Fico emocionada cada vez que percorro as estradas que levam à minha cidade de nascimento, Ijuí, no Rio Grande do Sul. O esforço despendido pelos seres humanos do campo para nos alimentar é algo que me toca. A colcha de retalhos de solo a perder de vista. Amarelo onde a colheita deve começar, verde onde ainda é preciso paciência, vermelho onde se começou tudo de novo.
O esforço para sermos mais fortes que a natureza. As culturas rigorosamente delimitadas, as linhas de plantio escandalosamente ordenadas, o capricho que se alarga até o horizonte. Não consigo colocar ordem no meu apartamento de quarenta metros quadrados. Fico absorta neste insight.
Respeita-se o tempo, respeitam-se os ciclos.
O quase silêncio quando a estrada cessa o lançamento de seus foguetes a mais de cem quilômetros por hora. Apenas o vento contando segredos no ouvido. É preciso se acalmar para escutar o que a natureza tem a dizer. Sobretudo a tua.
A perder de vista.
Um presente atrás do outro. Seja para colorir a vida, seja para pensar sobre ela.
Não se colhe verde. Tudo tem seu tempo. E há tempo nas estradas para o interior.
Fotos e texto de minha autoria, Juciéli Botton, para a Casa Baunilha.