Antigamente, diziam que as pessoas tinham que sair do campo para estudar. Hoje, dizemos que precisamos estudar para ir para o campo.
Lembro quando pisei no sítio pela primeira vez. “De nada adianta a oportunidade se eu não tiver o conhecimento. Mesmo que o sítio exista apenas para lazer, saber onde estamos e como a natureza se desenvolve por aqui são condições básicas”, pensei.
Busquei livros nos sebos porque quero saber o que era dito em determinadas épocas sobre os assuntos que estudo hoje. De quebra, é possível conhecer de onde extraíram os farrapos de algumas ideias e transformaram nos modismos que vemos por aí.
E quando as obras primordiais não estão disponíveis, pratico um esporte chamado leia tudo que houver a respeito e, com base no bom-senso e na visão crítica, filtro as informações. Se há a oportunidade de pagar o menor valor por isso, melhor. Além dos livros, em geral, saírem mais em conta, também consigo títulos cuja impressão foi encerrada.
Sem contar os brindes-surpresa que vêm junto, no pacote. Certa vez recebi de um sebo, junto com a minha compra, um livro sobre conservação de alimentos. Esses dias ganhei um sobre meditação. Como não amar?
A Vida Secreta das Plantas é uma obra com a qual há muito queria ter contato. É o testemunho sobre a sensibilidade quase humana que as plantas têm ao que acontece no entorno, reagindo até mesmo ao que o dono está pensando a quadras de onde elas estão. Consegui o exemplar com a capa da artista plástica Vilma Pasqualini, a ilustração dos dedos segurando uma flor e esta, por sua vez, se apoiando nos dedos da pessoa. Peter Tompkins e Christopher Bird, Exped – Expansão Editorial, 1978.
Os únicos livros do Bill Mollison, criador da Permacultura, disponíveis na Terra, ou estão superfaturados ou ibernam em algum canto escuro da internet depois de escaneados e exportados. Nesse caso – além de ler o PDF –, eu leio o que se encontra disponível. Mário Sanchez tem um discurso inflamado em Permacultura Horta e Pomar, e não é para menos, eu entendo ele. Quando se tem informações valiosas que podem resgatar as pessoas da “Matrix” em que vivemos, queremos gritar para todo mundo ouvir. O livro traz uma linguagem acessível, com instruções detalhadas sobre como produzir um composto orgânico, ou como fazer podas, entre outros manejos importantes. Mário Sanchez, Imery Publicações, 1990.
O Soluções Sustentáveis | Uso da Água na Permacultura estava dando sopa e considerava importante ter uma obra para começar a estudar sobre a água. De um jeito didático, explica o beabá da água, como manejá-la no terreno, bem como o passo a passo para a construção de um reservatório de água da chuva, além de um açude, entre outros processos. Lucia Legan, Mais Calango Editora, 2007.
As duas obras na sequência são muito interessantes para observadores e admiradores do mundo natural. Porque não basta entender sobre os processos íntimos da natureza, é preciso perceber a beleza e os padrões que existem na superfície:
Symmetry | A Unifying Cencept faz um compilado das formas que encontramos a todo instante, tanto nas formações naturais quanto nas criações das sociedades. O livro traz a relação entre essas formas e os aspectos de design aplicados. A obra nos lembra de atentarmos para as belezas do nosso entorno que, muitas vezes, nem notamos. István Hargittai e Magdolna Hargittai, Shelter Publications, 1994.
O Poder dos Limites traz uma visão bastante técnica e fascinante de como as formas, tanto naturais quanto criadas pela humanidade, são elaboradas. Uma obra que descortina os padrões e as proporções que constituem a estética dos seres e das coisas. Gyorgy Doczi, Publicações Mercuryo Novo Tempo, 2012.
Meu Cão e Eu, obra datada mas que super cumpre com o objetivo de ler tudo que há sobre o assunto. O texto, bem-humorado, traz curiosidades sobre o mundo canino, além de um compilado de dezenas de doenças e como tratá-las. Um livro interessante para quem curte cachorro e quer saber, não somente o que há escrito sobre cães na literatura mas, também, o que já foi dito um dia sobre as nossas companheiras bolas de pelo. Ilustrações de James Thurber, que foi um aclamado cartunista do The New Yorker. Leon F. Whitney D.V.M., Sociedade Brasileira de Expansão Comercial LTDA (SOBRASEX), 1960.
Seguindo no mundo animal, Etologia | A conduta animal, um modelo para o homem? faz um compilado do comportamento dos animais e traz a beleza de cada espécie ser o que é. A textura das folhas lembram as antigas revistas e as fotografias vintage são demais.
Plantas Medicinais indica quais partes das plantas devem ser usadas e elenca os diferentes tipos de preparo dessas partes de acordo com o mal que se quer curar. Ok, eu confesso, adorei as ilustrações das plantas na obra de François Balmé. Desenhos vintage me ganham, não há muito mais que eu possa dizer diante de inúmeras opções hoje, atualizadas e voltadas às plantas no Brasil. Editora Hemus, 1978.
Sempre me interessei em compreender a natureza. Os processos e as belezas me intrigam e fazem de mim uma eterna aprendiz. Cada assunto é um universo em si e faz conexão com outros e, quando vejo, a lista de estudos só cresce. Criamos uma horta experimental no sítio e isso leva a estudar a Lua.
Fui aprender como plantar meu alimento e acabei modificando um tantão da minha vida, porque os conhecimentos adquiridos não ficam restritos ao sítio. Eles recriam o nosso jeito de viver, retiram os filtros diante dos olhos, nos fazem perceber a vida de uma forma diferente e geram novos hábitos.
Encontrei materiais gratuitos e corretos na internet, elaborados por profissionais e órgãos competentes nos respectivos assuntos. A internet também é ótima pelos registros de tentativa e erro das pessoas. É assim que a humanidade veio vindo: aprendendo com o erro dos outros – e com os acertos.
Mas esse conteúdo não me satisfaz por completo. É preciso adentrar nos livros para me aprofundar no tema, conhecer o histórico, saber de onde os conceitos vieram, obter a base para conseguir traçar meu caminho e descobrir ideias que não estão on-line. Livros são grandes professores.
E na era em que as pessoas só precisam parecer (parecer que entendem do que estão falando, parecer saberem o que é melhor, parecer conhecerem a verdade), os disseminadores de informações equivocadas se proliferam e a palavra impressa pode nos salvar. O livro ainda é um ponto de corte confiável, basta buscar saber quem escreveu, quem está por trás daquelas ideias para “escolher o bom grão”.
Alguns conteúdos eu leio no Kindle mas o prazer da leitura mora nas páginas que não emitem luz. Passo o dia em frente a uma grande tela, vez ou outra em frente à pequena do celular. À noite ou no final de semana eu só quero folhear concretas e opacas – por vezes amareladas – páginas impressas. Gosto de destacar frases, fazer anotações e, muitas vezes, insiro uma folha de papel com insights anotados, que a leitura acaba fomentando.
Essas foram algumas sugestões de leitura de sebo, espero que gostem.
E você, também adora livros vintage, usados, impressos – mesmo que novos? Deixa a gente saber aqui nos comentários ; )
Até a próxima publicação sobre as leituras que estou fazendo, também de livros novos, porque a natureza é fascinante e sempre tem coisa boa saindo sobre ela <3
Fotos e texto de minha autoria, Juciéli Botton, para a Casa Baunilha.
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