Curitiba,  Paraná,  Por aí

Roteiro de 4 dias em Curitiba | Dia 3

Se eu não puder caminhar livremente pelas ruas, então eu nem vou. Eu pre-ci-so planejar no meu roteiro um dia, ou nem que seja uma parte dele, para caminhar pelas ruas mais icônicas da cidade que estou visitando, pelas suas construções históricas, pela sua arte de rua. Me deslocar a pé para sentir a cidade e seus moradores tem muito valor para mim. Saber o que as pessoas estão falando, o que está acontecendo na cidade. Embora, infelizmente, alguns pontos estivessem fechados para reforma, como o Bondinho da Leitura na Rua XV de Novembro, o Museu de Arte Contemporânea do Paraná e o Palácio Belvedere na Praça João Cândido, o Centro de Curitiba ainda tinha muito a oferecer. Prepara que o post tem comprimento de avenida.

 

D I A  3 | S Á B A D O

Dia de caminhar entre a história e as belezas do Centro, de show de comédia stand up e de provar o prato que é a iguaria da região, a famosa Carne de Onça.

 

1. Galeria a céu aberto

Eu definitivamente não viajo para entrar em lojas e ficar em shopping. Eu preciso andar pelas ruas olhando para cima observando a arquitetura e ser surpreendida por um beijo desses. Grandes painéis de azulejos ilustrados, ruínas, prédios de arquitetura histórica e muita arte de rua compõem o bloco sólido de cores e formas que enchem os olhos de quem valoriza andar pelas ruas do centro de Curitiba. Quero muito fazer uma postagem especial com as preciosidades do centro.

 

2. Catedral de Curitiba

Sempre que publico no Instagram a foto de algum detalhe arquitetônico ou decorativo de uma igreja histórica que registrei, vários perfis religiosos começam a seguir a Casa Baunilha. A questão aqui é: você não precisa ser religioso para entrar em igrejas por aí e contemplar a riqueza dos seus detalhes. As igrejas históricas são testemunhas de uma época que não vivemos. Elas já viram de tudo, desde acontecimentos há muito esquecidos até marcos ainda lembrados. E carregam na sua estrutura o registro de sua época de nascimento, como a estética daquele período. Eu sempre visito a Catedral ou a igreja histórica do meu destino de viagem. Vale a pena. Com respeito e silêncio, claro. A construção atual da Catedral de Curitiba é de 1893, embora tivesse existido outras construções menores antes. O estilo é neogótico e os desenhos são de dois artistas italianos. No site da Catedral está disponível um vídeo com mais detalhes da construção. Clique aqui para conferir.

 

3. Praça Tiradentes

A Praça Tiradentes, que fica em frente à Catedral, foi a primeira praça de Curitiba. Foi onde se deu a formação do núcleo urbano da cidade. É bem antiga. Tão antiga que durante a sua revitalização, em 2008, as escavações revelaram calçamentos da segunda metade do século XIX, além de pertences da população da época, como pedaços de objetos cerâmicos, louças de Portugal e da Inglaterra, moedas, facas, armas de fogo e ferraduras, entre outros. Aquele piso de vidro transparente permite que a gente veja o antigo calçamento. Uma forma de preservar e exibir à população ao mesmo tempo.

 

4. Largo da Ordem

Com seu bebedouro central, onde comerciantes traziam seus cavalos para se refrescarem, no século XIX, e suas ruas de paralelepípedos, o Largo da Ordem, também chamado de setor histórico, é parada obrigatória para quem quer conhecer e entender Curitiba. É onde tudo começou e foi oficialmente fundada a Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, em 1693. Hoje, os prédios antigos seguem preservados e abrigam centros culturais, hostels, restaurantes e bares, uma forma de manter a conexão dos moradores com a sua história. Há muitas construções antigas que podem e devem ser visitadas no Largo da Ordem, como algumas igrejas, museu e a Casa Romário Martins.

 

5. Casa Romário Martins

“Último exemplar da arquitetura colonial portuguesa na cidade” é o que diz a placa na parede sobre a construção do século XVIII, onde funcionou um armazém e que também é a segunda construção mais antiga da cidade. Desde 1973 se tornou um espaço cultural e artístico. A exposição que vimos resgatava a participação dos negros na formação de Curitiba, muito bem elaborada, com muitos registros como fotos e reproduções de ilustrações e recortes de jornais. A construção em si já é uma obra. A grossura das paredes é inacreditável, e os pisos e as portas em madeira original.

Curitiba na época de sua meia dúzia de ruas.

 

6. Igreja da Ordem

Ela foi construída agora, tipo 1737, “o mais antigo templo em pé na cidade”. Para vocês terem uma ideia do quão antiga ela é, a sua primeira restauração se deu em 1880. Ela também tem as paredes muito, mas muito grossas. Sem dúvidas, resistiria a um bombardeio. É pequena e muito charmosinha. Eu adoro o contraste entre as paredes brancas e o mobiliário em madeira. Ela possui esses lustres luxuosos que destoam de tudo e por isso deixam o espaço ainda mais interessante. O Museu de Arte Sacra de Curitiba fica na porta ao lado da igreja, mas estava fechado.

 

7. Memorial de Curitiba

O Memorial de Curitiba é um grande espaço cultural e artístico. Oferece exposições, concertos e espetáculos de teatro, além de uma bela vista da cidade no seu terraço. Eu adorei esta escultura que atravessava o chão no térreo. A água corria entre pinhas e pinhões. O chamado “rio de pinhões”, moldado em barro local por 3 artistas: Elvo Benito Damo, Maria Helena Saparolli e Priscila Tramujas, significa fertilidade cultural. Neste dia o espaço estava aberto mas não havia apresentações. Porém, no dia seguinte, no domingo, havia um concerto com grupos de danças típicas.

 

8. Praça Garibaldi

Quem vem subindo a rua do Largo da Ordem, a Rua Dr. Claudino dos Santos, chega na Praça Garibaldi, onde há várias construções históricas e seu comércio, a Igreja do Rosário, a Fonte da Memória e seu Cavalo Babão, além do Relógio das Flores. É um bom lugar para sentar e descansar, reprogramar o roteiro e contemplar a tranquilidade da região.

 

9. Sociedade Garibaldi

Fundada em 1883 para integrar a colônia italiana. A construção, de 1900, em estilo neoclássico, foi confiscada na guerra e já foi Palácio da Justiça e Tribunal Eleitoral.

 

10. Belvedere

Na praça João Cândido, ainda há os vestígios de um convento franciscano – as ruínas de alvenaria de pedra, ao fundo à esquerda da foto, e o antigo Belvedere, criado após a demolição do convento que nunca chegou a ser concluído. Na época, o ponto mais alto da cidade tinha uma vista privilegiada. Hoje o Belvedere, construído no estilo art nouveau, está em fase de restauro. Queria muito conseguir ver esta obra por dentro e por fora. Quem sabe um dia.

 

11. Paço da Liberdade

A revitalização do palacete e sua programação cultural, junto a um café e biblioteca, transformou a construção na “sala de visitas de Curitiba”. Foi construído em 1916 para sediar a prefeitura municipal de Curitiba, posteriormente o Museu Paranaense e, desde 2009, um centro cultural chamado Sesc Paço da Liberdade. Cabeças de ninfas, detalhes em ouro e madeiras e pedras nobres são alguns dos detalhes que fazem da construção uma atração por si só. Em breve, farei uma postagem especial sobre esta construção em art nouveau.

 

12. Comida mineira para o almoço

Como estávamos no centro da cidade e os planos eram de continuar por ali mesmo, almoçamos no Tempero de Minas pela conveniência de estar pertinho. Comida muito boa, com panelas de ferro fumegantes. O sistema é por peso.

 

13. Universidade Federal do Paraná

Sim, é Brasil. Eu queria muito ter conhecido o prédio por dentro e também o Museu de Arte da UFPR, mas não consegui durante os dois dias anteriores, e sábado ele fica fechado mas, mesmo assim, eu quis conferir a construção. É a universidade mais antiga do Brasil. E pensar que o estilo neoclássico nasceu na Europa para trazer mais simplicidade visual – em contraposição ao barroco, claro.

 

14. Rua XV de Novembro

A Rua XV de Novembro foi das coisas que mais me impactaram, juro pra vocês. Ela é como se fosse a Rua dos Andradas do centro de Porto Alegre: comércio, prédios com arquitetura antiga, calçada no estilo das pedras portuguesas, postes de luz históricos, bem arborizada. Mas a primeira diferença que notamos é que não há mendigos e vendedores ambulantes. Isso foi chocante. O segundo aspecto é que era sábado, à tarde, e a rua parecia estar recém começando a ferver. O movimento era intenso e muita gente trabalhadora e compradora. Nos transmitia uma sensação de segurança. No centro de Porto Alegre, ou você resolve suas coisas até o meio dia ou pode esquecer. Muitas lojas fecham cedo e na medida em que as horas avançam a criminalidade também avança. Parabéns, Curitiba, a Andradas de vocês é linda por demais.

 

15. Jardim vertical

A charmosa construção verde nos convida para curtir o dia na calçada. Basta escolher o clima: nas tranquilas mesas do Crema Café ou entre o povo em pé no bar A Ostra Bêbada – que nome maravilhoso pra um bar, parabéns.

 

16. Igreja do Rosário dos Pretos de São Benedito

A segunda igreja construída em Curitiba fica na subida do Largo da Ordem, em frente à Praça Garibaldi. Ela tem belíssimos painéis em azulejo na fachada e em seu interior também. Vou fazer um post dedicado a ela, pois a construção é rica em detalhes lindos. Ela não estava aberta mais cedo, quando visitamos outros pontos do Largo da Ordem mas, como no centro de Curitiba tudo fica muito próximo, voltamos para conseguir a visita.

 

17. Música ao vivo no Largo da Ordem

Saindo da igreja e descendo novamente até o Largo da Ordem, os bares e restaurantes já tinham aberto e a música e as pessoas preenchiam os espaços que antes eram calmaria.

 

18. Pôr do sol no skyline

O apartamento que aluguei pelo Airbnb ficava num prédio muito alto, com vista 360 graus da cidade no seu terraço. Era mais alto que a torre panorâmica da Telepar, um dos pontos turísticos para vermos a cidade em 360 graus. Ou seja, não precisei ir na torre e ainda aproveitei para matear e curtir um pôr do sol lindo. Que, inclusive, teve sol. Foi demais.

 

19. Carne de Onça na Mercearia Fantinato

Gente, como eu posso explicar este lugar? Um ambiente completamente acolhedor, e os garçons muito atenciosos. Eu queria muito comer a iguaria de Curitiba, a Carne de Onça, no Mercado Municipal, pois só é servida aos sábados que é quando circula mais gente e assim eles garantem a frescura dos ingredientes. Só que quando descobrimos o armazém, achamos melhor optar por essa experiência, pois já tínhamos ido ao Mercado Municipal no primeiro dia.

Não, a Carne de Onça não é feita com a carne da onça. A iguaria se trata de uma versão de um stake tartar feito com carne bovina, mais precisamente de patinho magro. Leva esse nome porque é preparado com cebola e alho, o que confere um bafo de onça a quem decide provar. Então, por se tratar de carne vermelha crua, eu ficava meio assim de provar mas, ao mesmo tempo, não suportava a ideia de não provar o prato icônico da região. Daí, depois de muito conflitar comigo mesma sobre o assunto, eu decidi que deveria ser coerente. Já que gosto de comer sushi, eu poderia perfeitamente provar a carne de onça. E assim foi. E foi uma experiência sensacional. Gostei muito. Não é o tipo de coisa que eu repetiria. Eu voltaria na Mercearia mas, para degustar outros pratos. E se você está em dúvida sobre o sabor, te digo com toda franqueza: é muito bom, muito bem temperado. E se você está com medo de passar mal, te digo com toda franqueza: o prato é preparado na mesa do cliente, na tua frente. Os ingredientes vêm todos picadinhos e é visível a frescura deles. Foi uma experiência única e que eu consegui riscar da lista.

Experiência ótima também porque finalizamos com esta tortinha de limão que, senhor! Era feita com ingredientes bons mesmo, tipo leite condensado e não maisena, gelatina, esses usados para fazer render. Era pesada, consistente mesmo. Delícia. Agora, lugar bom a gente vê que é bom nos pequenos detalhes. Como quando você está com seu par, mas pede apenas 1 fatia de torta de limão, e nem pede para dividir, e quando ela chega na mesa já vem com dois garfos. Entende? Isso é enxergar o outro. Coisa simples. O que não achei legal é que no cardápio está escrito, com todas as letras, que não é cobrado o serviço. Mas no caixa, a nota já sai com o valor dos 10%. Ter que fazer o cliente dizer que não quer pagar os 10% não é não cobrar os 10%. Acho que poderia ter uma caixinha ao lado com uma frase mais ou menos assim: “Foi bem atendido? Deixe aqui seu agradecimento”. Eu vi isso numa padaria. Achei delicado e educado.

 

20. Show de comédia stand up

O Paraná exporta comediantes para o restante do país, sobretudo no diz respeito ao gênero stand up. Curitiba foi a capital que alavancou essa turma, que teve como desbravador o Diogo Portugal e que hoje celebra o sucesso do Afonso Padilha, o comediante da nova geração. Inclusive, na noite anterior, teve show dele mas, infelizmente, não conseguimos ingresso. Mas a noite de sábado foi demais, com 5 comediantes. A experiência valeu muito a pena porque eu adoro shows de comédia stand up mas até então só tinha assistido ou no Comedy Central ou via Youtube. Aliás, o Curitiba Comedy Club foi o primeiro clube de comédia do Brasil – como muitos outros negócios que são testados e começados primeiro em Curitiba.

Só acho que poderia melhorar em duas coisas: 1) deixar o volume do microfone do comediante mais alto, para que a gente não escute a conversa do garçom com o pessoal da mesa ao lado; 2) o espaço de espera. Como eles seguram o teu ingresso até 1 hora antes do show, você ficará esperando essa uma hora passar numa espécie de laje, e estava muito frio à noite, ventava pra caramba, e deu pra entender que tudo isso é feito pra gente consumir as coisas do bar enquanto espera. Só que o bar fica no interior do espaço e nem mesinha tinha nesse lugar de espera externo. Então acaba saindo mais caro ainda consumir ali, pois não há conforto pra isso. Eu ainda precisei usar o banheiro e não tinha como trancar a porta, que dava exatamente de frente para as pessoas que estavam esperando pelo show. O cara que fazia de tudo um pouco, pois era garçom, o recepcionista… disse que segurava a porta para mim (?). Enfim, acho que poderiam melhorar essa experiência de espera pelo show em todos os sentidos.

 

Este foi o terceiro dia na capital do Paraná. Até o próximo post.

 

Fotos e texto: Juciéli Botton para Casa Baunilha

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