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Tchau inverno: 13 atividades que fizeram (e fazem) a estação ficar especial

Tentar definir em uma roda de conversa qual é a melhor estação é quase como discutir política, time de futebol, religião: perigoso.

Lá pelas tantas, depois de idas e vindas argumentativas, uma ideia desponta comum ao discurso de todos: os extremos não são nada interessantes. Seja pela dificuldade em suportarmos, seja pelos problemas que trazem para algumas pessoas.

Um fato irrefutável é que as estações são naturais. E o frio é extremamente importante para algumas culturas e processos da agricultura. Sem contar que o inverno é fundamental para várias famílias cujas atividades econômicas se baseiam no comércio e no turismo.

A cultura daqui do Rio Grande do Sul gira em torno do frio. O fogo de chão, a culinária, o tradicional chimarrão, as vestimentas. O que dificulta bastante na hora de explicar para as pessoas de fora do estado que aqui as temperaturas já chegaram aos 40 graus no verão.

Hoje começou a primavera. Essas datas e horários são estranhos porque não sentimos uma mudança na prática, mas a precisão científica me inspirou a criar uma publicação homenageando o primeiro inverno que passei na função do sítio, e o segundo na casa para onde meus pais se mudaram – a gente viveu uma vida inteira em apartamento, e eu ainda vivo.

Segue uma lista de coisas que são muito legais de se fazer no inverno (algumas eu fiz especialmente neste último) e que fazem da estação um período mais que especial:

1. Aprender a cozinhar com a minha avó. Eu tenho gravado vídeos da minha avó ensinando a cozinhar as minhas comidas e doces preferidos. Neste inverno ficamos ao lado do fogão à lenha fazendo ambrosia e doce de abóbora. Ainda quero aprender a receita dela de cuca e da pizza caseira, aquela feita com sardinha. Eu gosto de fazer isso não somente para aprender as receitas mas, também porque ficamos só nós duas conversando. Minha avó sempre foi desbocada e falar de morte é como falar sobre o que comprou no supermercado. Então ela explica aos outros que estou gravando porque um dia ela vai morrer. “É, ela tá gravando porque eu vou morrer daí ela fica depois com o vídeo”, falando como se fosse nada e abanando uma das mãos com desdém. Ela também disse que o doce de abóbora deve ser feito com a fruta bem laranja por dentro, porque as mais claras não dão certo. Mas porque? “Fica uma caganeira”. Essa é a vó Glaci.

2. Ficar perto do fogo. O fogo é fascinante pra mim. Para a cerâmica, que adoro criar, ele é fundamental. Seja lareira, fogão à lenha, fogueira ao ar livre, churrasqueira ou o próprio fogão à gás que apronta os amendoins torrados, o calor do fogo atrai, reúne, une, e possibilita uma série de atividades que acontecem no entorno, algumas descritas aqui. Inverno sem fogo não é inverno.

3. Montar quebra-cabeças de mil peças. Não tem coisa igual do que sentar em frente à lareira e montar um quebra-cabeça de mil peças, sem pressa, curtindo o processo, proseando com as pessoas, tomando vinho ou chimarrão. O hábito de montar esses grandes tabuleiros vem de muito tempo na minha família. A gente adora. Todo dia montamos um pouco e em momentos espaçados. Acordamos e vamos direto encaixar algumas peças. Antes de apagar as luzes para irmos dormir, encaixamos mais algumas e assim vai indo.

4. Fazer trabalhos pesados e não sofrer com o calor. O inverno foi o período em que mais produzimos para o sítio – assumimos o terreno em dezembro de 2020, em pleno verão. Fizemos muitos trabalhos no estilo faça você mesmo sem desmaiar com a pressão baixa, como quase acontece comigo no verão. Capinei, plantei, lixei e serrei madeiras, carreguei pedras, sem contar a distância que a gente caminhou pra lá e pra cá no terreno, até por dentro do mato.

5. Criar mantas de tricô. Sentar em frente à lareira e fazer tricô é das melhores coisas para se fazer no inverno. O tempo passa, eu me aqueço, converso e ainda acabo com uma manta novinha pra ser usada imediatamente. Este ano fiz uma mesclando as cores verde militar, marrom e preto. Ficou perfeita pra encarar o frio no sítio. Eu não entendo de tricô, minha mãe me orienta no começo e depois eu sigo. E como a manta é uma tira reta, fica fácil de fazer.

6. Matear. O chimarrão é consumido em qualquer época do ano, mas no inverno ele se torna o melhor amigo do homem, deixando o cachorro em segundo lugar. A foto no mosaico é do primeiro chimarrão que eu fiz na vida, que foi neste inverno que passou. Não estamos compartilhando chimarrão durante a pandemia mas meu marido e eu seguimos com o ritual numa pequena roda de dois.

7. Fazer aniversário. No meu aniversário eu como sushi. Só que meu sushi preferido é muito caro, pra variar (por que a gente tem gosto por coisas caras, gente?). Então eu sou uma pessoa que não come muito shushi ao longo do ano e meu aniversário é data certa para matar a vontade. E ao contrário do que muitos pensam, tem tudo a ver peixe cru e frio. Parece que não tem como dar errado, a temperatura ajuda na qualidade da carne. E também no meu aniversário sempre encomendo a mesma torta, com raspas gigantes de chocolate preto na cobertura e com recheio de brigadeiro. É uma tradição nos aniversários da família – na real, já virou superstição. E quem faz é a Isabel, que foi minha professora no jardim de infância – e isso tem apenas 30 anos.

8. Comer bergamota. É uma das minhas frutas preferidas e não consigo consumir menos do que três quando resolvo comer. É o combo de vitamina C maravilhoso que a natureza produz, embala e nos entrega todos os anos. A perfeição da perfeição.

9. Ver o Rogerinho dormir de barriga pra cima por causa do calor da lareira. Ele adora dormir de barriga pra cima mas, mais do que isso, o inverno é capaz de fazer a gente estreitar a relação com nossos cães. Ficamos mais próximos e ele te valoriza em função do aconchego, do calor, da proteção, da comida e do carinho fornecido.

10. Elaborar comidas quentes. Ainda bem que minha irmã resolveu aprender a fazer a massa de pizza. Ela sai fininha, maravilhosa e, a partir daí, a gente pira na cobertura. Uma que faz sucesso é a de cebola caramelizada. Mas os pratos que são desejo da estação vão além da pizza. Estrogonofe, lasanha, tudo que envolve molhos e caldos, queijo repuxando são os preferidos. É muito bom cozinhar no inverno.

11. Descobrir as frutíferas cítricas do sítio. Quando assumimos o sítio, tudo era verde. Chegando o inverno, alguns pontos amarelos e laranjas surgiram. A estação fria revelou as bergamoteiras e foi a maior alegria. As duas que tem lá se criaram de forma selvagem. Muito provável que pássaros fizeram o trabalho. Na estrada e em terrenos abandonados as frutas cítricas também começam a se revelar. Limão caipira na beira da estrada têm vários. E pensa num amargor de revirar os olhos!

12. Plantar espécies em épocas chuvosas. Ganhei um pessegueiro da minha madrinha querida, a Janice, e o timing foi perfeito, porque ele gosta de bastante água, devendo ser plantado em épocas chuvosas. O início de setembro tem sido de muitas chuvas, então não perdemos tempo e plantamos o pessegueiro.

13. Fazer uma festa junina caseira. Dispensa apresentações.

E você, conta aí nos comentários quais são as atividades que deixam o teu inverno especial? Mesmo que ele seja bem calorento, vai ; )

Fotos e texto de minha autoria, Juciéli Botton, para a Casa Baunilha.

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