produtos na terra para torná-la mais fértil, entre outras medidas. Eu optei por uma linha mais sensitiva, que é o que esse tipo de atividade promove e desperta na gente. Se nos sentirmos verdadeiramente conectados com a natureza, conseguimos perceber algumas necessidades e nos guiarmos pelas respostas que vamos obtendo das plantas ; )

É sensacional observar, em uma pequena muda, as características tradicionais de uma determinada planta. As folhas da nêspera possuem esses pelos por toda a superfície e cortes pontudos em suas laterais. Curiosamente, a fina casca da fruta também é coberta por uma pelugem. Quando adultas, as folhas ficam escuras e bem duras, podendo cortar como faca os frutos. Inclusive, para evitar que machuquem os frutos, os produtores retiram as folhas próximas para que cresçam bonitos e saudáveis.

Produzir mudas, se envolver em um projeto maior, acompanhar o desenvolvimento das plantas é um processo incrível, eu amo muito fazer isso.

Conta aí nos comentários: você já conhecia o verdadeiro nome da “ameixa amarela”? Gosta de nêspera tanto quanto eu? Cria mudas de plantas em casa?

Fotos e texto de minha autoria, Juciéli Botton, para a Casa Baunilha.

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