Florianópolis,  Por aí,  Santa Catarina

Um post sobre segurança ou, pelo menos, sobre a “sensação de”

 

Faz alguns posts que venho compartilhando por onde andei em Florianópolis em maio deste ano. Foi uma viagem que eu costumo chamar de viagem de reconhecimento de território. E como em qualquer viagem, há sempre aquele momento que nos leva para além das belas paisagens e outras concretudes da cidade. O momento do choque de realidades.

Quando meu marido e eu viajamos a gente sempre programa um dia, ou pelo menos um período, para fazermos uma caminhada em uma região específica, que seria o que nós faríamos na nossa cidade, sem nos preocuparmos com lugares para ver e conhecer, nada disso. Só para sentirmos como é estar ali, como seria pertencer àquele lugar. Uma coisa de feeling mesmo. Então, em Floripa, depois de conhecermos, no lado continental, a Praça de Coqueiros, o Salão de Festa das Bruxas de Itaguaçu e a Via Gastronômica de Coqueiros, estacionamos o carro pouco depois de passarmos por baixo da Ponte Hercílio Luz, ainda em restauro, e seguimos caminhando pela Av. Beira-Mar Continental. A minha intenção nem era ficar registrando, mas o desenrolar da coisa me surpreendeu tanto que não resisti.

A sensação de segurança era muito forte. Na medida em que avançávamos, escurecia ainda mais – era fim de tarde e, ainda por cima, estava nublado – e mais gente surgia para caminhar e fazer atividade física. Famílias, casais, crianças, meninas andando de patins e sozinhas, pessoas com seus cachorros. Para mim, que vivo em Porto Alegre, onde todo mundo entra em cárcere privado depois das sete horas da noite, o que se mostrava diante dos meus olhos era algo inacreditável. Sobretudo porque no início fiquei um pouco receosa. Aquela área, por incrível que pareça, não tem muitos bares e restaurantes, ou outros estabelecimentos que pudessem estar abertos, que é o que a gente acha que vai encontrar quando se está numa orla, ainda mais em Florianópolis. Se trata de uma área mais residencial e já estava tudo fechado naquele horário, que flertava com as sete horas da noite.

Ao final da pista para caminhada, há aquelas ilhas para exercício, as academias ao ar livre, junto a um parquinho onde muitas crianças aproveitavam. Era domingo e, quanto mais tarde ficava, mais gente saía de suas casas para ir até lá e, em momento algum fiquei com aquela sensação de que pudesse ser assaltada.

 

Aqui, estamos na parte continental de Florianópolis, olhando para o sul. A ilha está do outro lado, à nossa esquerda.

 

Uma curiosidade: a Ponte Hercílio Luz foi inaugurada em 1926. Em 1991, foi interditada por má conservação e só em 2015 sua reforma foi retomada, depois de muitas idas e vindas de várias empresas. Muito tempo perdido. E o brasileiro que nunca viu um ícone de sua cidade agonizando, que atire a primeira pedra.

 

Vista para o centro da capital, na ilha.

 

Agora demos as costas para a ponte e estamos olhando para a pista da Av. Beira-Mar Continental. Inaugurada em 2012, ela foi criada por meio de aterramento para desafogar o trânsito na região.

 

 

Sempre olhando para trás para conferir a ponte.

 

Agora, mais “anoitecido” – lembrei de Guimarães Rosa, que adorava inventar palavras.

 

 

 

Estação para exercícios e, mais adiante, a pracinha.

 

Chegando ao final da pista para caminhada, é hora de olhar para o que foi percorrido.

 

De volta, agora mais escuro do que nunca, as nuvens criam um cenário apocalíptico.

 

Tivemos essa mesma sensação de segurança na praça Getúlio Vargas, no centro, próxima ao apartamento em que ficamos. Era sexta-feira, passava das nove horas da noite e muitas pessoas passeavam, ou permaneciam sentadas nos bancos e muitas crianças aproveitavam os brinquedos da pracinha, enquanto seus familiares faziam churrasco próximo ao bar que fica na praça.

 

As crianças brincam à noite na praça.

 

O bar da praça onde as famílias faziam o churrasco.

 

A foto saiu um pouco tremida mas deu para captar a beleza do chafariz.

 

Árvores com carinha de cem anos.

 

Como em muitos pontos de Floripa, mais uma estação para exercícios.

 

Uma praça bem cuidada, bem iluminada, que realmente dá vontade de curtir.

 

Conversamos muito com pessoas da cidade sobre como é morar, como é a sensação de segurança e tal. A gente sempre faz isso quando viajamos. E no caso de Floripa, todo mundo, com os pés no chão, claro, é bem orgulhoso da cidade. Aliás, encontramos gente do RS que se mudou para lá e que, bom, primeiro, parou para falar com a gente, porque se é aqui eu fujo da pessoa que me chama na calçada e, segundo, descreve uma vida muito tranquila. Não estou querendo dizer que um lugar é melhor que o outro. Aliás, vimos muitos problemas em Floripa que se repetem em todos os lugares. Só que o recorte deste post é “segurança” e um fato irrefutável é que nos sentimos muito seguros por lá.

 

 

Acho muito bom esse “sentir a cidade” e as experiências que nos fazem refletir sobre o modo como vivemos, repensar alguns conceitos, lembrar que a gente apenas se acostumou a viver enclausurado mas que não é o normal, não é o saudável, não é o tolerável. Enfim, para pensarmos, minha gente.

 

Fotos e texto: Juciéli Botton para Casa Baunilha

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