• Crônicas,  Vida e Carreira

    Linda é a mãe

     

    Faz tanto tempo que quero escrever sobre isso. Desde os meus, talvez, sete anos. Pois é, eu sei, uma menina, no início dos anos noventa, não pensaria que precisa exorcizar um problema escrevendo publicamente sobre ele. Mas digamos que sim porque na tenra idade eu já me sentia muito incomodada com isso.

    Era a festa do meu aniversário e meu pai tinha uma filmadora portátil que generosamente me deixava manusear. Lá pelas tantas, tive a brilhante – e, mais tarde, revelando-se fatídica – ideia de pedir aos convidados que dissessem uma mensagem à aniversariante, gravada por mim, claro.

    O primeiro convidado disse que eu era uma menina muito linda. O segundo falou da minha beleza. O terceiro contou que me achava muito bonita. O quarto: “ela é linda”. E assim por diante.

    Visualizem uma criança, um ser com ralos conhecimentos de vida, entristecida com elogios como esses, uníssonos, a ponto de uma adulta nunca ter esquecido. As crianças percebem e sentem, sim. E algumas experiências conseguem se perpetuar nas caixas pretas do nosso inconsciente porque também são reforçadas por novas, reunindo e calcificando as tristezas por semelhança.

  • Crônicas,  Vida e Carreira

    Quanto os comentários negativos nas redes influenciam as tuas escolhas?

    Isso deve acontecer com muitos de vocês também: estabelecer uma relação com um lugar antes mesmo de conhecê-lo pessoalmente. Assim aconteceu com o Z Deli. Assistimos a um programa em que o dono da rede não somente explicou sobre a origem do negócio como também mostrou como era feito o famoso pastrami. Ali teve início uma relação com o restaurante que o fez entrar para a nossa lista de lugares onde queríamos comer em São Paulo.

    Pois já na cidade, procurando pelo endereço para nos programarmos para sair, vimos vários comentários negativos sobre o estabelecimento. Vários não, muitos. Que o ponto da carne vinha errado, que o atendimento não era legal, entre vários outros aspectos. Confesso que ficamos balançados pois não é um lanche que sairia por dez pilas. É um bom dinheiro investido numa refeição e ninguém quer jogar dinheiro fora. Ficou um clima de desistência no ar até que batemos o martelo: não tínhamos idealizado uma refeição e chegado até Sampa para desistirmos. Decidimos que atestaríamos por nós mesmos qual era dessa experiência. E foi maravilhosa. Não sei pra vocês mas, pra mim, considerar bom um restaurante não depende somente da comida em si mas, também, da experiência como um todo.

  • Guarda-roupa,  Por aí,  Porto Alegre,  Rio Grande do Sul,  Vida e Carreira

    Comprinhas pelos brechós da João Pessoa em Porto Alegre

    Brechó, pra mim, é aquele que vende roupa BARATA. E em Porto Alegre é na Avenida João Pessoa que se concentram muitos deles. Eu noto que são meio desacreditados por uma parcela da população e por isso quero trazer, nesta postagem, as peças que eu garimpei nesses brechós bons e baratos. Além da oferta incrível de boas peças e preços daqueles com que a gente sonha, a maioria ainda aceita negociar preços (com exceção de um).

    E como se não bastasse, ainda nos deixam bastante à vontade para olhar e provar as peças. Nada mais chato e frustrante do que entrarmos em uma loja que se auto-intitula brechó, descobrir que os preços são salgados e ainda por cima o vendedor fica em cima da gente, abrindo a cortina do provador, muito invasivo, querendo entrar junto e saber como a roupa ficou, insistindo para levarmos algo a todo custo. Repito: sempre fico bastante à vontade nos brechós da João Pessoa, e em alguns ainda me divirto muito com o humor dos vendedores.

     

    • BRECHÓ LE REJI | Av. João Pessoa, 1244

    As gurias são muito queridas e me deixaram muito à vontade. Ninguém abriu a cortina do provador, ninguém quis ver como ficou, nada.

    B L U S A  D E  V E L U D O | R$ 20 | Eu não resisto a uma peça de veludo e ainda adorei a estampa. Não sou uma pessoa de roupas rosas, mas este rosa antigo específico achei que ficou muito incrível como fundo para as plantas. Gosto de usar por dentro da minha calça jeans velha de cintura alta, fazendo um visual high-low. Desapego: uma vez que esta blusa entrou no meu guarda-roupa, outra saiu para ser doada. No meu armário é assim: só entra peça nova se uma outra sair.

  • Pela web,  Por aí,  São Paulo,  Vida e Carreira

    As voltas que a Internet dá: desvendando o set da série Edifício Paraíso

    Adoro bancar a agente do FBI para descobrir locações de filmes, séries e afins. Mania que vira uma verdadeira jornada e que proporciona descobertas para além do que eu queria desvendar. Quem nunca embarcou numa viagem só de ida pela Internet para nunca mais voltar ao ponto de partida?

    Depois que a Fernanda Young tragicamente se foi, uma das escritoras que mais gostava, tive vontade de rever a série Edifício Paraíso. A trama mostra, madrugada adentro, cinco casais em seus respectivos apartamentos tendo, simultaneamente, aquela grande briga que todo casal tem.

  • Crônicas,  Vida e Carreira

    2 filmes que valem a pena e 1 que não

    Este post contém spoiler. Claro. Não há como ser crítico sem revelar alguns pormenores. Assisti a três filmes nos últimos tempos e gostaria de recomendar dois deles. E se me dá alegria sugerir coisas boas, igualmente me alegra alertar sobre as que não valem a pena o investimento. A foto é do filme Dor e Glória.

  • Crônicas,  Vida e Carreira

    Comer fora de casa: precisamos nos dar ao respeito

    Há muito acompanhava os preparativos para a abertura de um lugar aqui em Porto Alegre que vou chamar de restaurante, embora seja um empreendimento daqueles que reúnem características diversas, de bistrô, bar, lancheria, casa de tapas, set pra foto no Instagram, etc. A estratégia do estabelecimento foi compartilhar, via redes sociais, tudo que já acontecia a portas fechadas, somente para os mais chegados. Se por um lado isso criou expectativas positivas em alguns, por outro, confesso, iniciou um pequeno ranço em mim, como dizem hoje. Mas vamos lá, vamos mostrar um pouco de disposição (mais do que já demonstro?) para com a nossa capital, que tenta ser um lugar para empreender, embora os fatos e seus respectivos números demonstrem o contrário.

    Finalmente, o espaço abre para o público e sem nem precisar me deslocar, chega até mim a informação de que quatro petit brusquetas custavam mais de 40 reais. No palavreado da minha avó materna, petit seria traduzido para cachochinha, aquela porçãozinha minguada que não tapa nem o buraco do dente. Então, quatro cachochinhas subtrairiam quarenta e mais alguns reais da sua, da minha, da nossa carteira. E isso seria só a entrada.

  • Crônicas,  Vida e Carreira

    Quem se comunica se complica

     

    Sou só eu ou vocês também não estão conseguindo se fazer entender? Às vezes tenho a sensação de que estamos em uma grande festa com música no volume máximo, em que um fala “Eu acho que o Clint Eastwood devia ter sido indicado ao Oscar” e o outro responde “Pois é, eu preferia o Bial apresentando”. O que se passa? O que eu perdi?

    Tenho certeza absoluta que, no ano de 1923, nenhuma pessoa reclamava do sistema de comunicação. Nenhuma. Eu garanto. Coloco a minha mão no fogo. A galera em 1923 marcando rolê via pombo correio, super feliz, e eu aqui, bem servida de tecnologia, apps e jogando a toalha já. É como estava escrito em um meme: nessas horas eu queria que a Terra fosse plana para eu poder pular da borda.

    Sério, o que está acontecendo? Gente que me conhece parece não saber mais quando estou brincando. Ainda mais agora que qualquer assunto se tornou politizado. Se você está descontente com alguma coisa, com o preço da batata, por exemplo, e comenta sobre isso, recebe uma resposta embalada pelo sentimento guardado da chinelada que a pessoa levou em 1980 do pai. Ou, eu posto sobre o vidro do meu carro quebrado por vândalos e as pessoas comentam “Linda”. Sério, vamos voltar à aula do ensino fundamental sobre interpretação de texto, a capacidade de compreender do que o outro está falando.

    O fato é que, no mundo da comunicação, ela não é o que você diz mas, sim, o que os outros entendem. E do jeito que a coisa vai, com as pessoas respondendo a outras doze ao mesmo tempo, enquanto curtem trinta e cinco fotos simultaneamente, no mesmo segundo em que dizem para o motorista “Pode ir pela Getúlio”, não vejo um futuro bonito à frente. E diante desse cenário, tenho duas alternativas: ou eu tento me comunicar com as pessoas ou eu fico em paz com elas. Já percebi que querer as duas coisas é muita ganância.

  • Crônicas,  Vida e Carreira

    Um produto é um produto. Sobre carnaval, consumo e consciência

     

    Uma amiga estava decepcionada porque “teria de poluir” o planeta para pular o carnaval brilhosa, pois os glitters ecológicos estão muito caros. Ela tinha pesquisado e, avaliando as poucas ofertas no mercado, não conseguiria bancar. Daí, tentando consolar minha amiga, eu disse “tudo bem, tu vai usar um pouquinho só, tem gente que praticamente se deita em banheira de glitter antes de sair de casa. E também tem outra”, segui dizendo, “tu tem tantas atitudes não poluentes que eu sei que tu faz. Elas só não estão registadas e disseminadas no Instagram, só isso”. O que fez ela se dar conta que nunca foi uma pessoa do glitter efetivamente. Ela sempre preferiu colocar uma fantasia e caprichar na maquiagem. E só começou a cogitar usar o produto depois de ficar exposta a tantas imagens lindas de foliões felizes, cobertos com glitter ecofriendly.

    Então, a partir disso, comecei a pensar que uma parte do movimento lixo zero vem atrelada, sim, ao consumo. A indústria do lixo zero way of life atua da mesma forma que a indústria tradicional, fazendo a gente consumir esses produtos para nos sentirmos parte, nos fazendo achar que estamos por fora se não temos, nos induzindo à compra de produtos que talvez não consumíssemos nem na versão tradicional. A indústria de um modo geral, seja ela de que bandeira for, trabalha com o desejo das pessoas, com o status social, com o sentimento de pertencimento.

    Prova disso é que há uma série de atitudes amigas do planeta que não são louvadas porque não estão atreladas a produtos. Pessoas que optam por não ter filhos – seja lá pelo motivo que for e só cabe a elas – e que, por consequência, não estão poluindo nem extraindo recursos do planeta, não são ovacionadas, postadas, entrevistadas, vestidas por grandes estilistas e premiadas porque não há produtos atrelados a elas. Não existe Ei, você, que não tem filhos, compre o maravilhoso…”. Não há.

    Outro exemplo: pessoas que não usam qualquer tipo de canudo também não são destaque nas mídias. Porque bom para o planeta, mesmo, é não comprar o de plástico, nem o de vidro, nem o de inox, nem o de papel. O legal é não consumir. Os canudos de vidro, de inox e de papel precisam

  • Crônicas,  Vida e Carreira

    Livro infanto-juvenil dos anos 80 sobre o carnaval

     

    Este livro me acompanhou pela infância. Minha mãe, professora de alfabetização, levava à escola para contar a história às crianças. E isso aconteceu até o dia em que reconheci a riqueza artística dele e resolvi guardá-lo para o momento de compartilhá-lo no meu blog na grande rede mundial de computadores – imagina!, não tinha nenhuma perspectiva disso tudo acontecer naquela época. E agora, que estamos esquentando os tamborins para a época em que podemos respirar um pouco para conseguir continuar vivendo, nesse país que podia ser tão melhor mas que em apenas poucos dias de 2019 tem oferecido muita tristeza, achei que era a hora de compartilhar o livro. Fiquemos com a alegria das crianças, então, e com a história de união, amizade e as ilustrações incríveis de Tenê.

     

    O livro que tenho em mãos é a quarta edição da história A Fantasia, de 1983, integrante da série Um, Dois, Feijão com Arroz, de 10 livros, da Editora Ática, São Paulo. Algumas páginas estão faltando e, em minha defesa, declaro: não fui eu! Mas a falta delas não compromete em nada a compreensão da história.

  • Pela web,  Vida e Carreira

    Pela web #6 | Quatro perfis de trabalhos artesanais incríveis

     

    Dizem que não há nada mais artesanal do que a tecnologia. E o pior é que é verdade. O homem teve de fazê-la do zero. Porém, os trabalhos manuais como o bordado, a pintura, a costura e a carpintaria (assim como a cerâmica) nunca estiveram tão em alta. Eis uma seleção de 4 perfis do Instagram, dentre milhares, de artistas que resgatam a magia do artesanal só que em níveis que ultrapassam o capricho.

    Maré do reaproveitar | O primeiro post que vi de uma arte da @kirstyelson eu achei que se tratava de uma paisagem real à beira mar, uma vila de pescadores. Até que fui entendendo que se tratavam de miniaturas feitas de madeiras e outros materiais reaproveitados, que ela também usa para criar animais marinhos, entre outros. Adoro o entusiasmo dela a cada postagem, como quando descobriu que conseguia fazer uma foca com madeiras reaproveitadas.

    Bordado “não acredito”| Foi o que pensei quando vi o trabalho da @eira_teufel. “Não acredito nesse nível de detalhamento”. Ela borda os rostos de pets a pedido dos donos, claro. Tem gente que usa como pingente. E tem tantas outras coisas “não acredito” lá.