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Santo Antônio de Lisboa | Floripa

Dá pra acreditar que a história desse lugar começou em 1698? Se não, antes. Eu quero resgatar e registrar aqui na Casa Baunilha alguns lugares praianos que visitei em maio de 2018 em Florianópolis, já que é tempo de caloria, como diria minha vó, ou, pra quem não entendeu, é tempo de verão. Embora eu recomende muito visitar esses lugares em baixa temporada. Quer dizer, isso é muito relativo. Tem gente que gosta de agito, de gente. Muita gente. Eu adoro olhar para as estreitas e pacatas ruas de Santo Antônio de Lisboa e ver isso: ninguém. Adoro a paz, a tranquilidade, o barulho suave das pequenas ondas de baía que chegam na beira da praia.

 

Acredito que não é novidade, pra muita gente, que as praias de Floripa são muito bonitas. Mas depois que as conhecemos, assim como qualquer outra beira de praia, não há mais o que decifrar por ali. Digo, turisticamente falando. Temos água à frente, cidade atrás, às vezes morros nas laterais. A configuração da beira mar se resolve em poucos instantes no seu entendimento consciente. Por isso eu fazia questão de conhecer e gastar meu tempo muito mais em lugares como Santo Antônio de Lisboa – e também Ribeirão da Ilha –, históricos e ricos em arquitetura e arte, do que nas praias mais populares. Eu já tinha ido à ilha quando muito criança, então quase não havia lembrança. Então, esta última viagem que fiz foi para o que eu chamo de reconhecimento de território. Estive no maior número de praias e lugares que o tempo e a disposição permitiram, para que eu escolhesse os “com estrela” para futuros veraneios.

E Santo Antônio de Lisboa não decepcionou. O bairro, praia e distrito de Florianópolis, foi um dos primeiros da ilha a receber os imigrantes açorianos, que deixaram marcas mais do que características nas construções seculares, nas ruas e na cultura. Santo Antônio de Lisboa também integra, junto com os bairros Sambaqui, Barra do Sambaqui e Cacupé, a Rota Gastronômica do Sol Poente, pela concentração de restaurantes que servem pratos com as iguarias do mar, como as ostras, e pelo incrível pôr do sol.

 

As lojas e ateliês, em sua maioria, numa época de baixa temporada, abrem apenas após o almoço. Depois da sesta. Não é demais isso? Alguns restaurantes e um supermercado, e até uma ferragem, estavam abertos. Então, pela manhã, o que podemos fazer é conhecer a primeira rua calçada do estado de Santa Catarina, na Praça Roldão da Rocha Pires.

 

Muito bonita a placa, com azulejos de inspiração portuguesa, que explica um pouco sobre a história da cidade (no outro lado) e sobre a rua que foi calçada especialmente para receber o imperador Dom Pedro II, ainda preservada.

 

Grandes árvores na pequena praça da primeira rua calçada de Santa Catarina.

 

Imagina as gurias de 1845 caminhando com seus saltinhos aqui.

 

Esta casa, que hoje é um restaurante, foi a que recebeu o imperador. Na foto seguinte, detalhe das paredes externas, construídas com pedras de tudo que é formato. Não tem muito a ver com os cubos transparentes do segundo andar mas, abafa o caso.

 

Se não me falha a memória, havia até conchas do mar na mistura da parede.

 

A rua do Dom Pedro II, vista por outro ângulo. O pessoal aproveita para descansar sob as sombras durante o horário de almoço.

 

Outro aspecto muito interessante em Santo Antônio de Lisboa são as casas, construídas na época da colonização e de acordo com o estilo açoriano. E se você viajar agora, nesse momento, para uma das ilhas açorianas, como eu fiz via Google Street View, mais precisamente em Angra do Heroísmo, e caminhar pelas ruas, como a Rua Ciprião de Figueiredo, vai perceber que as características se repetem. A forma quadrada ou retangular da construção, isto é, linhas mais retas, e as janelas e portas destacadas do resto da estrutura por meio de bordas, também retas, sempre pintadas de uma cor diferente da cor das paredes. Os telhados também são muito parecidos. Eles descem de um centro mais alto, e ultrapassam um pouco a borda, geralmente com um detalhe contínuo sob as telhas finais. Em Santo Antônio de Lisboa, muitas dessas casas, hoje, funcionam para o comércio, como lojas, ateliês e restaurantes.

 

Na ilha que “visitei” em Angra do Heroísmo, nos Açores, as ruas também são estreitas e praticamente sem calçadas. Aliás, mais estreitas do que essas. Um aspecto que senti em Santo Antônio de Lisboa e que vemos nesta foto: aquele morro lá adiante, e que também se repete do outro lado da vila (como aparece na foto da placa de azulejos), dá a sensação de que o mundo acaba ali mesmo. Uma coisa meio Show de Truman. Não acham?

 

Em algumas casas de arquitetura açoriana, a combinação de cores é incrível, meio eu-não-teria-pensado-nisso. Parece que com um conta gotas pegaram o tom de azul do céu e replicaram nas janelas e porta. Reparem que a pintura não tem uma cobertura muito grossa, já que podemos ver as outras camadas de tinta descascadas por debaixo. Isso porque, provavelmente, foi usada a técnica da pintura caiada, que vem de cal, muito usada em muros e como alternativa mais barata, e que pode ser usada também em ambientes internos, oferecendo uma textura visual incrível. Há uma receita para preparar a pintura caiada, que envolve água, cal, cola branca, óleo de linhaça e corante na cor desejada. É bom se informar com quem entende e fazer uma ampla pesquisa para saber melhor como obter essa mistura, se para ambiente externo ou interno, antes de aplicar na sua casa. Eu adoro esse visual leve e meio manchado do caiamento. Na sala ou no quarto, ficaria incrível.

 

Até os lugares que ainda não estavam abertos ofereciam cenários interessantes.

 

Um bocadinho de céu para este bocadinho de arquitetura e estética muito antigas. A Igreja de Nossa Senhora das Necessidades é de aproximadamente 1750, e foi tombada por ser “uma das mais belas expressões do barroco no sul do Brasil”. É mais uma atração que pode ser vista pela manhã. Ainda nesta foto: adoro as linhas de transição entre as nuvens e o azul do céu. Parece uma pintura.

 

Olha o nível de detalhamento disto. Tá olhando? Esta igreja vai ganhar uma postagem especial – a minha lista de igrejas à espera de posts especiais só aumenta.

 

Santo Antônio de Lisboa possui vários restaurantes com decks que avançam sobre a areia e que proporcionam um almoço com vista para a Baía Norte. Recomendo muito esse programa para quem estiver hospedado seja lá em que praia for, ainda mais em baixa temporada: almoçar de frente para o mar, tanto em Santo Antônio de Lisboa quanto em Ribeirão da Ilha, que também tem águas calmas de baía – confira o post sobre onde comer em Floripa. Não tem mais clima de férias pra mim do que isso: uma refeição com brisa, vista, tranquilidade e comida maravilhosa.

 

Maravilhosa mesmo. O peixe do almoço foi uma anchova, pescada em alto mar na Praia do Santinho, assada no carvão. Um dos melhores peixes que comi na vida. Sabe quando a quantidade de sal está na medida? Nem de mais, nem de menos. O tempero, o ponto, tudo perfeito. E olha, alimenta umas quatro pessoas. O restaurante escolhido foi o Chão Batido. Os guris são muito atenciosos e queridos, todos vestindo camisetas com dizeres da ilha.

 

A vista do deck do restaurante. Eu sempre gosto de olhar os arredores e entender onde estou, de onde vim e pra onde vou. Na esquerda da imagem, temos uma porção da ilha coberta pelo verde. Indo no sentido da leitura, para a direita, logo que esta porção da ilha acaba, ao fundo, temos os prédios do Centro da ilha e, mais à direita, a Ponte Hercílio Luz (duas pontas escuras para cima).

 

 

Todos alimentados, é hora de alimentar a mente. Depois do almoço, o artesanato ganha vida. A Casa Açoriana é uma espécie de galeria e loja, com exposição de peças artísticas e venda de suvenires e artigos para a casa.

 

Esculturas feitas com diversos materiais. Adorei todas.

 

Xilogravuras belíssimas de Ramon Rodrigues, designer e artista de Florianópolis. Me arrependi de não ter trazido uma para casa. Eu gosto quando os objetos que escolho para decorar as paredes carregam lembranças de coisas que vivi, como as viagens.

 

 

Até o cachorro é tranquilo em Santo Antônio de Lisboa.

 

Quando a gente acha que não tem o que retocar na igreja…

 

O Café Cacupé – em Cacupé, mais ao sul de Santo Antônio de Lisboa – era onde eu queria comer um doce depois do almoço. Mas como estava fechado, continuamos o passeio mais adiante pela Estrada Haroldo Soares Glavan, com vista para a Baía Norte.

 

E com as ondas chegando pertinho da estrada.

 

Se não me engano, aquele é o Morro da Cruz, onde tem o mirante, rádios e redes de TV. Santo Antônio de Lisboa não é longe do Centro. Bom, pelo menos, a menor distância entre dois pontos é uma reta.

 

UM CAUSO

Eu estava com meu chapéu-anti-sol-no-rosto, já que o passeio em Santo Antônio de Lisboa acontecia no horário do meio dia, e lembro de passar em frente ao supermercado, avistar um homem saindo dele, e cumprimentá-lo. Achei que seria educado, achei que tinha sido tomada pelo clima do lugar e cumprimentei um desconhecido. E segui meu caminho, visitando o bairro. Lá pelas tantas, dei falta do chapéu. Que fim levou meu chapéu? Voltei na igreja, na praça, nas ruas por onde andei e nada. Até que um homem sai de uma ferragem e pergunta: está procurando alguma coisa? E eu: meu chapéu! Ele voltou para dentro da loja, foi para trás do balcão, de onde tirou meu chapéu. Ele disse que viu o chapéu caído na rua, e que uma pessoa se aproximava para pegar, quando ele correu e disse “é da moça que me cumprimentou” e guardou para mim.

 

Até o próximo post sobre algum lugar de Floripa.

 

Fotos e texto: Juciéli Botton para Casa Baunilha

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