Florianópolis,  Por aí,  Santa Catarina

Ribeirão da Ilha | Floripa

A placa da praça diz “Antônio Antunes da Cruz tinha razão. Não há coisa mais linda que seu Ribeirão”. E eu também fiquei encantada com a região – pra manter a rima, claro. Ribeirão da Ilha foi mais um lugar histórico que eu quis conhecer em Florianópolis no ano de 2018, mais precisamente em maio. Gosto de conhecer os lugares em baixas temporadas. E bota baixa, parecia que não tinha mais ninguém por lá. O que eu adoro. Mas não é por mal, não, gente. É que ver pessoas jogando lixo no chão acaba com o meu dia. Fotografar as casas antigas com um caminhonetão estacionado em frente me deixa de mau humor. O pessoal que fica duas horas fotografando em frente a um monumento até o último fio de cabelo sair alinhado na foto, sem considerar que tem mais gente nesse mundo, também pode acabar com o clima de férias. Então, chegar em Ribeirão da Ilha e reparar que só tinha nós por ali foi uma sensação das boas. Como fica de frente para a baía sul, as ondas são pequenas e calmas. Oferecem aquele barulho de água quase como o das fontes que muita gente tem em casa para criar um clima de relaxamento e paz. Imagina um carro estacionado bem ali com o som alto, estourando as caixas? Se você também desmaiaria só de pensar em não poder ouvir o som do relaxamento e da paz, minha dica é: vá em maio.

 

Além da tranquilidade, Ribeirão da Ilha tem não somente a beleza natural mas, também, aquela construída, que enche os olhos, pelo menos de gente como eu, que gosta de admirar as construções antigas, os detalhes da arquitetura açoriana e histórica. Dizem que foi em Ribeirão que os primeiros portugueses que chegaram à ilha de Floripa desembarcaram, em 1506. Um lugar com muita história pra contar, além da produção das melhores ostras – dizem os especialistas.

 

Calçadas estreitas, como em Santo Antônio de Lisboa e nas ilhas dos Açores, em Portugal.

 

Andando pelas ruas, me chama a atenção esta árvore de grande porte, em um dos acessos à praia.

 

Nela, uma tábua com o seguinte texto gravado: A minha história – Em janeiro de 1960 fui colocada aqui neste belo lugar pelo meu amigo Cide que me visitava todos os dias. Em 18 de setembro de 2011 Deus o levou para a eternidade. Descanse em paz meu amigo. Saudades!

 

Um bom lugar de sombra para curtir a beira mar e também escolher alguns suvenires. A concentração de conchas ali é grande.

 

Ao fundo, as fazendas de ostras. Muitas pessoas também aproveitam as águas calmas para a prática de caiaque e stand up paddle. E toda vez que digo “águas calmas” me refiro ao aspecto visual. Porque por baixo daquela calmaria eu não sei o que acontece. Sou a pessoa mais desconfiada para lugares com águas assim, seja praia ou rio. Pode estar tudo calmo na superfície e, mesmo assim, desconfio muito do que acontece nas camadas de baixo. Correnteza, repuxo, redemoinho, sabe-se lá. O ideal, antes de sair entrando, é sempre perguntar para quem é do local e entende do mar e das correntes dali.

 

E chega a melhor hora do dia, a que une passeio com gastronomia. Escolhemos o restaurante Muqueca da Ilha para o almoço. Entramos, fizemos o pedido e, quando soubemos que as mesas que ficavam do outro lado da rua, do bar à beira mar, eram do restaurante também, corremos para lá. Foi a melhor decisão que tomamos. Almoço com vista para a baía sul, para as montanhas e com o som da natureza tranquila. Não teve preço.

 

O bar e as mesinhas quase na água, do restaurante Muqueca da Ilha.

 

A escolha foi um espaguete com frutos do mar. Tantos dias comendo apenas peixe deu vontade de um carboidrato. Este prato creio que alimenta umas três pessoas.

 

É muito bom não precisar perder o mar de vista quando se vai almoçar.

 

A construção que avança sobre as águas é do restaurante Ostradamus. Na hora em que fomos almoçar não havia ninguém lá, e no Muqueca da Ilha tinha vários trabalhadores da região almoçando, o que deixou o local um pouco mais agitado. Isso contribuiu para a escolha do restaurante e talvez você também leve em conta quando visitar um lugar já tranquilo mas em baixa temporada. Pode parecer uma contradição quando digo que gosto de passear nos lugares turísticos sem muita gente mas, em se tratando de alimentação, prefiro a cozinha que está em atividade naquele momento.

 

Parece que o Ostradamos sempre teve suas paredes externas cobertas com azulejos interessantes. E no dia em que estive lá, encontrei um senhor que instalava as últimas peças dos novos painéis. Em um deles, duas mulheres, uma delas, sereia, fazendo renda de bilro e dando origem à Ponte Hercílio Luz. O barco no centro carrega o nome Ilha da Magia.

 

São vários painéis de azulejos, cada um retratando uma cena com elementos e personagens marítimos. Criação do artista Jesus Fernandes, que possui ateliê e loja ali mesmo, em Ribeirão da Ilha.

 

Esta é a vista quando caminhamos para além do píer do restaurante. Águas cristalinas, cadeias de montanhas, fazendas de ostras e o restinho do sul da Ilha de Florianópolis – além de uma porção do continente.

 

Continuando as andanças pelas ruas tranquilas, enquanto o artesanato não abre, chegamos à Praça Hermínio Silva, onde fica a Igreja Nossa Senhora da Lapa, cuja inscrição na fachada não mente a idade: 1806. Não estava aberta no momento mas era visível a beleza vinda das características típicas das construções açorianas.

 

Ao lado, a residência paroquial, seguindo o padrão arquitetônico da igreja.

 

O detalhe ondulado e contínuo sob as telhas da borda do telhado é tradicional nas construções das ilhas dos Açores.

 

Não me contive e registrei esta casa de cortinas rendadas e arbusto coberto de flores. Ela aparenta ser nova. Porém, totalmente dentro da estética arquitetônica açoriana, com as extremidades e as janelas pintadas de uma cor contrastante.

 

Assim como Santo Antônio de Lisboa, Ribeirão da Ilha termina logo ali, naquele morro. Aquela sensação de que o mundo termina ali mesmo, meio Show de Truman. Na próxima imagem, dois dos vários painéis de azulejos da casa laranja em destaque.

 

No topo de todos, um desenho simulando a renda de bilro. Lindos demais.

 

O que parecia ter sido uma janela foi fechado com azulejos.

 

E reparem no azulejo amarelo perto do telhado. Tem o desenho do Divino Espírito Santo. Isso é bem comum nas casas em Ribeirão da Ilha: colocar o Divino na fachada. Ele é muito importante e celebrado em toda a ilha, com festas e passeatas.

Mais um Divino.

 

São muitas as construções antigas de fachadas super trabalhadas, com arabescos e desenhos geométricos.

 

Nesta foto podemos observar melhor as calçadas estreitíssimas. Além das construções antigas.

 

Assim como em Santo Antônio de Lisboa, as lojas de artesanato abriram somente após o período do almoço – lembra que estamos em baixa temporada? Então já era hora de conferir a produção dos artistas locais. Uma das lojas que abriram naquela tarde foi a Lótus Artesanato. O atendente é uma simpatia que só, nos contou sobre a região, sobre Florianópolis e as histórias folclóricas da ilha, representadas em muitas das obras vendidas na loja. Uma delas são as bonecas em cerâmica do Boi de Mamão ou Bernúncia. O vendedor conta que numa época em que os recursos para se contar as histórias eram escassos, utilizavam o mamão para fazer a Bernúncia, e assim surge o Boi de Mamão. A versão da foto lembra muito a fruta mesmo, ocada e cortada para a abertura da boca.

 

Muitos Divinos nas paredes da loja, de todas as formas e materiais.

 

 

A sobremesa ficou por conta do Café Tens Tempo, um dos vários cafés por ali, mas talvez um dos únicos aberto naquele dia – além do Delícias da Freguesia Café. Olhando assim, de fora, parece uma casinha pequena e colorida. Quando entramos, descobrimos um mundo de coisas lá dentro.

 

À direita, um painel de azulejos representando a Santa Ceia, em uma versão com marinheiros. Muitas canecas penduradas, aviões de brinquedo e navios à vela.

 

Escolhi uma das Brisas do Conde, um doce com creme de ovos, nozes e amêndoas e com uma cobertura de chocolate. Mas olha, a cobertura de chocolate é bem fininha, ou seja, o volume dela é praticamente da massa do recheio. Muito boa e harmoniza muito bem com um café.

 

Há muitos outros produtos à venda no Café Tens Tempo, como peças cerâmicas. Eu, que faço cerâmica, não deixo de registrar.

 

Algumas com temática praiana. Adorei.

 

Outro espaço que conseguimos conhecer foi a loja e ateliê do Jesus Fernandes, o criador dos painéis de azulejo do restaurante Ostradamus, que mostrei algumas fotos atrás, além de outros trabalhos vistos pelo Ribeirão, assim como em outros lugares de Floripa. Achei lindo este mapa da ilha, que estava logo na entrada.

 

Esta casa tem apenas uma faixa de terra muito da estreita e que, mesmo assim, serviu para horta. Quem quer faz dar certo.

 

Pra quem gosta de vermelho, olha que legal os detalhes externos desta casa em destaque na cor, como as portas, o número e a caixa de luz. Para destacar, o restante ficou no branco.

 

São muitas as casas interessantes que fotografei em Ribeirão da Ilha. E para o post não ficar muito extenso, vou ficando por aqui e, numa próxima oportunidade, eu mostro.

 

E você, também gosta de conhecer os lugares fora do período das altas temporadas? Conta aí nos comentários. E até o próximo post sobre algum lugar interessante de Florianópolis.

 

Ah, não deixe de conferir o post sobre onde comer em Floripa.

 

Fotos e texto: Juciéli Botton para Casa Baunilha

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