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Tua praia preferida é linda ou ótima?

Pois é, o verão já se foi e parece não ter mais nada a ver o assunto praia. Mesmo se quiséssemos passar frio na beirada do oceano, não é permitido pois estamos em regime de isolamento. Contudo, preciso colocar em dia as conclusões que tirei das minhas últimas férias, que se passaram à beira mar.

Na verdade, o assunto me persegue há anos. Este diálogo sempre acontece quando volto da praia: a pessoa pergunta que praia? e eu respondo e lá vem de volta: ah, é o paraíso!!! Com três pontos de exclamação. Na verdade são quatro mas não gosto de número par.

Nunca sei o que dizer de volta, porque não era o paraíso, não. No paraíso não tem gente ouvindo o estilo musical preferido num volume tão alto a ponto de não conseguirmos pensar, nem jet ski voando sobre a tua cabeça. Ah, tu estava falando da água cristalina?

Mas afinal, a tua praia ideal é aquela que é linda ou aquela que é ótima, gostosa de ficar? E sim, existe praia que pode ser as duas coisas.

As praias em si, qualquer uma, são ótimas do ponto de vista do ambiente. Constituem a natureza, são uma parte do planeta. São, numa interpretação romântica, o encontro do mar com a terra. Poetas dizem que essas duas partes se beijam. Os evolucionistas afirmam que foi o palco onde os seres marinhos deram os primeiros passos para a conquista terrestre e, por consequência, sua sobrevivência e evolução. É, para mim, uma porção da Terra que tem uma energia sem igual, é dos lugares mais contemplativos. Fico muito pensativa em relação à vida, à humanidade, diante do mar. Então, o que “nos faz ir mais com a cara” de uma praia do que com a de outra são as pessoas, o uso que nós fazemos dos espaços. Crescimento populacional, planejamento urbano, estrutura. As praias, em sua natureza, não têm culpa de nada. Costuma-se dizer que a natureza é cruel e não perdoa. Mas não esqueçamos que as ações da natureza são… naturais. Ela apenas é. O ser humano tem intenções em suas ações, por vezes maldosas, e sabe como perturbar.

Bombinhas é um destino bastante procurado em Santa Catarina. É das praias mais famosas, digamos assim. Entretanto, para a minha sorte, não havia mais vaga (detalhe: era final de fevereiro, início de março) e acabei ficando em Bombas. Dessa forma, pude passar momentos na beira da praia de ambas, o que inevitavelmente fez eu compará-las.

Antes de mais nada, minha análise compara as praias de Bombas e Bombinhas porque foram as últimas em que estive. Poderíamos comparar outras. A comparação é para exemplificar a diferença entre uma praia apenas bela e uma praia que consegue, também, ser agradável no verão. Portanto, minha análise é de ordem prática, do uso dos espaços em detrimento da beleza, embora ela conte. Ou seja, esta análise não leva em conta laços afetivos com as praias, se nascemos lá, se vivemos 30 anos de nossas vidas veraneando lá etc.

Bom, chega de papo, o resultado da comparação é: Bombas dá de dez a zero em Bombinhas. Entendo as famílias com crianças que lotam a Praia de Bombinhas, onde o mar é de uma onda só, o que pode passar uma sensação de segurança, de água mais tranquila. Entretanto, a meu ver, não transmite nem a sensação. Não levaria minha família para uma praia onde a quantidade de entretenimento e serviços na água é imensa. Os jet ski saíam em disparada da beira da praia, numa velocidade inacreditável entre as pessoas. Caiaques, barcos, bolas, pranchas de surfe, stand up paddle, confusão visual e mental, muito barulho, muita gente passando e jogando na areia, muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. Em Bombas, havia apenas uma empresa alugando pranchas na ponta da praia. Achei bem mais tranquilo nesse sentido. Percebi que lá o mar é usado de uma forma mais raiz mesmo, para aquele bom banho de mar, apenas.

Como se não bastasse a quantidade de atividades acontecendo em terra e no mar, o cordão de areia em Bombinhas é estreito e a camada de gente é incompatível, o que não dá margem para fugirmos do cotovelo alheio, da música irritante que te impede de ouvir o barulho do mar e muda teu mood de “tô de férias curtindo de boa” para “quero matar um”. Em Bombas, a área útil é maior, podemos ir e vir. Quando já tem sombra em um pedaço da areia a gente muda para onde ainda raia o sol.

Bombinhas em sua ponta direita, para quem olha para o mar, numa sexta-feira de março.

 

Bombas em sua extremidade direita, para quem olha para o mar, em um sábado de março.

O mar em si, em Bombas, é mais interessante. Tradicional, com aquele cardápio variado de tipos de ondas. Tem a que é só o volume d’água, que não quebra. Há também a onda grande que quebra lá adiante e que chega em ti com muitos centímetros de altura e espuma, te envolvendo como num banho de banheira. Tem a que quebra exatamente em cima da gente oferecendo serviço completo: caldinho, ralada no joelho, água no ouvido durante o resto dos dias, biquini fora de registro (profissionais gráficos entenderão) e um ataque de riso com benefícios para o resto das férias. Numa dessas ondas gritei salve-se quem puder! Fomos todos arrastados e era só risada depois. Meu marido teve que me puxar à superfície por um braço.

Outra questão com as ondas é o barulho. Já notaram que nas praias de uma onda só, como em Bombinhas, ela quebra sempre na mesma batida, ritmada? Isso me dá uma certa aflição. O áudio dos mares com mais ondas parece mais agradável, pela variedade de tempos e ruídos. Que é o caso de Bombas. Aliás, os nomes delas se devem a isso: Bombinhas, uma onda pequena que quebra. Bombas, várias, incluindo as grandes.

Em Bombinhas, temos acesso a outras três praias, também muito conhecidas e procuradas por suas águas cristalinas, azuladas-esverdeadas e calmas, principalmente para mergulhos. Uma delas é a Prainha, com faixa de areia bem estreita e curta, que acaba aglomerando mais pessoas ainda e dezenas de celulares tocando música. Há também a Praia do Embrulho, no estilo da Prainha só que com grandes pedras tomando o lugar dos banhistas. E a terceira, Lagoinha, com a água praticamente parada – daí o nome, acho. Confesso que senti uns cheiros não muito agradáveis. Por isso, também, prefiro marzão com ondas, com água indo e vindo e a certeza de que ela está sempre se renovando, se é que você me entende. Então, mais um motivo para eu preferir Praia de Bombas. Só imagino a Prainha e a Lagoinha fora da alta temporada, que chuchu beleza elas devem ser. Mais friozinho, abrir as cadeiras de praia sobre a areia, lagartear ao sol tomando um chimarrão e curtindo a vista, o clima. Aí sim deve ser o paraíso mesmo.

Quer mais? Bombas é um bairro em que a área da avenida principal, onde há o comércio, e a da beira mar são planificadas. Essa área é toda nivelada, as calçadas e ruas são todas muito bem feitas, tudo em perfeito estado, ótimo para caminhar, pedalar, olhar. O calçadão foi feito no mesmo estilo das ruas, bem estruturado e totalmente iluminado à noite. E cobre a praia inteira, de ponta a ponta.

Falando em ruas, Bombinhas tem um trânsito que não anda. Início de março e a avenida principal congestionada. Quando atravessamos e chegamos em Bombas, tudo fluía naquela avenida retilínea e perfeitamente calçada.

Outra coisa que adoro em Bombas é que os quiosques ficam para além do calçadão. Não há barracas na areia, nem lixo. Isso cria um padrão visual. A gente enxerga apenas os guarda-sóis na areia. Fica uma praia visualmente bonita mesmo, não somente na sua natureza. Outro fato que acho sensacional, mas não pude verificar se tem em Bombinhas, é que em Bombas os garçons dos bares praticamente brotam da areia, assim que colocamos os pés, para cavar e instalar nosso guarda-sol, sem custo. Mas a gente sempre acaba pedindo uma água de coco, porque adoramos água de coco, para retribuir.

Embora fosse baixa temporada, ambas as praias estavam bem movimentadas, já que a moeda argentina estava desvalorizada em relação a nossa. Praticamente todos os argentinos resolveram ir no mesmo período que a gente.

Sempre tive duas realidades envolvendo praia. Na casa onde meus avós paternos moravam, numa praia bastante movimentada e populosa, e na de veraneio dos avós maternos, com menos movimento e pessoas. E, definitivamente, para mim, praia não é sinônimo de aglomeração e trânsito. Não gosto. Por isso vou em baixa temporada e escolho as menos visadas.

Lembro da primeira vez que fiz um giro pelas praias da ilha de Floripa, para definir em qual eu passaria férias, e todo mundo: ai, qualquer uma, tudo é lindo lá!!! Concordo, tudo é lindo mesmo, o que não quer dizer que eu vá estaquear as perninhas da minha cadeira em qualquer areia.

A Praia Mole, por exemplo: natureza linda demais, gente linda demais, mas dois minutos naquela areia já deu pra mim, a condromalácia do joelho reclama, eu dou um passo para frente e vou dois para baixo, afundo, canso, pareço uma cardíaca caminhando naquela areia. Isso não quer dizer que não voltarei mais lá, mas apenas que eu prefiro outras para passar a maior parte do meu tempo, dos meus dias.

A praia Jurerê Internacional: todo o planeta quer se tocar para lá. Todo mundo menos eu. O cordão de areia é estreito por demais, sem área de fuga e olhando ao redor, serei sincera, tem mais bonitas, porque a gente visualiza condomínios em vez de rochedos e matas como muitas por aí. Sem mencionar as várias questões envolvendo o tratamento de esgoto – como em outras praias.

É claro que cada pessoa tem um interesse quando escolhe uma praia para passar um período. Festas, descanso, gastronomia, turismo de aventura, amigos, passeio romântico, ecoturismo, estrutura, família, tem pra todo mundo. E ainda bem. Já pensou a população toda existente se aglomerando sobre a faixa de areia rochosa do Retiro dos Padres? Ainda bem que temos opções, que somos diferentes e que escolhemos de acordo com nossas preferências. Viva a variedade. Viva a beleza que vem de dentro – porque se dependêssemos apenas do tom de verde da água, estávamos perdidos.

Foto e texto de minha autoria, Juciéli Botton, para a Casa Baunilha.

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