Crônicas,  Vida e Carreira

O processo que inventei para lidar com a minha ansiedade

Adoro a frase do Jordan B. Peterson: a vida não tem o problema. Você tem. Tira um peso das minhas costas. Porque se o problema fosse da vida, nada poderia fazer. Porém, como ele é meu, então posso fazer algo a respeito. Ou seja, está em nós a origem de nossa “questã” e, por isso, habita em nós mesmos a resolução. Eu não estou dizendo, de forma alguma, que não devemos procurar ajuda. Escrevo sobre isso porque é incrível a habilidade que o ser humano tem de criar os próprios caminhos para lidar melhor com determinadas situações.

Não chego a encher uma mão, mas já tive alguns episódios de ansiedade. Quando centenas de ideias passam pela minha cabeça, praticamente na velocidade da luz, e o coração acelera e vou contraindo os músculos dos meus ombros, como se abraçassem meu pescoço, percebo que a ansiedade chegou, aquela visita indesejada, e que é hora de botá-la pra correr. É hora de agir, de forma imediata e pontualmente.

Em um certo dia, depois de ter meu pescoço engolido pelos ombros, percebo em meu campo visual o pratinho de porcelana onde tenho várias pedras. Adoro pedras, cristais e, curiosamente, essas que são pequenas estão comigo há quase trinta anos. Algumas eram pingentes da minha mãe em formato de frutas, outras adquiri porque eram a pedra do meu signo, coisa da minha época de adolescente, algumas se soltaram dos anéis e outras eu ganhei. Diversas histórias. Mas voltando à crise de ansiedade, só lembro que não pensei muito: simplesmente me deitei sobre o colchão e coloquei uma delas sobre a minha testa.

Fechei os olhos e tentei pensar somente na pedra. Pensava nela, na sua temperatura, bem abaixo da minha, na forma como se acomodou sobre a minha pele, na conexão que havia sido criada entre nós, no fato dela ter vindo da natureza, no fato de eu ter vindo da natureza, de ambas sermos partes pertencentes a um todo, e então o ciclo reiniciava. Visualizava a pedra, pensava na sua temperatura – que esquentava cada vez mais –, no todo e assim por diante.

Dessa forma, eu só tinha um objeto com o qual a minha mente trabalhava. Eu foquei. Me concentrei. Meu coração desacelerou, minha respiração fluía e, nesse estado tranquilo, fiquei até sentir que poderia me levantar e resolver uma tarefa. E que depois dessa tarefa resolvida, eu poderia resolver a próxima. E, dessa forma, voltei à minha rotina.

O que eu fiz, sem me dar conta que estava fazendo, foi meditar. Até um certo ponto da minha vida, eu sabia o que a maioria das pessoas no mundo sabe sobre meditação: o esvaziamento da mente, o pensar em coisa alguma. Ou seja, o que a maioria de nós sabe sobre meditação é que não é coisa desse mundo.

Tempos mais tarde, li um livro sobre o assunto que esclareceu bastante a atividade. Entendi que há uma porção de maneiras de executar a meditação. Por exemplo: focar em apenas um pensamento para que limpemos nossa mente de todos os outros duzentos. Os mantras, de que sempre ouvimos falar, são frases e, portanto, pensamentos, que quem medida repete para que sua mente foque eles e não se distraia com outras ideias. No meu caso, consegui meditar com a ajuda de um objeto.

Só que a experiência com a pedra me levou a um outro patamar: eu compreendi algo.

Enquanto pensava que eu tinha vindo do mesmo lugar que ela e na conexão entre tudo, me dei conta de que não há situação, local ou pessoa, com as quais a vida me coloque, que eu não possa resolver, sair ou lidar. Eu dou conta. Eu posso.

Esse entendimento bastou para que, em determinadas situações, eu nem precisasse da pedra. Quando sinto uma apreensão começando, a ponta do iceberg, logo penso: não há situação que eu não consiga atravessar. Tudo que está aqui ou foi apresentado diante de mim ou veio de mim e, portanto, saiu do mesmo lugar que eu e a pedra. É tudo uma coisa só e, em razão disso, eu dou conta.

Às vezes parece que não vou conseguir, quando o nível da dificuldade do problema fica cada vez mais “profissional”. Mas, no fim das contas, todos os muros são transpostos. Ou, ainda, como naquela frase singela: tudo passa – só que é melhor passarmos por tudo com saúde mental do que sem.

Acredito fortemente no poder e na energia que temos dentro de nós para transpormos as dificuldades. E nos dias que enfrentamos hoje, de confinamento, a ansiedade é, sem dúvida, aquela visita indesejada que vem à nossa casa sem ser convidada, no lugar que hoje, mais do que nunca, deveria ser nosso oásis, nosso casulo de proteção, o melhor lugar do mundo para se estar: nossa mente.

Hoje é mais do que bem-vinda a capacidade que temos de criar mecanismos de equilíbrio. O isolamento social acaba nos empurrando para a conectividade online, aquele momento que pesquisas já comprovaram que é responsável por crises de ansiedade.

Não deixe a ansiedade bater à porta. Busque alternativas que possam te manter, dentro do possível, forte, confiante e são.

Foto e texto de minha autoria, Juciéli Botton, para a Casa Baunilha.

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