SÍTIO

Como as árvores e os jardins da cidade podem inspirar o visual do sítio

Cada vez que saio do apartamento e ando pelas ruas de Porto Alegre é uma oportunidade de visualizar o sítio. Os jardins e árvores que encontro pelo caminho me ajudam a pintar um quadro verde.

Pode parecer uma tarefa fácil plantar árvores e folhagens em um pedaço de terra, e acredito que para muitas pessoas é, mas o fato é que há muito em jogo. Pelo que já entendi, não deveria ser uma ação aleatória.

Lembro de quando ia na casa da minha amiga na época da escola. Tínhamos que atravessar um longo corredor de grama e árvores enfileiradas até chegar à casa. As árvores produziam cachos de frutas pequenas, escuras e não comestíveis. Elas caíam na grama por todo o corredor verde e não havia como não pisar nelas. Tinham um cheiro enjoativo que infestava a casa por conta dos sapatos. Esse é o tipo de árvore que não quero plantar no sítio.

Outra árvore que não vou ter de jeito nenhum é a que mora na calçada da minha rua. Ela solta porções de uma meleca transparente. Até hoje, ainda bem, todas caíram na calçada, nunca na minha cabeça.

Há um espaço cultural em Porto Alegre que possui um jardim lindo. É harmonioso pois combina árvores de pequeno porte, arbustos, folhagens e plantas de forração, ou seja, mescla diferentes alturas além de ser riquíssimo em texturas e cores diferentes de folhas.

Árvores enormes dão bom dia a quem mora no oitavo andar. Há um arbusto que vejo o tempo todo, amarelado, usado como cerca viva e cortado de forma quadrada. Ele é um ícone da vida na cidade de tanto que vejo por aqui. Um motivo para eu não plantar no sítio.

É bom observar, por exemplo, se determinada árvore gera uma sombra gigante e perene. Se construir a casa sob uma dessas ou se plantar um exemplar perto, a construção poderá ficar muito fria, dependendo da região em que fica o sítio (não somente região estadual mas de altitude)

Quero atrair abelhas, alimentá-las. Então penso sobre qual tipo de flor me agrada e pesquiso as plantas que as oferecem. Adoro a flor do jasmim manga, aquela amarela com branco. E o que mais gosto no jasmim manga é que podemos ter duas árvores em uma. Quando está desfolhada, apenas com os galhos, fica igualmente linda, parecendo uma escultura. Diferentemente dos Ipês, que são belíssimos quando floridos, mas “deprês” quando pelados.

É preciso pensar nessa sazonalidade das plantas, na perenidade da sombra e, por isso, a cidade é meu laboratório. No espaço urbano as árvores e plantas já estão todas crescidas e consigo observar as mudanças a cada ciclo. Dessa forma, identifico quais espécies ajudam a sanar os problemas que podem ter no sítio ou valorizam os aspectos positivos.

Para isso, vale não somente uma observação da flora da cidade como também do próprio sítio. Já comentei aqui algumas vezes que achei uma grande vantagem não sair construindo no sítio logo de cara. Ainda bem que não tínhamos dinheiro pra isso porque, assim, podemos observar o verde que existe por lá e analisar como melhorar o ambiente e evitar possíveis erros com o plantio de algumas espécies.

Quando chegamos no sítio era dezembro. As grandes árvores que ficam na área onde queremos construir tinham as copas bem cheias e a sombra que faziam era perfeita para refrescar e nos proteger do sol e do calor intenso. Neste inverno que passou, elas desfolharam e o sol pode atravessar entre os galhos, o que amenizou o frio – afinal, Rio Grande do Sul. A natureza é perfeita e nós podemos e devemos usufruir dessa perfeição.

Essas árvores são perfeitas para integrar o espaço da casa em função dessa diferença entre as estações. E isso nós só pudemos compreender a partir da observação ao longo desse ano. Dessa forma, aumentamos as chances de acertar nas decisões em relação à posição da casa, entre outros fatores.

A cidade pode fornecer, inclusive, sementes! Estas eu encontrei em Porto Alegre, de um pé de cerejeira na calçada. Já pesquisei sobre como plantá-las, tudo experimental, claro, pois não tenho experiência, mas não vejo a hora de colocar em prática. É na tentativa e erro que a gente aprende.

 

Esta é a folha da árvore grande da foto de capa desta publicação, que pode me ajudar a identificar a espécie. Sempre consulto o livro do Harri Lorenzi, Árvores e Arvoretas no Brasil. Ainda quero adquirir a coleção sobre as árvores nativas, que pode ser o caso desta.

 

Interessante esta folhagem: ela tem uma altura boa e fica bem fechada, perfeita para preencher alguns espaços junto às cercas divisórias do sítio sem bloquear a vista. O jardineiro do condomínio foi bem solícito e disse que se tratava da Alpinia Variegata. Em pesquisa na internet, encontramos como Alpinia Zerumbet Variegata e, no livro Plantas para Jardim no Brasil, do Harri Lorenzi, ela está classificada apenas como Alpinia Zerumbet. O jardineiro, inclusive, contou que também tem um sítio e deu várias dicas sobre plantas, até explicações sobre a coloração dos liquens, que varia de acordo com a composição do ar (poluição, etc).

 

Esta foto é de 2015 e trouxe aqui para exemplificar que, embora o passeio pelas grandes floriculturas seja agradável e tentador, afinal, dá vontade de levar tudo, nem sempre é suficiente para conseguirmos definir quais espécies serão as melhores escolhas para o sítio. Nas lojas, as plantas são novas e cresceram sob condições controladas. É caminhando pela cidade que podemos encontrar exemplares plenamente desenvolvidos e que, com o passar do tempo, mostram reações às diferentes estações climáticas, além da interação de seu volume com a luz e a sombra.

Conta aí, você também fica de olho nas árvores e jardins da cidade?

Fotos e texto de minha autoria, Juciéli Botton, para a Casa Baunilha.

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