Plantar em vasos não é o ideal, pois as plantas que são parceiras cooperam umas com as outras – em detrimento das plantas opostas, que não devem ser plantadas juntas. Por exemplo: depois que inserimos batata-doce na horta que fizemos na casa dos meus pais, os temperos ficaram mais vistosos, maiores e se espalharam por todos os cantos. A batata, com suas raízes, abre caminho para o ar e a água que a vida no solo precisa, além de muitas outras benesses que proporciona.
Mas para começar uma horta na casa alugada os vasos eram nossa única opção. Não há terra onde possamos trabalhar com plantios, apenas um grande gramado, ou áreas com britas que fazem a cobertura de grandes dutos de drenagem da água da chuva. Além disso, os gatos dos vizinhos vêm fazer as necessidades no nosso pátio.
Começamos com alguns vasos no centro do gramado da frente de casa, elevados com tijolos para não ficarem à mercê da bicharada.
Funcionou por um tempo. Tiramos muita couve para as sopas de inverno, refogados e farofas. Salsinha e cebolinha sempre temperando as refeições. O espinafre não se desenvolveu plenamente. Conseguimos tirar algumas folhas, mas depois a planta não passou dos 5 cm de altura.
Além das plantas restritas em vasos, outro ponto contra a horta na frente de casa é que não há a possibilidade de meia sombra. As plantas pegavam todas as horas de sol disponíveis, gerando folhas amareladas, consumo de um grande volume de água, entre outros problemas.
Além disso, não tínhamos privacidade durante os processos de manejo. A casa está posicionada no fundo do terreno, deixando a área mais ensolarada para a frente da casa, visível aos vizinhos das laterais e a quem passa pela frente, na rua. O muro não é alto e não há um paisagismo que te deixe mais à vontade para as atividades.
Também cobríamos os vasos com uma pequena estufa plástica, que montei para proteger as plantas do frio e das borboletas e suas filhas, as lagartas. Os gatos sempre subiam sobre a frágil estrutura, estragando a estufa, por fim.
Passado um tempo, desistimos de plantar na frente e começamos um plano ousado de plantio atrás da casa, no estreito corredor que sobrava do terreno, de pouca luz e muita sombra.
Plantamos legumes que há muito queríamos ter, que adoramos e que são recordistas de envenenamento: pimentão e tomate. Também plantamos rúcula, uma das folhosas que adoramos, rabanete, e novas couves, além de continuarmos com os pés antigos delas. Também seguimos tirando salsinha e cebolinha dos mesmos vasos de antes.
Para quem considera coisa de outro mundo plantar a própria comida, pois acha que demanda muito trabalho, muita paciência, muito tudo, saiba que quem faz isso gosta justamente de passar por todo o processo (além de ter alimento de qualidade, óbvio). E na verdade, quem faz todo o trabalho duro é a própria planta. A gente só precisa aguar e, muito de vez em quando, adubar ou fazer podas.
À esquerda, a primeira tentativa de plantar alguma coisa diretamente no solo da casa alugada, no grande gramado da frente. Era bem difícil retirar a grama que há décadas se estabeleceu ali. Começamos com vários pés de manjericão, visando as flores para as abelhas. Os pés não duraram uma semana, comidos pelas formigas. À direita, o flagra da horta sob o ataque dos gatos que subiam na frágil estrutura da estufa, a segunda tentativa, ainda no gramado da frente, só que em vasos.
Hoje, na nova horta feita nos fundos da casa. Esta foto é um registro das rúculas bebezinhas. Antes disso, teve o momento do nascimento, e depois virá a fase de mudança no design das folhas. É muito interessante acompanhar o desenrolar dessa história, fazer parte de todas as etapas. O momento da colheita e do preparo do resultado de todo o trabalho, sentindo o sabor de tanta dedicação, é algo indescritível. É um dos melhores sentimentos que já experimentei.
Muito incrível acompanhar o desenvolvimento da nossa comida.
Rabanetes. A primeira vez que comi um rabanete orgânico entendi que ele não é amargo. O que confere o amargor são os venenos. E isso acontece com muitas hortaliças. A doçura do tomate, por exemplo, é cortada pela ação dos venenos. Geralmente, os tomates envenenados têm gosto de quase nada.
O pimentão verde nascendo de onde havia uma flor, em estágio de pimentão da Barbie de tão pequeno. Aqui, adaptamos algumas caixas plásticas de feira, forradas com plásticos reaproveitados para reter a água, e furados para o escoamento da água.
O que não pode faltar na horta é a gente. Observar as plantas é importante, não somente para o manejo mas principalmente para aprender. Quando as pétalas amarelas da flor do tomateiro caem, nasce um tomatinho. Bem à direita da foto, sobre o fundo escuro, há apenas as sépalas da flor que despetalou, de onde podemos ver surgir um minúsculo tomatinho.
Horta em vasos bem elevada para evitar a bicharada. Além dos gatos e das formigas, as lesmas e os caracóis são constantes na casa alugada. É preciso estar sempre de olho.
Regamos a horta à noite – ou pela manhã bem cedo. Então aproveitamos para conferir se há algum ataque por parte dos moluscos de hábitos noturnos.
Vale muito a pena plantar os alimentos. O importante é começar. E dá pra começar pequeno. Experimente com hortaliças de ciclo curto, que em poucos dias conseguimos colher alguma coisa, e vá ampliando na medida em que pega o jeito e estuda sobre o tema.
Fotos e texto de minha autoria, Juciéli Botton, para a Casa Baunilha.
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