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Os livros sobre botânica e plantio que encontrei nos sebos do centro de Floripa

Conferir os livros sobre plantio nos sebos era o passeio que estava na minha lista das férias em Florianópolis. E que alegria encontrar tanta obra interessante. Dentre elas, uma preciosidade, um livro que trata apenas do pólen. Eu achava que não podia existir tal coisa no mundo. Mas o que não há, não é mesmo?

Outro exemplar que tive a sorte de encontrar trata de irrigação e drenagem. Eu me jogo nas publicações sobre água porque são difíceis de localizar. São escassas assim como a água de qualidade. E “plantar água” é primordial para plantarmos qualquer outra coisa – expressão criada por Zephaniah Phiri Maseko.

Também consegui um exemplar sobre plantas de forração, tão importantes para fornecerem nutrientes ao solo de forma orgânica. Como disse a Dra. Primavesi, não podemos plantar sobre um cadáver, o solo precisa estar vivo.

Um livro sobre casas sustentáveis fez meu olho brilhar, pois é outro tema que gera muita desinformação. Muitos constroem por modismo e passam adiante informações sem entender os princípios. Este, em particular, traz não apenas aspectos construtivos como também uma análise crítica das ecovilas sob o aspecto cultural, trazendo à tona alguns problemas e sugestões de caminhos e soluções. Gostei desse viés crítico que tanto falta hoje – em qualquer parte da vida.

Nos arredores dos sebos, região central de Florianópolis.

Visitar os sebos locais é também uma forma de conhecer a região onde se está. Encontrei muitos livros sobre criação de rãs. Quase fui convencida a estudar sobre o tema. Livros sobre os oceanos também eram numerosos. Trouxe um, inclusive, porque minha admiração pelo mar faz eu querer aprender sobre ele. Também me chamou a atenção uma quantidade numerosa de livros sobre o Rio Grande do Sul e sua geopolítica. Os gaúchos que mudaram para Santa Catarina se desfizeram de alguns exemplares.

No primeiro sebo que entrei, enquanto esperava o atendente no balcão, abri a capa de um livro no topo de uma pilha enorme, movimento involuntário desses que a gente faz para passar o tempo. Nem olhei o nome da obra. Quando travei contato com a folha interna, lá estava o nome da minha avó paterna. Ignez. Pronto, a primeira história da tarde dos sebos estava escrita.

Mero acaso não foi – hoje não acredito mais nisso – nem mesmo um sinal para eu recordar minha avó, pois lembro dela todos os dias. O que aconteceu foi a abertura solene em celebração à peregrinação dos sebos que iniciava, pois foi o primeiro livro que peguei na mão naquela tarde.

Minha avó, além de professora, era uma pessoa que tinha o espírito de eterno aprendiz. Tinha noção de que não sabia de tudo e que precisava aprender sobre como o mundo gira. Também era um ser humano sempre em busca de melhorar, tinha autocrítica e desconfiava de si mesma, buscando conhecimento e melhores caminhos para se viver.

Estava sempre lendo. Olhando em perspectiva, não fossem os milhares de afazeres domésticos que tomavam seu tempo – quando dezenas de pessoas se acomodavam em sua casa durante as férias escolares e as datas comemorativas –, era um ser humano com quem podíamos sentar e falar de ideias. Não era uma pessoa que falava dos outros, que fazia fofoca. Nunca vi minha avó falando mal de ninguém.

A autocrítica e o espírito de eterna aprendiz foi a maior herança que ela me deu e lá estava eu, atrás de textos sobre plantio para cuidar melhor do espaço que tenho em mãos. Quero ter a segurança de estar fazendo a coisa certa com as plantas, os animais e as pessoas no manejo do sítio. Estudar é preciso.

O primeiro livro da tarde dos sebos no centro histórico de Florianópolis.

Aproveitei a ida ao centro e passei na loja de pedras e cristais. Comprei um pilão de Ônix do Paquistão. Queria ter trazido lembrancinhas para a família mas a rinite não permitiu que ficasse mais tempo por lá. Ainda mais que os sebos já tinham se encarregado de ativar a alergia.

Voltei para a beira do mar energizada.

Cães bem-informados. É disso que o mundo precisa.

Livros antigos de botânica, ciências em geral, despertam meu lado consumista porque as ilustrações, muitas vezes, são verdadeiras obras de arte.

Coisa boa no meu tempo livre, ou no final de semana, ler textos que não emitem luz. O detox de tela é um esporte que pratico com mais regularidade do que exercícios para fortalecer os músculos. Além do descanso ocular – e mental, porque com o livro impresso não há notificações chegando –, é importante saber o que já foi escrito há tempos sobre os assuntos que nos interessam porque hoje há muita informação equivocada, muitas pessoas apenas reproduzindo o que ouviram como se fossem especialistas. O modismo, infelizmente, atinge o campo também. Os povos antigos sabiam como plantar de forma orgânica e não há por que reinventarmos a roda. Na verdade, é o que o ser humano tenta fazer hoje, só que muito mal feito e, ainda por cima, de uma forma que nos deixa doentes.

Os sebos que visitei foram: Sebos Ivete, Sebo Mafalda, Sebo Cia do Saber (trilha sonora muito boa, pelo menos no momento em que eu estive lá), Sebo Elemental (trouxe alguns quadrinhos da Julia Kendall e quase comprei um LP da Maria Bethânia).

Há outros sebos além desses e todos concentrados na mesma região do centro histórico de Florianópolis, próximo à Praça XV de Novembro, onde mora aquela figueira enorme que já ganhou uma publicação especial aqui na Casa Baunilha.

Fotos e texto de minha autoria, Juciéli Botton, para a Casa Baunilha.

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