Pela segunda vez, fiz o trajeto Porto Alegre–Curitiba de carro. Achei interessante compartilhar o percurso com quem também tem interesse em rodar pelas lindas estradas entre o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.
A ideia original era ir até São Paulo, capital, mas devido às notícias sobre um novo vírus circulando pelo mundo (ainda sem casos confirmados no Brasil), e São Paulo recebe todo o mundo, restringimos a viagem até Curitiba.
SAÍDA
Quando tenho a oportunidade de escolher quando vou sair para viajar, escolho um dia que não seja final de semana, neste caso, uma segunda-feira, no horário mais cedo possível para aproveitar ao máximo a claridade do dia e percorrer as estradas com mais segurança. Em caso de férias, procuro tirá-las em baixas temporadas, cujo movimento nas estradas é menor – e também porque os preços ficam absurdamente mais baratos.
O percurso começa pela BR 290 (Freeway) até Osório.
• Pedágio em Gravataí: R$4,40
Quem aí também dá falta do Madruga? Para quem não passou por este trecho na época, havia um letreiro da empresa “Madruga” naquele morro, inspirado no de Hollywood, com letras brancas, grandes e independentes. Meus avós moravam em Tramandaí e passei por ele durante trinta anos. É engraçado olhar para o morro e não vê-lo mais.
• Pedágio em Osório: R$8,80
PARADA PARA O ALMOÇO
Paramos para almoçar em Osório. Sugestão: Restaurante Barreto, com buffet livre a R$21,90. Aquela comida honesta: arroz, feijão (maravilhoso), carne e salada. Tinha, também, opções de massa, lasanha, friturinhas e carnes. Rua Quinze de Novembro, 140, no centro da cidade, próximo à rodoviária.
Deixando Osório, passamos a rodar sobre a BR 101. E a paisagem fica interessantíssima, com morros de todos os formatos e alturas e estâncias belíssimas.
• Pedágio R$4,40
PERNOITAR É PRECISO
Há quem percorra distâncias ainda maiores indo direto, sem parar para dormir. Não recomendo. Já tive uma experiência assim, só que voltando de Curitiba para Porto Alegre e não é nada legal. E detalhe: eu vou de carona, quem dirige é meu marido. Então imagina o cansaço para quem está no volante.
O ideal é dormir no meio do caminho. Calculamos mais ou menos onde ficaria esse meio, distribuindo bem as horas de viagem entre uma capital e outra, e escolhemos parar entre os bairros Kobrasol e Capoeiras, em Florianópolis. O objetivo era pernoitar perto da estrada para, no dia seguinte, retomarmos o caminho cedo da manhã, sem se envolver em possíveis tranqueiras que se criam no trânsito dentro da cidade.
Outro fator para pararmos e dormirmos no meio do caminho é que, não sei pra ti mas, para mim, o deslocamento em si é tão importante quanto o destino. Gosto de parar nos locais que acho interessantes e ir aproveitando a paisagem. E parar para dormir durante a viagem também pode proporcionar outros passeios. Um deles foi pela Praia da Vila, em Imbituba. Lugar muito lindo onde pudemos esticar as pernas antes de chegar ao hotel.
Um registro da minha visita a Imbituba. Vale ou não vale a pena curtir, também, o caminho e não somente a chegada?
Gostei de ficar por ali, entre o bairro Kobrasol e o Capoeiras, porque ficam próximos à rodovia e a uma boa estrutura, como restaurantes e a praça da Arena Multiuso São José, com vista maravilhosa para a orla e espaço para aproveitarmos o chimarrão ou para uma caminhada ao final do dia, depois do check-in no hotel.
JANTAR
Recomendo o restaurante Bokas Kobrasol. Atendimento excelente e ambiente simples. Bem praia, eu diria. Tudo deu R$83,70: uma parmegiana de filé para duas pessoas, batatas fritas de acompanhamento, jarra de suco de limão e todos os clientes tinham, incluído, o buffet com saladas e outros pratos – de onde pegamos o arroz para comer com o molho da parmegiana.
RETORNO À ESTRADA
Tomar o café da manhã no hotel facilita por não termos que parar na estrada para comer. Além de ser ótimo para economizarmos, pois antes gastar comendo na cidade de destino do que em todos os lanchinhos na estrada reunidos – embora os lanchinhos nas estradas tenham o seu valor, aquele pastelzinho, aquele misto-quente cheio de queijo, aquele caldo de cana bem gelado… Mas prefiro deixar para a volta, como uma compensação por estarmos nos despedindo (cada um com a sua estratégia).
• Pedágio Porto Belo: R$2,70
É muito interessante observar as nuances das vegetações nesta viagem. Na verdade, é o que mais me motivou a escrever este post, porque não costumo ficar ligada ao celular durante a viagem, por exemplo. Eu me ligo muito na estrada, gosto de estar atenta junto ao meu motorista e ir comentando sobre o que vai surgindo. E como a natureza do percurso é linda, presto atenção e percebo as mudanças que ocorrem e que entregam onde estamos, praticamente sem precisar de placas indicativas. Em Santa Catarina, temos plantações de coqueiros, bananeiras e palmeiras, aquele visual típico de praia, esta revelada em alguns pontos da estrada (como na próxima foto). As “fumaças” entre os morros criam uma atmosfera cênica. Na medida em que nos aproximamos do Paraná, tudo muda. Mas conforme formos avançando eu descrevo.
Um pedacinho de praia aparece de repente na estrada em Santa Catarina.
Na estrada entre Santa Catarina e Paraná, dividimos espaço com dezenas de caminhões e carretas. Muitos, inclusive, buzinam alto, talvez até para cumprimentar os colegas de profissão, mas que acaba gerando aquele mini enfarto. Sem mencionar as ultrapassagens, ultraperigosas.
Quando passamos pela ponte em Tijucas, percebemos, na direita, uma rua à beira do rio cheia de casarões antigos. Sei que por ali tem um museu. Numa próxima vou parar para conhecer. E na sequência, ainda em Tijucas, passamos pela gigante fábrica da Portobello. Ao longo da estrada, vários outlets de marcas de roupas e calçados.
Em Itapema, não deixe de reparar no contraste entre os prédios altos e grudados um no outro, à direita da estrada e, do outro lado, um paredão verde de uma mata que parece intocada.
Se você estiver com tempo, pode fazer o percurso pela Interpraias e não pela BR. Eu já fiz este trajeto, é belíssimo. Em uma próxima publicação, posso mostrar como é.
Não deixe de reparar nesta transição que é mais um choque: estamos rodeados de morros cobertos com mata densa e fechada e, de repente, surge uma selva de pedra. Camboriú. Não é exatamente o que visualizo quando penso em praia. E como podemos ver pelos guindastes, não param de construir. Alguns prédios são tão finos e altos que parece que sucumbirão a uma brisa.
Em Itajaí, na altura do porto, vemos grandes braços robóticos levantando container como se não fosse nada e aviões fazendo a curva em direção ao Aeroporto Internacional de Navegantes. Como pode ver, muita coisa acontece no caminho. Garanto que não haverá tédio para quem presta atenção.
• Pedágio Barra Velha: R$2,70
O barco pirata surge de repente na estrada. Outra coisa em que reparo é que há vários museus ao longo da estrada relacionados à vida marinha e portuária. As placas indicam.
Viajar em uma estrada com a qual não estamos acostumados é sempre tenso. Ao lado de caminhões e carretas velozes e furiosos, é o dobro de tensão. Sob o mau tempo é insano. Mas para quem respeita os limites de velocidade e assume uma direção defensiva, as chances de tudo correr bem são grandes. Por isso é tão importante dormir em alguma cidade no meio do percurso, para estarmos bem descansados e com atenção total na estrada.
A serra entre Santa Catarina e Paraná é muito, muito, mas muito linda. O que tem de perigosa tem de exuberante. Os morros não nos abraçam, eles praticamente sufocam, ficam bem em cima da gente e muitos chegam a alturas que as nuvens não deixam revelar. Também é muito interessante perceber, novamente, as mudanças na paisagem. As estâncias de Santa Catarina com seus coqueiros, palmeiras e bananeiras começam a receber esses morros gigantes, até que ficamos apenas na companhia deles, e dos caminhões e das carretas. Às vezes nos sentimos deslocados pois o nosso parece ser o único veículo de passeio por ali.
As árvores lilases fazem parte de todo o percurso na serra, às vezes tomando conta de morros inteiros.
De repente, começa uma nova transição de paisagem incrível. É fácil perceber quando entramos em território paranaense porque saem de cena as bananeiras, coqueiros e palmeiras, aquele visual praiano, e entram os pinheiros e as araucárias, estas símbolo do estado do Paraná. A gente praticamente não precisa de placa, a natureza tem o seu jeito de avisar onde estamos.
As araucárias começam a surgir e sabemos exatamente de onde nos aproximamos. E pouco antes de entrarmos no Paraná, a BR 101 vira BR 376.
Muitas araucárias. As fêmeas têm seus galhos todos voltados para cima, bem organizados. Os machos são bagunçados, com extremidades crescendo para todas as direções e sentidos.
Aqui, uma floresta densa só delas. E em primeiro plano, o capim-dos-pampas, a planta “espanador”, muito usada para decorar. Fiz uma postagem especial sobre ela.
• Pedágio quase em Curitiba: R$2,70
O icônico conjunto de edifícios Cruzeiro do Sul, no bairro Jardim Botânico, dá as boas vindas a quem chega em Curitiba.
ALMOÇO NO MERCADÃO
Pronto, chegamos sãos e salvos em Curitiba. E se eu puder fazer mais uma indicação de almoço/café da tarde, dependendo da hora em que se chega: Pastelaria Curitiba. Como o pinhão é o alimento símbolo do Paraná, não deixe de saborear um dos maravilhosos pasteis com a iguaria. Escolhi o de carne-seca com pinhão e caldo de cana para acompanhar. Adoro os mercadões como ponto inicial para conhecermos uma cidade, ou até mesmo quando retorno, como foi o caso, por ser um espaço imerso na cultura e nos costumes da cidade, refletidos na culinária também.
Para que esta postagem não fique mais longa do que já é, numa próxima compartilharei a volta de Curitiba a Porto Alegre. Entre outras publicações com os lugares que visitei e onde comi. Tudo muito bom, como Curitiba sabe oferecer.
Fotos e texto de minha autoria, Juciéli Botton, para a Casa Baunilha.
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