Crônicas,  Vida e Carreira

16 oportunidades que o isolamento social oferece e que você não percebeu

Embora as circunstâncias mundiais sejam devastadoras, somadas às particulares, que cabe a cada um, uma vez que cada pessoa tem a sua dor e suas dificuldades, tento me manter firme de todas as formas que eu encontro ou que eu crio. E tento ver o isolamento social como a oportunidade de me organizar mental, fisicamente e rotineiramente.

Aqui vai uma lista de oportunidades que o isolamento oferece e que talvez você não esteja enxergando, que podem te salvar por esse período e, quem sabe, até fazerem parte da tua vida após essa fase difícil.

1) Exercitar a consciência de que você não está sozinho | Tenha essa consciência. Precisamos ter em mente essa percepção de coletividade, de estarmos todos no mesmo barco. Aliás, esse é um sentimento que poderíamos ter mais presente no dia a dia, mesmo antes do novo Coronavírus, por exemplo, quando nos colocamos à direita em uma esteira rolante para que os mais apressados possam passar pela esquerda. Nós todos estamos sempre no mesmo barco, só que respondendo ao estado “se correr o bicho pega” e pouco paramos para pensar no coletivo. Agora temos a oportunidade de internalizarmos essa consciência de que estamos todos juntos nessa e que nossas escolhas afetam o outro e nos afetarão de volta. Ter consciência de que o mundo inteiro passa pelo que se passa na tua casa pode ser uma espécie de conforto.

2) Ter higiene pessoal | Foram inúmeras as reportagens em que os jornalistas saíram às ruas para saber da população o que mudou na rotina após saberem que o novo Coronavírus estava circulando. A maioria respondeu que começou a lavar as mãos ao chegar em casa. Só que isso não deveria ser uma mudança de rotina e, sim, um hábito. Então, se você não é uma pessoa muito, digamos, higiênica, aproveite para realmente inserir alguns hábitos de higiene na tua rotina. Assim, quando esse pesadelo passar, você poderá continuar a usufruir dos benefícios dessas boas práticas. Vi o Drauzio Varella falar em uma entrevista que nunca se lavou tanto a mão quanto no período em que enfrentávamos o vírus H1N1. A consequência disso foi a redução das internações por doenças que causam diarréia, por exemplo, e por conjuntivite. Pelo simples ato de lavarmos as mãos. Então, não encare as medidas dos novos tempos como passageiras. Tente realmente inserir hábitos de higiene mais frequentes na tua rotina. Por favor, se for clicar no link da entrevista do Dr. Drauzio, leve em consideração a data em que foi feita. Se hoje não sabemos muito sobre o novo Coronavírus, que dirá antes.

3) Fazer uma faxina virtual | Essa é para a tua saúde mental. Por exemplo: o único grupo que tenho ativo no meu celular é o da minha família, em que só perguntamos se está tudo bem. Nada de se entupir e bombardear os outros com desinformação e alarmismo. Estabeleci horários para acessar os veículos de comunicação em que confio, pois a maioria passa o dia requentando as mesmas informações. Todos temos consciência do quão grave é a situação, então não precisamos passar o dia inteiro com o coração quase infartando. Também estabeleci horários para o Instagram, por exemplo. Aproveite e dê um unfollow em perfis que te causam mal estar, que aumentam teus níveis de ansiedade. Cuide do teu emocional.

4) Ler | Se você está lendo este texto, muito provavelmente foi alfabetizado. Então usufrua desse fato e vá ler alguma coisa interessante. Um romance que não tenha nada a ver com o nosso tempo, que te leve para outro lugar. Um artigo disponível em site especializado que te ajude a ter uma visão diferente da que tens hoje. Um texto que te atualize sobre a tua profissão. Leia para os teus filhos. Lembra de reclamar que não tinha tempo de ler para eles? Então, aproveite. O tempo que eu aproveitaria, antes do isolamento, para passear no parque, tomar chimarrão e conversar, agora uso para colocar a leitura em dia e fazer a pilha de livros, que estão à minha espera há tempos, diminuir. Ou melhor, andar, porque não diminui na medida em que acrescento mais títulos.

5) Organizar a casa | Passei um pente fino no meu guarda-roupa e extraí várias peças para doação. Estou sempre fazendo a limpa no armário e é incrível como ainda consigo tirar peças dele. E detalhe: o simples ato de perceber que uma roupa não tem mais a ver com a gente é um sinal de que estamos nos modificando, amadurecendo, e isso é um sentimento bom, busque essa sensação de evolução. Precisamos ir ao encontro desses bons sentimentos em dias difíceis. E nem só de armário lotado vive uma casa. Rachaduras por cobrir, pintura para retocar, móveis para serem mudados de lugar, plantas com folhas secas para serem limpas. É possível fazermos milagres com sobras de tinta e massa corrida.

6) Solucionar problemas | Sabe aquele problema cuja solução você procrastina porque dá preguiça de parar para pensar sobre? Agora é a hora de usar o tempo disponível para criar soluções. Há vários métodos para a criação de soluções. Um deles consiste em dissecarmos o problema em várias possibilidades, ou problemas menores e, para cada parte que compõe o problema, é necessário buscar três soluções – se surgirem mais, melhor:

Exemplo de problema: meu salário não é suficiente para manter a família.

Possíveis soluções:

1. Aumentar o dinheiro que entra | Os filhos, maiores de idade, precisam trabalhar: fazendo o que já sabem fazer, de acordo com suas habilidades, ou buscando capacitação em cursos gratuitos (cursos online, Sesc, Sebrae, etc); trabalhando em casa, como na produção de doces para vender. Os já empregados podem fazer trabalhos extras, os famosos bicos: promoção em feiras; tomar conta do pet da vizinha; ensinar violão (ou outra atividade que já saiba fazer por hobby). Vender itens que não são mais usados: via sites de venda pela Internet; promovendo feiras e bazares em local físico; oferecendo diretamente a amigos e familiares; nas redes sociais.

2. Reduzir gastos | Cortar a TV paga, já que só acessam as redes sociais mesmo; fazer a unha em casa; cortar a diarista, todos ajudarão com as tarefas; cortar a assinatura do jornal, ler as notícias online.

3. Poupar | Estabelecer metas para a família, seja ter uma reserva de emergência ou investir na educação dos filhos (é preciso saber para que se está poupando); estabelecer uma porcentagem sobre cada renda que entra para poupar e atingir as metas; a cada litrão de Coca-Cola que deixarmos de comprar, investiremos R$5 nas nossas economias; nenhum item será comprado se já tivermos um igual ou parecido; buscar novas formas de usar os mesmos objetos: escorrer a água do macarrão segurando a massa com um garfo em vez de comprar um escorredor, a meia que está sem o par tira o pó perfeitamente bem e a bacia vira a piscina da Barbie e os R$399,90 da original permanecem no bolso; inventar três novos jeitos de usar a mesma camiseta, o Pinterest está cheio de ideias.

4. Cobrar quem me deve | Entrar em contato e cobrar; expor a situação caso o devedor resista; caso esteja mais difícil do que se pensava, avaliar a possibilidade de renegociar parcelas, para não deixar de ter o recebimento; não emprestar nunca mais.

Interessante isso de dissecar problemas, não é mesmo? Interessante isso de usar o tempo livre para algo útil. Procure um lugar calmo e sem distrações, pode ser a mesa de jantar, leve caneta e papel e vá desenhando o dissecamento do problema. É possível ficar horas entretido com isso e, ainda por cima, obter uma solução. Uma não, várias. Se considerar válido e possível, reúna a família, inclua todos no objetivo de solucionar e ouça as sugestões.

7) Fazer o bem | Tu sempre quis ter mais tempo para ajudar. Comece por teus vizinhos idosos, fazendo as compras por eles, por exemplo.

8) Se exercitar | “Está chovendo”, “faz frio”, “trabalhei muito e estou cansada”, “vai passar o último episódio de The Big Bang Theory”. As desculpas são muitas para não sairmos a caminhar ou à academia. Mas agora é uma boa hora para criar uma rotina de exercícios já que eles vêm até nós. A Internet está repleta de vídeos feitos por profissionais com ideias de exercícios e adaptações do espaço e dos objetos para nos exercitarmos em casa. Fazer a faxina também pode ser uma forma de se mexer. Brincar com as crianças também.

9) Cozinhar | Antes tu reclamava que não aguentava mais comer na rua, que adoraria fazer a própria refeição e, assim, ter uma alimentação mais saudável. Agora, durante o isolamento, reclama que tem que cozinhar. Ora, esta é a grande oportunidade de ter mais intimidade com a tua cozinha, fazer as refeições, focar um tempo nisso. Vai que tu pega gosto e segue levando marmita para o trabalho depois que a rotina voltar ao que era antes. Tem gente que tornou isso um negócio, fazendo pães e quentinhas para vender no condomínio, por exemplo. Aqui em casa nós fazemos pães, cookies e bolos como uma forma de diminuir as idas à padaria, de comermos saudável e de reduzir custos no supermercado.

Na minha casa, a dieta básica do isolamento segue a mesma da rotina de antes: arroz e feijão sempre presentes, a dupla infalível da culinária brasileira, comprovada e indicada pelo Guia Alimentar do Ministério da Saúde como essencial para termos uma dieta equilibrada e saudável. O arroz é fácil e rápido de preparar e o feijão é feito uma vez só na semana, em grande quantidade. Depois é só ir descongelando e temperando. Variamos e focamos mais é no preparo da proteína, geralmente frango ou porco. No caso da foto, filezinho de porco cortado em iscas. Douramos com bem pouco azeite, o que faz os pedaços grudarem na frigideira, criando uma crosta no fundo. Adicionamos alho em lâminas, cebola em meias-luas e algum legume, como abobrinha, e refogamos. Esprememos uma laranja e acrescentamos um pouco de mostrada. Vamos mexendo e “limpando” o fundo da frigideira, o que faz soltar aquela crosta, criando um molho incrível. Quando o suco da laranja tiver reduzido e encorpado, adicionamos um pouco de vinho tinto. Polvilhamos um pouco de açúcar demerara e acertamos o sal com uma pitada. Quando o molho tiver reduzido um pouco, servimos polvilhando gergelim. Gosto de ralar noz moscada na hora por cima de tudo. O segredo é ir construindo o prato com essas várias camadas de sabores. Não esqueça da salada, agora temos tempo de sobra para lavar as folhas, cortar o repolho bem fininho, fatiar o tomate etc.

10) Se aproximar | Muitos estão se aproximando mais uns dos outros, seja dos que dividem a casa, conversando mais, seja dos que estão longe, procurando saber como estão, se preocupando mais. Pessoas que não cumprimentavam os entregadores agora reconhecem o valor do seu trabalho e passaram a conversar com eles – talvez o único contato com outro ser humano no dia.

11) Ouvir música. A música salva. Muda nosso humor, muda o clima da casa. No trabalho não podemos ouvir música a todo volume, ou algum volume. Agora a gente pode. Nem que seja de fone.

12) Ficar com os filhos | Ficar mais em casa pode ser a oportunidade de estar mais próximo do teu filho, participar das atividades dele e conhecê-lo melhor.

13) Ficar consigo | Esse período tem sido oportuno para nos voltarmos para dentro, nos conhecermos melhor, nos questionarmos e buscarmos mudanças efetivas na nossa vida, seja porque contraímos o vírus ou algum familiar tenha contraído, ou porque perdemos alguém querido, ou pela situação mundial como um todo e pelo isolamento em si. Vemos as implicações de nossas ações no outro e olhamos para a situação do coabitar, do existir em comunidade, nos espaços públicos e reconhecemos, também, a importância dos espaços privados, do nosso espaço. Valorizamos o cuidado necessário com nossa saúde mental.

14) Se reinventar | Muitas pessoas precisam sair às ruas para sustentar suas famílias e tantas outras estão optando por iniciar em novos trabalhos, como profissionais de outras áreas que viraram entregadores, ou pessoas que passaram a cozinhar quentinhas. Às vezes é nas crises e nos momentos mais difíceis que enxergamos as oportunidades. Se tu não foi submetido a uma mudança forçada, seja grato e, mesmo assim, se achar necessário, podes refletir sobre isso e buscar a tua mudança por conta própria.

15) Ampliar o conhecimento | Estabeleci uma rotina para estudar Inglês, tanto gramática quanto o falar e o listening. Tudo de forma gratuita, apenas assistindo a aulas online e também buscando conteúdos em inglês que estejam disponíveis nos sites. Leio notícias e assisto a shows de comediantes americanas, como contei na postagem anterior. Faça uma lista do que tu gosta e quais são as tuas prioridades de aprendizado e aperfeiçoamento, e busque vídeos e informações que promovam o teu conhecimento.

16) Descobrir a beleza desconhecida. Tu nunca viu a maravilha de luz do sol que bate na parede do teu quarto às cinco da tarde porque saía cedo da manhã e voltava apenas às onze da noite da agência de publicidade. Agora tu tens a possibilidade de descobrir a tua casa, como a luz se comporta, como são os barulhos que vêm da rua, que tipo de música os vizinhos escutam, a revoada de papagaios que se acomodam nos galhos da árvore em frente. Coisa de uma ex-romântica que de vez em quando tem umas recaídas. Aproveite essas belezas. Ignore as chatices. Foque no que você ganhou.

Não é fácil, a gente sabe. Pessoas que só se viam pela manhã, ou se reencontravam apenas na hora do jantar, agora precisam conviver 24 horas por dia. Pais precisam encaixar no tempo de trabalho a aula das crianças. Casais estão se separando. Há a diminuição da renda familiar com a paralisação de vários trabalhos – mas, no meu caso, o atelier de cerâmica precisa continuar sendo pago para poder existir na vida após o Coronavírus. Pessoas com estilo de vida mais solitário acabam se isolando mais ainda – há quem goste, e tudo bem. São forças externas. Mas o que podemos fazer é mudar nosso olhar. Precisamos enxergar as coisas com outro filtro, o da oportunidade, o da gratidão pelo que temos e não focar apenas no que nos falta. Lembre: sempre estará faltando alguma coisa. E lembrar, também, que vai passar. Outros momentos ruins já passaram.

Em tempo: Neste link estão as últimas diretrizes sobre o isolamento social, atualizadas durante o pronunciamento do Ministério da Saúde nesta segunda-feira (ontem). A reportagem também explica os 3 tipos de isolamento que existem. Lembrando que nós não estamos em “quarentena”, como muitos falam. Quarentena é aplicada para quem está infectado ou com suspeita, ficando isolado de tudo e de todos, até do restante dos integrantes da casa, esperando a melhora. O país como um todo está em regime de isolamento social, se isolando em casa mas convivendo com quem nela mora.

Fotos e texto de minha autoria, Juciéli Botton, para a Casa Baunilha.

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