Por aí,  São Paulo

Eu não faria isso em Porto Alegre | Sobre segurança e O Pedaço da Pizza

São Paulo, capital, segunda-feria à noite, quase nove horas, saio da rua de trás do prédio da Fiesp da Avenida Paulista, a Alameda Santos, e caminho 1,9 quilômetros até o Teatro Augusta, atrás de um lugar para jantar – e para passear, claro. Do teatro, volto mais meio quilômetro até O Pedaço da Pizza, onde janto, finalmente.

Enquanto fazíamos malabarismos com o queijo puxante das fatias de pizza, comentei com meu excelentíssimo: nós nunca vamos andar essa distância à noite em Porto Alegre, e ainda vamos voltar tudo a pé, mais tarde ainda.

Já escrevi sobre a sensação de segurança em outras cidades. Há uma pontinha de tendência a acharmos que onde estamos é mais seguro do que o lugar de onde viemos devido ao encantamento. Ou, simplesmente, porque a cidade a se conhecer é mais segura mesmo. Só que o que aconteceu em Sampa é simples: o caminho Paulista-Augusta inclui duas vias das mais icônicas de São Paulo, que oferecem muitos lugares ainda abertos tarde da noite, como shopping, restaurantes, lojas, salões de beleza, bares, o que implica iluminação em todo canto, muita gente circulando, trabalhadores, estudantes, famílias.

E pessoas de bem chamam pessoas de bem e todo mundo anda junto e não abandona suas ruas. Sem contar o trânsito, muito tráfego ainda acontecendo, vendedores ambulantes, artistas se apresentando nas calçadas. Tudo isso junto cria o clima de redoma de proteção. É claro que, apenas por sermos brasileiros, sabemos nos proteger em qualquer lugar do mundo. As precauções que tomamos em nossa cidade nos preparam para circular por qualquer outro centro urbano do planeta – celular guardado, bolsa bem segurada, basicamente.

Em Porto Alegre meio que existe um toque de recolher. A maioria esmagadora da população evapora das ruas ao anoitecer. Sei que segurança é assunto polêmico e muito do complexo, toca em questões como orçamento, policiamento, urbanismo, e implica comparações entre cidades ricas e cidades não tão ricas. Porém, mesmo assim, não posso deixar de registrar meu descontentamento. Fico decepcionada por Porto Alegre não oferecer essa sensação de estarmos seguros. Peguemos, também, uma via icônica da capital gaúcha: a Ipiranga, ou a Osvaldo Aranha. Ou, ainda, a Protásio Alves. Talvez a Independência, ou a 24 de Outubro. João Alfredo, Borges de Medeiros. Enfim, a que preferir. Você caminharia por ela às dez da noite, em dia de semana, tranquilo?

Trago essa questão porque fiquei pensando muito sobre isso – que é uma das coisas que viajar faz com a gente, nos coloca para questionar – e o que me incomoda não é somente a insegurança mas, também, a impossibilidade de resolver a minha vida à tardinha, ao anoitecer. A tal da “vida após o trabalho”. Por exemplo: nunca consegui cortar meu cabelo ou mandar fazer uma bainha em dia de semana. A hora de saída do trabalho é a hora em que o cabeleireiro e as costureiras estão fechando aqui em Porto Alegre. Sei que há salões em shopping, maiores e caros, e ateliês de costura também. Mas me refiro aos salões e costureiras triviais, de rua, a que milhões de pessoas vão.

O fato de haver muitos espaços em vias nobres de Porto Alegre para alugar ou vender, em vez de já abrigarem um comércio, é um indicativo de que algo vai mal, de que não é atrativo abrir negócio aqui – na verdade, para quem acompanha as notícias, está difícil empreender no Estado todo, há tempos, vide a extinção de várias grandes empresas.

Porto Alegre, por ser uma cidade grande-pequena, deveria ser mais fácil de ser assistida, cuidada, seja na segurança, seja na facilitação para a abertura de novos negócios. Um incentivo a mais para os empreendedores, sendo que alguns estabelecimentos poderiam alargar seu horário de funcionamento, ou até abrir mais tarde no turno da manhã para compensar. Isso empurra as pessoas para o convívio, convida para estarem na rua até mais tarde, sendo saudável para a vida social, e a da cidade.

Uma pena não termos o direito de caminhar sem rumo à noite em Porto Alegre, procurando aleatoriamente por um lugar para jantar. Mas continuarei a sonhar com noites mais tranquilas, acredito que isso é possível. Porto Alegre merece.

Pois bem, vamos agora ao jantar que tivemos, maravilhoso, bom e barato, na Augusta.

O Pedaço da Pizza é um lugar simples, aconchegante e serve fatias de pizza excelentes, de vários sabores, cujos preços variam entre R$8,50 e R$14. Elas saem do forno que fica logo na entrada, onde podemos visualizar o chef preparando. Saem pelando de quentes.

 

Pedimos as de tomate seco e rúcula, portuguesa e marguerita. Todas deliciosas. Foi a nossa janta antes do voo no dia seguinte, cedo. Comemos duas fatias, cada, e saímos satisfeitos e não muito cheios. Foi perfeito. Perfeito porque nunca vou comer sushi ou um boi antes de entrar em um avião, entende? Então, esse lugar eu recomendo para quem quer fazer uma última refeição em Sampa honesta e sem estragos – na carteira e no estômago.

 

Desculpe as fotos meio embaçadas, como diriam os paulistanos, mas o que vale é a intenção de registrar para vocês, né não?

O Pedaço da Pizza fica na Rua Augusta, 1463, no Bela Vista. Há opções de pizza doce também.

Todas as fotos e o texto são de minha autoria, Juciéli Botton, para a Casa Baunilha.

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