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Abacate para um café da manhã sem a margarina: sobre hábitos e culturas

Fico maravilhada com o quanto somos capazes de mudar nosso gosto por comida, nosso paladar. Vocês também sentem isso? Na verdade, acho que o que se encaixa adequadamente no pensamento que vou elaborar é mais a cultura, a educação, do que o gosto, pura e simplesmente. Por exemplo, enquanto morei na casa dos meus pais, comia o que tinha sobre a mesa da maioria das casas brasileiras: margarina, passada no pão do café da manhã. É assim que somos criados, é assim que somos ensinados, é quase que natural.

No momento em que fui morar sozinha e, depois, com o meu marido, na medida em que tive mais acesso a informações sobre alimentação, passei a substituir muitos ingredientes e a eliminar alguns de vez. Como a margarina. Não compro margarina no supermercado. Maionese, então, nunca fui fã do gosto da industrializada, o que faz dela um item que nunca entrou na minha casa. Inclusive, tem um episódio com relação a isso. Uma amiga levou torta fria para a hora do café no ateliê que frequentamos, e que estava maravilhosa. Elogiei perguntando se ela mesma tinha feito a maionese, ao que ela me responde que não, era a pronta de supermercado, “daquela marca famosa” disse ela. Fiquei chocada com o fato de que a maionese não tinha gosto de industrializada, e todos ao redor imediatamente: “faz tempo que ela não tem mais esse gosto!”. Ou seja, reparem na minha desatualização quanto a maioneses prontas.

Muito antes do abacate se tornar uma celebridade no Instagram, em casa nós o usávamos como a gordura a ser espalhada sobre o pão, fosse no café da manhã ou para algum lanche. E isso aconteceu por meio da experimentação. Porém, por muito tempo, e mais uma vez por causa da cultura na qual fui criada e acostumada – como muitos brasileiros – o abacate era aquela fruta que a gente amassava um pouco (eu gostava que ficasse alguns pedacinhos, nunca gostei dele batido), acrescentava açúcar cristal (nunca o refinado) e comia como sobremesa ou quando a vontade por um doce era grande. Só que, uma vez experimentando guacamole, o prato mexicano, revi meu conceito sobre como um abacate devia ser usado. Vi que, na verdade, não havia regras, não havia limites. Quer dizer, na quantidade sim, porque é super gorduroso.

Então ele foi parar no pão do café da manhã – quando comemos pão, pois não é sempre – substituindo qualquer outra gordura industrializada que pudéssemos colocar. Em vez de maionese, margarina, manteiga, azeite de oliva, geleias rigorosamente açucaradas, requeijão e outros, usamos algo que sai diretamente de uma árvore, sem qualquer interferência da indústria.

Isso é tão libertador. Me sinto tão segura de que estou fazendo algo bom para a minha saúde. É a prova de que a natureza nos fornece tudo de que precisamos, ela resolve todos os nossos problemas, até o desejo por algo gordurosinho espalhado no pão (isso da natureza me fez lembrar do episódio sobre a pele do meu rosto, quando a dermatologista proibiu qualquer produto para limpar, me recomendando: água. Apenas água. Ai, natureza, sua linda).

Em termos de gordura para cozinhar e preparar refeições, hoje a minha vida funciona assim:

  • na panela, seja para o que for, um curtíssimo fio de azeite de oliva extravirgem;
  • abacate amassado no guacamole, na tapioca aberta, no sanduíche, e em cremes e molhos para acompanhamento;
  • um fio de azeite de oliva extravirgem também no pão, quando não há abacate;
  • 1/3 de uma colher de café de banha de porco para temperar o feijão;
  • quando o prato pede uma maionese, como o salpicão, fazemos uma de leite, com óleo, leite integral, alho e salsinha, ou rúcula – para mais uma camada de sabor;
  • e já usei biomassa de banana verde feita em casa para engrossar molhos no lugar do creme de leite, até no estrogonofe – o gosto não muda em nada!

Nunca fazemos fritura em casa, seja as de imersão (não consigo nem pensar nisso) seja com aquela altura de um dedinho de óleo na panela. A gente deixa a fritura para quando formos comer fora, e se ainda for o caso.

Para este café da manhã, usei pão francês, abacate amassado e preparado com um pouco de sal e limão, queijo colonial e salsinha. E suco de abacaxi para beber.

 

Acho que usar o abacate no lugar da margarina e de outras gorduras, no café da manhã, me fez repensar a gordura como um todo, usada em todos os pratos que preparo, em todas as refeições. O fato de me nutrir de algo tão natural na hora do café me fez buscar outras alternativas e reduzir as quantidades de gordura na hora de preparar as demais refeições. E isso se reflete, ainda, quando como fora de casa. Acabo fazendo escolhas bem diferentes.

E você, já rompeu com alguma cultura de paladar e substituiu de vez um ingrediente na vida? Conta aí nos comentários.

 

Fotos e texto: Juciéli Botton para Casa Baunilha

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